O Vilarejo, de Raphael Montes – Resenha

Oi gente, como estamos? Espero que todas e todos estejam bem, com as pessoas que amam, da forma que seja possível.

Hoje trouxe uma resenha de Vilarejo, do Raphael Montes! O Raphael é um dos meus autores favoritos, e cada obra que leio ele me surpreende mais. Espero trazer outras resenhas dele posteriormente. Essa resenha não vai ter SPOILERS, mas vai ter pontos que vão sim entregar um pouco a trama. Eu li sem saber absolutamente nada, e acho que é importante fazer isso pra se surpreender mais. Mas se você não leu ainda e quer ler, não se preocupe! O livro está disponível gratuitamente na loja Kindle! Para comprar (gratuitamente), clica aqui. P.S. O livro têm um conteúdo pesado, então se você é muito sensível, não recomendo.

Primeiramente, a sinopse:

Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

Agora, a resenha

Livro: O Vilarejo, de Raphael Montes com ilustrações de Marcelo Damm. Editora SUMA, 96 páginas.

O caráter do homem é o seu demônio – Heráclito

Raphael têm uma mente incrível para criar histórias com reviravoltas surpreendentes sem ser algo forçado. Muitos livros de thriller e terror se apoiam na surpresa do leitor nas últimas páginas, quando descobrimos a grande reviravolta de o assassino ser alguém inesperado, alguma morte repentina, etc. Ele foge desse padrão e cria uma narrativa completa em que absolutamente todos os detalhes são construídos e bem explicados. E, ainda assim, a última página lhe traz uma reviravolta enorme, que, quando eu vi, simplesmente quis reler o livro imediatamente. Além disso, as ilustrações de Damm me fazem querer a edição física urgentemente: são essenciais para criar a atmosfera imersiva e nebulosa da história.

Vou destacar primeiramente meus 2 contos favoritos da história, depois faço uma abordagem geral.

Pecado, ou conto, 1: Gula

Um dos meus favoritos! O livro já começa bem, lhe surpreendendo para c@r#l*h*! Eu não esperava aquele final, e fiquei sem reação, boquiaberta. Ele nos introduz ao Vilarejo, abandonado enfrentando o frio e a fome, e nesse cenário conhecemos nossa primeira personagem: a amorosa mãe Felika, que luta para manter seus filhos vivos.

Consequentemente você espera uma história sobre a tristeza da pobreza desse vilarejo, tendo que lutar por comida e uma esposa aguardando ansiosamente o marido. E aí, bum: Sério que você esperava isso? é Raphael Montes! Ele joga uma reviravolta na sua cara. E que reviravolta!! Eu já disse que não esperava, né? Eu realmente não esperava. Acho genial que tenha sido o conto inicial, porque ajuda a estabelecer o clima que vamos ter ao longo do livro, e ilustra o futuro que o Vilarejo terá. Peça 1 do grande quebra cabeça que o Raphael nos entrega durante a história (sabe aquele meme do cara conectando os pontos? Eu fiquei assim).

Conto 3: Soberba

Esse conto mexeu muito comigo. Inclusive grifei muitas passagens dele no Kindle, porque alguns detalhes da escrita me deixaram pensativa. O narrador cita o sangue de gente de Mobuto, o negro caolho”, diversas vezes. A parte que mais mexeu comigo foi a parte em que a sra. Helga começa a agir exatamente como o velho curvado disse que Mobuto (que não é humano, na concepção deles) agiria. Como uma cantiga, Helga se transforma no monstro que Mobuto deveria virar. Esse conto me quebrou completamente, e eu não sei se o autor tinha isso em mente quando escreveu (creio que sim), mas os paralelos que eu vi com a escravidão e todo o processo de escravização de Mobuto me deixaram muito, muito mal. Espetacular e causa uma reflexão enorme.

No geral:

Como eu já falei, o Raphael tem talento em construir uma narrativa com detalhes muito bem explicitados, tudo muito bem pensado, se consolidando como um dos maiores autores da literatura nacional contemporânea (fonte: eu mesma, não estou errada). Li já 3 obras dele (Suicidas, Uma Mulher no Escuro e agora Vilarejo) e pretendo ler as outras o mais rápido possível. Sempre que me deparo com sua narrativa me surpreendo com algo novo que me faz admirar sua perspicácia e clara paixão pela escrita, além da dedicação em entregar histórias completas. Nesse conjunto de contos em específico, até eu, que não sou chegada em contos, me surpreendi positivamente. Ah, se todo livro de contos fosse assim, bem amarradinho! A sensação de construir um quebra cabeça enquanto lê essa história é enorme, e o autor sabe nossa ânsia em descobrir a trama, então ele vai nos entregando um pouco de cada vez, deixando a revelação final em uma simples foto. Uma coletânea sobre, acima de tudo, a crueldade humana.

NOTA: 4,5 (suicidas segue no meu #1)

Me conta, qual conto você mais curtiu? Qual sua obra favorita do Raphael?

P.S. Raphael, se algum dia isso chegar para você, eu tenho uma pergunta: você é hobbesiano? Acredita que o ser humano é completamente ruim? Vamo conversar, tomar um chá? Amo seus livros!

 

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