CRÍTICA | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura onde o hype e o MCU são os grandes vilões

Começo essa crítica lhe perguntando: Você é feliz? Na verdade, você está feliz com o rumo do seu personagem favorito no MCU? E se o seu personagem já ganhou filme solo, você gostou do que propuseram à ele? São esses tipos de perguntas que nos fazem pensar quando se trata de super-heróis.

Lá em 2016, tivemos o filme de origem do Doutor Estranho, com Scott Derrickson sendo diretor e um dos roteiristas. O filme teve uma recepção até que positiva, ficando no top 10 de ser um dos melhores da Marvel em quesito filme de origem, ficando longe de ser o pior. Lá foi apresentado um pouco já do que a Marvel iria focar ao longo dos seus próximos anos: o Multiverso.

O Multiverso então, acabou tornando-se um grande evento depois da derrota contra Thanos em Vingadores Ultimato (2019), cujo a sementinha foi plantada lá em Vingadores (2012). Agora é a vez do Multiverso, onde possibilidades são infinitas e claro, com grandes chances de muitas aparições e uma conexão maior “de universos”. Só que para isso se tornar um grande evento (bem feito), precisa haver uma conexão entre os filmes, mas sem deixar o universo dos próprios personagens seja deixado de lado – principalmente se tratando de uma sequência depois de 6 anos.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, era um filme que tinha inicialmente o retorno de Scott Derrickson como diretor e roteirista, mas que acabou saindo da direção do filme (ficando apenas como produtor executivo) por “diferenças criativas”. Scott é do mesmo time de Sam Raimi: ambos dirigem e roteirizam filmes de terror. Quando o filme foi anunciado lá na SDCC em 2019, Scott além de confirmar o retorno de Benedict como Stephen Strange e anunciar Elizabeth Olsen no elenco, Scott disse que “o filme será um terror, sendo o primeiro do MCU”. A saída repentina do diretor gerou uma interrogação para todos. Logo depois veio a contratação de Sam Raimi como diretor, Michael Waldron como roteirista – reescrevendo o roteiro do zero e Danny Elfman como compositor da trilha sonora.

De 2016 para cá muita coisa aconteceu. Filmes ótimos, filmes péssimos, séries do MCU sendo criadas e novos personagens chegando ainda mais, mas Multiverso sempre ali, pairando… só que uma hora ele teve que chegar e o pontapé foi com as viagens no tempo lá no final da fase 3, em Vingadores Ultimato (2019). Os heróis saberem que há versões alternativas de si foi algo que mexeu com muita gente: como ter dois Capitães América lutando entre si, ou Loki da linha do tempo de Vingadores (2012) fugindo e criando outra linha alternativa – culminando na sua própria série Loki (2021), a Wanda, que não aceitando a morte de seu amado Visão, criou uma realidade alternativa em Wandavision (2021), com uma família que ela sempre quis: seu amado Visão e seus dois filhos e por fim, a junção dos Homens-Aranhas alternativos em Sem Volta para Casa (2021).

Vamos para a sinopse? Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, o MCU liberta o multiverso e explora seus limites como nunca foi feito antes. Viaje pelo desconhecido com Doutor Estranho, que, com a ajuda de novos e velhos aliados, atravessa insanas e perigosas realidades do Multiverso para confrontar um misterioso novo adversário.

Leves spoilers a seguir

Quando falamos sobre uma sequência de filme solo de um personagem, nós logo temos em mente que o filme vai retratar uma nova história do personagem dentro do seu próprio universo ou, se for para dar uma continuidade em uma história já criada, pelo menos que o personagem tenha o seu destaque naquilo que já está encaminhado. O título já sugere: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, então ao menos Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) será um personagem que cuidará dessa “loucura”, com seus (vários) artifícios sendo mostrados para a resolução disso. Claro, é o protagonista, ele precisa ter o destaque. Mas aqui, o destaque é em outra personagem e basicamente a história envolve mais ela: Wanda Maximoff/A Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen).

Na cena pós-crédito de WandaVision (2021), vimos Wanda em posse de Darkhold para recuperar seus filhos. Então desde lá, sabemos que ela faria de tudo para tê-los de volta, mesmo que sua vida custe ser corrompida pelo “Livro dos Pecados”. Dito e feito, aqui a premissa da Wanda ser a vilã é exatamente essa. Só que para recuperar seus filhos, ela precisa dos poderes de uma garotinha de 16 anos, chamada America Chavez (Xochitl Gomez).

