No mês passado recebemos da Editora Panini Comics um pacote recheado com algumas HQs recém lançadas da DC Comics. Confira o que achamos de cada uma delas:
Aves de Rapina (2020)
Escrita por Brian Azzarello, conhecido por 100 Balas e Batman Dark Knight III, e desenhado por Emanuela Lupacchino, essa publicação conta com participação de Arlequina, Renee Montoya, Caçadora e Canário, que se juntam para enfrentar uma nova gangue. O material é o que o mercado norte-americano chama de one shot, uma espécie de história em uma única edição, e como pode-se perceber pelas personagens, provavelmente foi encomendado devido ao filme do grupo lançado no ano passado – ano de publicação original da hq.
O material não perde tempo explicando ou contando a origem das personagens ou o que fizeram até então. O leitor é jogado no meio de suas vidas já encaminhadas e quem não faz ideia de quem elas são pode ficar um pouquinho perdido. Apesar disso, o roteiro é bastante contido dentro de si mesmo.
Com uma arte eficiente e bastante violenta – incluindo decapitações -, a sensação que fica é de um material passageiro e oportunista, mas que diverte se você o encara sem grandes pretensões.
Cesto de Cabeças
Cesto de Cabeças é o primeiro lançamento no Brasil do selo de terror Hill House Comics, comandado por Joe Hill, filho de Stephen King. Na história acompanhamos June Branch que está isolada em uma ilha com quatro criminosos à solta. Para se proteger, ela utiliza um machado viking que apesar de decapitar pessoas, ainda as mantém vivas. O que June não sabe é que ela não está segura nem entre seus próprios conhecidos.
Com um roteiro amarrado que mescla com eficiência terror visual, drama e pitadas de humor, Cesto de Cabeças consegue arranhar, mesmo que superficialmente, temas importantes como ganância, confiança e machismo.
Com uma boa arte e ótima colorização, o material possui algumas coincidências fáceis de se relevar pela ambientação desenvolvida e possui um bom final, daqueles que deixam um sorrisinho no rosto.
Batman 66’: Mulher Gato ao Resgate
Batman 66’ é o título que traz histórias baseadas no seriado televisivo da década de 60. Incluindo o batfone e as famosas frases do Robin com ‘Santa Alguma Coisa, Batman’. Com isso em mente, já sabemos que não é possível esperar roteiros mirabolantes ou elaborados.
Com histórias serializadas que praticamente não possuem continuidade entre si, neste encadernado temos as origens de Hera Venenosa, Espantalho e Bane, além da aparição de praticamente todos os vilãos do morcego. O ambiente de Gotham que conhecemos está todo ali, mas de uma visão bastante diferente e bem mais leve.
Mesmo com resoluções simplistas, talvez para aqueles que estão acostumados com o Batman soturno, esse é um título que pode oferecer a oportunidade de relaxar um pouco e se divertir simplesmente com tortas sendo jogadas na cara da dupla dinâmica ou com eles almoçando em uma fazendo do interior.
Lendas do Universo DC: Os Novos Titãs – vol 1
Lendas do Universo DC é um selo da Panini Comics no qual são publicadas histórias clássicas dos personagens por desenhistas ou escritores renomados. Já tivemos Mulher Maravilha do George Pérez, Lanterna Verde e Arqueiro Verde por Denis O’Neil e Neal Adams, diversos títulos de Jack Kirby como Etrigan e Quarto Mundo. Novos Titãs, também de Pérez, é um deles.
Aqui, o desenhista/roteirista tem a difícil missão de reformular a equipe e acaba redefinindo o conceito de super-herói adolescente junto com Marv Wolfman.
Para quem curte (ou curtiu a primeira temporada, pelo menos) da série dos Titãs, este é o principal material usado como base. Quando começamos a história os poderes já existem, mas isso não significa que não vemos as origens durante este primeiro encadernado, algo que a série também utilizou.
São doze volumes no total e todos já foram publicados por aqui. O número um acabou de ser relançado pela editora. O título continuará a partir do volume treze pelas mãos de Wolfman após a saída de Pérez.
