QUEM FOI: Chica da Silva

Releitura da imagem de Chica da Silva, feita pelo portal Blumer News.

Desde 1500, quando os primeiros colonizadores encontraram as Américas, europeus vem desumanizando povos que, para a vasta maioria deles, são vistos como seres inferiores até os dias atuais. Como sabemos, tanto grupos nativos quanto membros de tribos africanas foram assassinados, estuprados e tiveram sua liberdade tomada no período colonial brasileiro – fato que demonstra o principal motivo pelo qual o mundo se encontra tão desigual no século XXI. No entanto, tal qual na vasta maioria dos casos históricos, existiu uma exceção.

Nascida no arraial onde hoje está localizada a cidade de Diamantina, em Minas Gerais, Francisca da Silva é vista por historiadores como uma das 20 figuras mais importantes para a história do nosso país. Apelidada de Chica da Silva, foi uma escrava comprada, alforriada e não oficialmente casada com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. E foi a partir desse envolvimento que sua ascensão social se tornou possível.

Chica era uma mulher mestiça, fruto da relação entre um português e uma escrava – fato que não a isentava da escravidão, uma vez que a melanina em sua pele denunciaria as origens africanas. Ao unir-se a um homem branco e rico, conseguiu, aos poucos, conquistar todos os privilégios retidos pelas mulheres de classe alta daquele século. Isso significava, entre outras muitas coisas, que ela tinha a possibilidade de frequentar espaços destinados exclusivamente para a elite, desfrutando das melhores regalias daquela época, ou seja, de direitos humanos básicos.

Apesar da precariedade do estilo de vida imposto à mulheres que viveram centenas de anos atrás, Chica da Silva construiu sua reputação em torno dos vestidos luxuosos que guardava em seus armários, dos favores impossíveis que pedia a seu companheiro e dos demais aspectos que, na visão de alguns, a igualavam a uma mulher de descendência europeia. Ela era negra, vivendo a vida supostamente destinada a uma branca, e, obviamente, isso gerou diversas discussões.

Os argumentos defendidos pelos habitantes do antigo Arraial do Tejuco costumavam ser os mesmos: Francisca poderia ser rica, poderosa e forte, porém nunca seria tão bonita ou pura quanto o restante das integrantes de sua nova classe social. Certamente, ainda existem pessoas que apresentam essa mesma opinião nos dias de hoje, porém as principais crítica da atualidade em relação a essa mulher giram em torno do fato que, de maneira egoísta, Chica não usufruiu de seus privilégios para beneficiar outros afro-brasileiros, que até então vinham sendo escravizados por um povo que dizia fazer parte da raça superior.

Quando analisamos o conceito histórico de “Consciência Negra”, a individualidade de Chica da Silva é um dos primeiros assuntos a serem pontuados, desconsiderando o fato de que, entre outros feitos, foi ela a responsável pela idealização da tão conhecida Igreja do Carmo, construída com a intenção de que os escravos daquela região tivessem onde participar de missas e cultos (todos católicos). A verdade é que, independente de nossos privilégios na idade contemporânea, é muito difícil idealizar o sentimento de uma mulher num povoado em que ela – e somente ela – desfrutava de direitos vitais, que poderiam ser revogados a qualquer momento.

Ela tinha 12 filhos, mas também tinha escravos realizando os mesmos trabalhos desumanos que são retratados nos livros de história, bem ali, em seu quintal. Francisca da Silva de Oliveira não foi um ícone da resistência negra, porém foi uma mulher que, definitivamente, marcou a história do Brasil com seus feitos nunca vistos antes.

Chica faleceu no ano de 1796, aos 64 anos. Mais de 200 anos após sua morte, ainda é relembrada pela mídia brasileira, por grades escolares e, principalmente, pelo povo mineiro, que se orgulha em compartilhar o mesmo território que essa figura tão polêmica. No que diz respeito a essa mulher, apenas uma coisa é certa: ela foi um ícone de seu próprio tempo.

Revisado por Graziela Bérgamo (@drydcnvos)

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