America Chavez é uma super-heroína que atravessa Multiversos e ela é única de todo o MCU – ela não tem quaisquer variante dela. Com a posse dos poderes da menina, Wanda além de ter seus filhos de volta, ela tem posse de todo o Multiverso – fazendo com que Stephen Strange, Wong e America Chavez partirem para uma aventura contra o tempo para que Feiticeira Escarlate não dê mais dor de cabeça para a linha do tempo principal e das alternativas por puro…

Falando de cada personagem e atuações, Doutor Estranho, (que deveria ser) o protagonista do filme, teve novos elementos introduzidos no seu desenvolvimento: conjuração de novas magias, introdução de novos personagens, explicações sobre alguns lugares que Magos não podem pisar e também sobre o universo místico, a persona Stephen Strange lidando com sua jornada pessoal de como ele quer lidar com as situações – também ligada com o grande amor de sua vida (que inclusive o último romântico) e finalmente temos um plot interessante sobre Doutor Estranho no Multiverso do Doutor Estranho, o que pode ocasionar em algo que poderá ser grandioso no que estão preparando para ele futuramente (brasileiro não desiste nunca e quem sou eu para desistir?). Não é por conta que Doutor Estranho não tenha sido o “destaque”, que ele deixou de ser poderoso – ele é e inclusive bastante, mas mesmo assim, eles poderiam atrever mais nos poderes dele, culminando numa uma presença maior em seu próprio filme. Não é necessário dizer que Cumberbatch entregou mais uma vez uma atuação impecável sobre o personagem, certo? Trazendo a maturidade que o personagem tem, não só no próprio tom de voz (é estranho falar isso, mas sim!!!), mas distinção de como Stephen e Doutor Estranho lidariam com x situação.

Wong me surpreendeu positivamente, mesmo que seu desenvolvimento não tivesse mudado muito em relação a aparição, mas dos momentos que apareceu, realmente trataram ele como Mago Supremo. Ele não é um personagem descartável no plot do Doutor Estranho e aqui eles deram um cuidado melhor nele – o que é muito bom, pois Benedict Wong interpretou muito bem o personagem.

America Chavez, a personagem que teve uma escalação bem polêmica por não escalarem uma atriz negra como deveria ser, é engraçado falar que ela foi um dos grandes destaques da trama. A introdução dela dentro do enredo é entendível e justificável pelo que foi criado, parte da sua origem também foi trazida no filme (e tentando entender até agora a justificativa de banimento), não mudaram seus poderes (ainda bem) e deixaram a personagem sendo um frescor dentro de todo horror que estava acontecendo nesse filme. Uma menina de 16 anos que perdeu suas mães pelo falta do controle de seus poderes, tendo que fugir de alguém que queria ser mãe outra vez. Deixando claro que Xochitl Gomez não tem culpa da sua escalação sendo America Chavez, ela traz o que a personagem é nos quadrinhos: carismática, leal aos amigos e aliados, além de uma personalidade muito forte.

Wanda Maximoff/A Feiticeira Escarlate. A Loucura do título do flme, é dela. Com isso, o seu desenvolvimento – de certa forma – também foi. Aqui, ela não se intitula mais como Wanda, mas sim como A Feiticeira Escarlate, e ai de alguém se meter com ela! Pois é, Doutor Estranho esperava ajuda, recebeu dor de cabeça. A personagem teve um desenvolvimento, mas assim, um desenvolvimento para valer com até elementos da história de origem sendo colocados. O que uma mãe seria capaz de fazer pelos filhos? Tudo. Foi isso que ela fez: tudo e ainda mais, deixando um rastro de morte (mesmo). Realmente mostraram todo o poder do que uma feiticeira tem e junta isso com elementos de horror, é um prato cheio para ter um filme bem… horripilante (em todos os sentidos). Teve luta física, luta mental, teve magia do caos, teve de tudo. E sinceramente? Seria tudo mais fácil fazer um filme solo da personagem do que deixar num filme onde ela (deveria ser) antagonista. Mas de todo o jeito, ela não é a grande vilã. A Feiticeira é fruto de um grande vilão que os fãs só continuaram: a construção da personagem no MCU e o hype criado nela por conta disso. O Universo que Kevin Feige construiu em torno dela, fez com que a personagem fosse adorada como uma Deusa (como é mostrado no filme), fazendo com que todo o hype da personagem fizesse com que ela fosse um destaque de uma história que ela não precisaria estar tão envolvida assim – ao menos que Strange tivesse alguma participação em WandaVision, e não como se esse filme fosse um episódio extra da série. Foi por conta de muitas teorias que o próprio MCU deixou em relação a Multiverso e o rumo deixado por Wanda, que deixou Multiverso da Loucura um refém do seu próprio filme. Elizabeth Olsen entregou mais uma vez uma interpretação muito boa da personagem, imprimindo o que foi colocado no roteiro: uma deusa, uma louca, uma feiticeira, ela é demais?

