“A vida é sofrimento, é dura, o mundo é amaldiçoado as pessoas são amaldiçoadas, mas mesmo assim achamos uma razão para viver!” – (Princesa Mononoke)
O Estúdio Ghibli (ジブリ), no mundo ocidental apelidado de Disney Japonesa, é um estúdio japonês de animações, fundado em 1985. O estúdio, no entanto, é muito, muito mais que uma versão oriental da Disney.
Seus filmes são famosos mundialmente, e recebem aclamação mundial da crítica e do público. Hotaru no Haka (o túmulo dos vagalumes (1988)) é comumente considerado pela crítica especializada como um dos melhores filmes de guerra já feitos e A Viagem de Chihiro (2001) é o único filme de língua não-inglesa a ter ganhado o Oscar de melhor filme de animação. O texto de hoje procura discutir sobre o sentimentalismo e metáforas dos filmes do estúdio, usando principalmente os filmes mais famosos, como A Viagem de Chihiro e Túmulo dos vagalumes.
O que mais me encanta no universo é exatamente toda essa emoção que eles conseguem trazer em animações universais e poéticas, desde o roteiro ao visual do filme. Apesar de serem histórias de personagens japoneses, o mundo inteiro consegue se conectar. Sabemos que infelizmente o ocidente ainda têm um preconceito gigante com materiais do oriente, como se fosse um universo completamente diferente e incompreensível. A barreira que o ghibli quebrou é de fato gigante e uma conquista espetacular. Até a audiência que não gosta de animes ou considera-os (erroneamente!) algo ruim acaba se rendendo à magia e universalidade que é proporcionado.
Começando com Chihiro, acredito que o filme mais famoso na história do ghibli, mesmo sendo uma história completamente fantastica, a trama resume se em uma garota tentando reencontrar sua casa e tentando sobreviver no meio do desconhecido. Obviamente os elementos fantásticos moldam e dão força à história, mas ela é muito alem de magia. A universalidade da história faz com que ela possa ser apreciadas por todas e todos, tanto crianças, que vão amar a protagonista e toda a magia do filme, que de fato é linda, e torcer pelo bem de Chihiro, quanto para adultos, que vão entender as metáforas por trás e vão se identificar, e se apaixonar ainda mais pela história. Não há maneira melhor de descrever esse filme além de obra-prima. Essa capacidade do estúdio de conseguir se conectar com o universo particular de cada um de nós em suas respectivas idades é o que me faz amar tanto esse mundo. Algumas das metáforas que o filme apresenta incluem a grande necessidade de consumo do ser humano (a cena dos porcos no restaurante), além de metáforas que representam a ganância, a arrogância, a avareza humana, e até mesmo, o desrespeito ao meio ambiante. A ganância leva aquilo que era bom, em uma força totalmente descontrolada, e Chihiro é a única que não se deixa levar por impulso, o qual, afetou as demais pessoas nesse universo paralelo. Existe uma teoria de que o kaonashi (sem rosto), do filme é um humano preso no universo, e outras teorias como a de que ele é uma alma que trata as pessoas da forma que elas tratam os outros, sendo esse exatamente o motivo pelo qual ele gosta de Chihiro, que é doce e inocente. Na minha concepção, um dos maiores feitos que um filme pode alcançar é exatamente essa grandeza de terem fãs teorizando e discutindo aspectos que não necessariamente estão explícitos na narrativa do filme, e Chihiro consegue isso com maestria, mesmo 18 anos depois do lançamento.
Agora falando especificamente de O Túmulo dos vagalumes, ou Hotaru no Haka, outro filme extremamente aclamados do estúdio, aqui o sentimentalismo fica tão forte que transborda. Sendo considerado um dos melhores filmes de guerra da história, conta a história de dois irmãos durante a Segunda Guerra Mundial tentando sobreviver em meio ao caos e a morte, sem censura nenhuma em mostrar todos os horrores trazidos pela guerra. Como sabemos, a herança histórica que a segunda guerra mundial – principalmente as bombas atômicas – deixaram no Japão são enormes. Sendo assim, existem vários filmes, desenhos, livros… todo o tipo de mídia possível que retratarm essa tragédia. Ainda sendo parte da comunidade japonesa, no mês de agosto existe o período do obon (お盆), uma especie de período dos finados, e há uma homenagem às vítimas das devastadoras bombas atômicas e reforçando a promessa do Japão e seu compromisso com a paz.
O festival das lanternas e é comemorado entre os dias 13 e 15 de agosto e segundo as crenças budistas, é marcado pelo retorno dos espíritos dos antepassados às suas casas para reunirem-se com suas famílias. No dia 15 de agosto se comemora o fim da guerra, com um evento anual e discurso do governo e homenagem aos soldados e vítimas do horror da guerra.
Em conclusão, o filme é uma grande explicação sobre os sofrimentos dos civis na guerra, sem ser arrastado e sim extremamente pessoal e definitivamente não é um filme para crianças, mostrando a capacidade das animações de tocar no mais profundo dos nossos sentimentos podendo ser tão poderosas e impactantes quando filmes de gente grande e não apenas entretenimento barato para crianças se distraírem e darem risadas. É possível construir laços com os personagens da trama e se emocionar (para não dizer chorar devastadoramente do começo ao fim do filme inteiro). Outra obra prima.
O estúdio ghibli portanto carrega um sentimentalismo gigante, e como todo filme japonês puxado ao sentimental, é sutil e gritante ao mesmo tempo, ou seja, não é pra confundir sutileza com superficialidade. Não é algo que grita CHORE AGORA NESSA CENA e sim algo que vai abrindo devagar o seu coração até você estar em posição fetal chorando e refletindo sobre a existência. É repleto de obras primas que você com certeza não vai se arrepender de assistir (só recomendo o lencinho sempre!). Desde filmes inocentes como Ponyo, O Serviço de Entregas da Kiki – um dos meus favoritos – à filmes adultos e densos como O Túmulo dos vagalumes, o estúdio entrega filmes de diversas nuances a para absolutamente todos os gostos, nos fazendo acreditar e se emocionar com a magia do audiovisual de forma forte (e eu já disse chorar???). Recomendo fortemente todos os filmes, com destaque especial aos citados aqui, meu vizinho totoro, mononoke hime e absolutamente todos os outros.
Por hoje é isso, pessoal. Espero que tenham gostado e se aprofundem mais ainda nesse universo. Ele é sensacional, você não vai se arrepender. Qual seu filme favorito do estúdio?
– Não, a vida é preciosa porque sabemos que vamos morrer, você não tem medo da morte, você tem medo da vida!” (Reino dos Gatos)