Batman Cavaleiro Branco
Sean Murphy ficou bastante querido no mundo dos quadrinhos após o excelente Punk Rock Jesus. Seus desenhos cheios de hachuras e com muito domínio de sombras são de encher os olhos. Por isso que as expectativas ficaram altíssimas após o anúncio de uma minissérie do Batman, fora da cronologia original, escrita e desenhada por ele. As expectativas foram correspondidas.
Em Batman Cavaleiro Branco os holofotes ficam no Coringa, ou melhor, em Jack Napier. O palhaço do crime consegue se ‘curar’ após um episódio descontrolado do Morcego e se torna um cidadão comum que decide empreende uma luta bastante diferente em prol de uma Gotham mais igualitária e passa a se esforçar para ajudar os mais desfavorecidos utilizando a política como via, ao mesmo em que tenta remediar seus feitos como vilão, principalmente com a Arlequina.
A arte não tem nem o que dizer e o roteiro bastante político já fazem desta uma das grandes histórias do Batman na qual o Morcego não é o grande protagonista.
Lanterna Verde: Terra Um
Devido à cronologia das revistas de linha, voltar milhares de edições atrás para se inteirar sobre a gênese dos personagens é uma tarefa árdua e que requer tempo e disposição. E se tem um personagem que é difícil de retomar as publicações, é o Lanterna Verde. Hal Jordan é um dos poucos heróis que praticamente nunca teve sua história resetada desde 1959.
A linha Terra Um propõe facilitar essa missão apresentando as origens dos clássicos heróis da DC Comics para um novo público, mas não sem permitir algumas alterações pelo meio do caminho.
Enquanto os materiais de Batman, Superman e Mulher Maravilha seguem muito do que já conhecemos, em Lanterna Verde temos diferenças que ao mesmo tempo que são sutis, trazem mais peso para o personagem.
Aqui Hal Jordan é um astronauta – algo que não é mais tão glorioso assim – e passa seus dias minerando asteroides para a Ferris Galáctica. Sem querer dar muitos spoilers, é como se estivéssemos milhares de anos à frente da cronologia que conhecemos e isso oferece um ótimo fôlego ao roteiro que sabe quando mostrar ou esconder os easter eggs. A arte é super eficiente em mostrar uma galáxia quase destruída e suja e a colorização, algo extremamente importante nas hqs do Lanterna, também dá o peso necessário às cenas.
O único questionamento fica por conta dos créditos na capa, tanto na versão brasileira quanto na norte americana. Costuma-se seguir a ordem de roteirista primeiro, depois desenhista. Aqui temos primeiro o desenhista e depois a roteirista. Pode ser porque Gabriel Hardman também assina o roteiro da obra, mas faz a gente se perguntar por que o nome de Corinna Bechko, uma mulher, não veio primeiro.
Novos Titãs: Terra Um – Volume Dois
Também da linha Terra Um, o título dos Novos Titãs possui roteiro do queridíssimo Jeff Lemire. É interessante entrar em contato com a hq após ler a clássica fase de George Pérez, que falamos ali em cima, uma vez que fica evidente o maior peso e camadas que as histórias em quadrinhos ganharam ao longo dos anos. Neste caso isso não significa uma mudança para melhor.
Lemire é um excelente roteirista, mas não foi no gênero de super-heróis que sua carreira decolou ou até mesmo se consolidou – apesar do excelente Black Hammer e do seu run bastante elogiado pelo Arqueiro Verde. É notável que existe um certo piloto automático em Novos Titãs: Terra Um e mesmo com a utilização de elementos bastante interessantes – como a criação dos poderes dos Titãs, a interação entre cada um deles que possuem idades muito diferentes e até um possível relacionamento amoroso entre Estelar e Ravena – ainda fica a sensação de uma história que anda na corda bamba entre a discussão de temas relevantes e a diversão absoluta, sempre em dúvida para qual lado pender.
No fim, Novos Titãs: Terra Um talvez seja o título do selo com mais novidades em relação à cronologia que conhecemos e por isso possui bastante potencial, mas poderia apresentar um refinamento melhor tanto na arte quanto no roteiro.