O roteiro pecou e pecou muito. Construção da própria história, com apego em uma história de uma outra personagem e não focado no próprio protagonista; os diferentes tons visíveis tanto em direção como linha narrativa e a ânsia de trazer personagens (e atores) que os fãs estão pedindo por tanto tempo. Para quem não tem muito conhecimento sobre Multiverso, vai achar bastante confuso por ter muita variante, muita viagem e no meio disso tudo ainda lidando com informações relevantes, principalmente explicativas sobre algumas coisas de como funcionam as artes místicas e a resolução daquela história… da Feiticeira.

O primeiro ato chega a ser apressado e talvez por Michael Waldron achar que Multiverso da Loucura daria certo como Rick & Morty, lidando com muita coisa nesse filme e Marvel apostar as fichas nisso, infelizmente não deu muito certo. Uma hora você está vendo um filme sombrio, denso, com elementos de horror (literalmente!) que Sam Raimi trouxe e aí num piscar de olhos chega um filme com piadas, alegre (?). Contrataram o Sam Raimi para isso?

Inclusive, Sam Raimi ele é ótimo em saber dirigir um filme, principalmente quando são filmes com uma temática mais pegada ao horror. Algumas assinaturas de seus trabalhos como Darkman e Evil Dead estão bem presentes aqui, com takes focados no rosto do personagem numa atmosfera que surge do suspense e trazendo mais horror na cena (atenção que pulinhos podem rolar!). Raimi soube valorizar muito o que cada personagem oferece na história e também nas (muitas) cenas de ação, até aquelas que são 100% CGI – e que incrivelmente está bom. A junção de direção e roteiro poderia ser perfeita, se eles não escolhessem dois tipos de tons dentro de um próprio filme.

Batalha de sinfonias mágicas? Temos e isso só é possível graças a trilha sonora de Danny Elfman. Falar sobre trilha sonora, é falar sobre um elemento a parte. Por mais que muitos não aceitem que trilhas sonoras não é um elemento importante de um filme, resta aceitar que é sim pois através dela que ajuda na compreensão de história e eleva as emoções. Danny Elfman repete a parceria com Sam Raimi e entrega uma trilha sonora que imprime agonia, (des)ilusão, sofrimento, diversão e homenagem (duas das minhas cenas favoritas foram por conta de Danny Elfman #obrigadavelho). Inclusive há uma uma parte específica de uma trilha que vai fazer o coração de certos fãs baterem mais forte e eu nem digo do Doutor Estranho. Vai além.

Conclusão é que eu esperava muito mais de Multiverso da Loucura. A direção brilhante de Sam Raimi faz o filme ter um respiro e ser uma ponta diferente no MCU ao longo dos anos, porém o roteiro é o que infelizmente prejudica muito a história de Doutor Estranho que poderia ter mais destaque por aqui – mesmo que tivessem adicionado mais elementos da sua jornada como Stephen – sendo ofuscadas. O filme tenta resolver questões de uma história de uma personagem junto com Multiverso + ânsia de trazer o desejo de outros personagens ao longo do MCU que os fãs queriam tanto ver e por último, as diferentes versões dentro filme, hora horror, hora family friend. Um amarrotado de coisa num filme solo de um personagem cujo o foco seria na sua trajetória pessoal e também na jornada de herói, trazendo bem mais elementos do universo Doutor Estranho, mas que infelizmente não aconteceu. Infelizmente o hype da galera pode matar um filme, e isso aconteceu aqui.

Há duas cenas pós-créditos: a primeira é obrigação de assistir, você sendo fã ou não do Doutor Estranho. É algo que desde o primeiro filme muita gente pede e finalmente vai ter – e não vai decepcionar, viu? Dou minha palavra. Agora a segunda realmente não vale a pena, não muda em absolutamente nada.

Repito as perguntas: Você está feliz com o rumo do seu personagem favorito no MCU? E se o seu personagem já ganhou filme solo, você gostou do que propuseram à ele? 

Nota 🧙‍♂️🧙‍♂️

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura estreia dia 5 de maio nos cinemas de todo o Brasil.

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