Resenha: Persépolis

Oi, gente! Hoje vim falar de um livro muito importante pra mim, Persépolis. Publicado pela Companhia das Letras, Persépolis é uma graphic novel de cunho autobiográfico que narra a vida da autora Marjane Strapi no Irã, na época da Revolução Iraniana. A Graphic Novel é bastante extensa, pois narra não só a revolução em si, mas o contexto pré revolucionário e após a revolução, e acompanha desde a infância de Marjane até se tornar adulta, seu casamento, etc.

questão do enem com Persépolis

De tão grandiosa que a Graphic se tornou, chegou até a incorporar o maior vestibular do país, o exame nacional do ensino médio,

em uma questão sobre o véu islâmico. Assim, uma revolução, que inicialmente era para ser popular e trazer garantias de direitos, saindo de um regime opressor, oprimiu tanto quanto, fazendo com que a protagonista tivesse que sair do país para garantir que teria os mesmos direitos que desejava, pois assim como antes da revolução, comunistas (Strapi desde criança era leitora de Karl Marx), feministas, pessoas não islâmicas, etc estavam sendo perseguidas. A Graphic portanto critica o capitalismo e o fundamentalismo religioso de uma forma genial, além de criticar o imperialismo, deixando claro que a ‘ajuda” que o Ocidente oferece nunca é por questões de humanidade, e sim por interesses próprios. Inicialmente, pelo olhar inocente de uma criança, a graphic passa por várias fases da vida da autora acompanhando seu crescimento. Além disso, dois pontos me fizeram amar ainda mais a graphic: a questão da identidade e o machismo. Primeiramente, vou falar sobre a questão da identidade.

Como mencionei, a personagem em certo momento decide imigrar para o exterior para voltar a estudar como antes, já que não era religiosa como era exigido da escola na sua cidade, e ela estava tendo problemas por questionar o poder. Assim, é enviada para a Europa, e lá, fica em uma casa de freiras. A protagonista então traz uma série de questionamentos sobre o Ocidente que me deixaram boquiaberta. Primeiro, chegou como uma imigrante iraniana, oriental, e há esse choque entre culturas. A autora não suaviza de forma alguma a desigualdade camuflada na Europa, a xenofobia que sofreu, além de pessoas que se aproximavam dela por romantizarem a sua miséria e sofrimento, portanto, não por se interessarem por ela, mas pela guerra. Além disso, Strapi desromantiza a ideia de que todas as pessoas que imigram/ se refugiam para países em busca de uma vida mais decente são automaticamente acolhidos e criam uma vida perfeita, sem complicações, e vão para a terra da liberdade. A realidade é bem diferente dessa, e Strapi se depara com situações que me fizeram refletir de forma absurda sobre como é romantizada a questão do refúgio em si. Muitas vezes, as pessoas tratam como se o exílio/refúgio fosse algo que a pessoa deveria ser extremamente grata, porém tudo que ela queria era estar em casa com sua família.

Após seu retorno para o Irã, a autora lida novamente com esse conflito identitário, por ser uma iraniana que morou no exterior, e acredita que foi acolhida por um grupo de pessoas que são contrárias ao regime vigente e finalmente encontrou pertencimento, porém percebe que as pessoas não as acolhem de fato quando ela se demonstra uma mulher independente, as pessoas tendem a reagir de forma ofensiva em relação à ela. Assim, entro no meu segundo ponto, o machismo.

A Graphic Novel têm um caráter extremamente feminista (citações de Beauvoir inclusive!) e isso me agradou bastante. Criticando ambas as sociedades ocidentais como a oriental, Strapi nos faz refletir sobre como o machismo está enraizado na nossa sociedade, de forma que até pessoas que se chamam de aliadas (no caso dela, pessoas da esquerda, que era seu convívio) a tratam com machismo, e a personagem se pega em vários momentos se questionando como aquilo é possível sendo que os amigos diziam que eram alinhados aos pensamentos dela.

Assim como nas sociedades ocidentais, o machismo no oriente é enorme. Apesar de falarem que no oriente é maior a diferença entre o machismo não é tão diferente, cada um em sua dimensão. Inclusive, no Ranking de feminicídio, o Brasil está em 5o lugar, mostrando que é também uma estrutura extremamente machista. (além da pouca diversidade e representatividade política de mulheres, principalmente as mulheres não brancas.) Assim, a graphic traz questionamentos que não, não estão fora da nossa realidade. Um trecho em específico foi um dos que na hora me fez rir (pela espontaneidade da personagem) mas ao mesmo tempo refletir bastante sobre como o machismo não tem fronteiras.

Em suma, a Graphic Novel traz de uma forma engraçada e leve uma questão extremamente mal contada pelo ocidente, e foi uma das melhores graphic novels históricas que eu já li, junto à MAUS. Ambas abordam temas extremamente pesados (MAUS retrata o relato de um filho que o pai é sobrevivente do nazismo), e o mérito de Strapi é ela poder contar essa história com mais propriedade que qualquer pessoa, por estar contando sua própria história. Perfeita!

Mais uma informação aqui: a adaptação em animação foi indicada ao Oscar! Veja o trailer.

NOTA: 5/5 + favoritada!

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