EXPOSIÇÃO: A arte urbana na Pinacoteca – Exposição OSGEMEOS: Segredos

Quem esperava que 2020 seria um ano perdido para todos nós. Perdemos idas ao cinema, a shows, encontro com os amigos, viagens e exposições. Sabemos que cultura em nosso país já não tem o apoio que merece, com a chegada de uma pandemia só agravou ainda mais.

Em algumas capitais do nosso país, a vida em meio a pandemia continuou. Em poucos lugares sim, estão respeitando as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e um deles é a Pinacoteca de São Paulo.

Uma das grandes exposições e a das mais aguardadas da Pinacoteca que foi afetada pela pandemia foi a megaexposição OSGEMEOS: Segredos.  A megaexposição – que estava prevista para inauguração em março e teve que ser adiada, tendo a abertura só em outubro – ocupa sete galerias do primeiro andar da Pina, a área do octógono, um dos pátios do edifício e outros espaços internos e externos.

A megaexposição reúne a trajetória dos irmãos desde a primeira relação deles com a cultura do hip-hop lá em 1983 até os tempos atuais, com suas obras sendo reconhecidas mundialmente. Toda a trajetória foi documentada por cadernos, fotos, desenhos, pinturas, esculturas e instalações imersivas num acervo de mais de 650 itens – por hora inéditos. Antes de entrar na megaexposição, o próprio letreiro tradicional da Pinacoteca foi substituído temporariamente por uma versão de neon vermelha feita pelos próprios artistas.

Antes de apresentar a vocês leitores sobre quem são os OSGEMEOS, temos que ter o conhecimento da arte pelo qual eles trabalham: o grafite.

Children of the Grave Again do artista Dondi,1970 em Nova York. Foto por Martha Cooper/Divulgação.

Conhecendo o grafite

A palavra de origem italiana com significado de “escritas feitas com carvão”, possui relatos do uso desde o Império Romano, com escritas feitas nas paredes como manifestações de protesto pelos romanos. Mas foi em 1970, no bairro Bronx da cidade de Nova York, que o grafite virou de fato uma manifestação artística em espaços urbanos: os primeiros desenhos foram feitos com tintas spray.

O grafite surgiu de mãos dadas com o hip-hop – unindo RAP, break e o próprio grafite. Com a junção dos dois, tivemos o início de um movimento onde críticas sociais, políticas, culturais e humanitárias são sua base e tendo a rua como o melhor cenário, facilitando a comunicação entre os moradores da cidade, desde os centros até as periferias. No Brasil, o grafite chegou só no final dos anos 70, na cidade de São Paulo. Crescendo rapidamente pelo país, o grafite brasileiro é considerado por muitos como uma das melhores artes urbanas do mundo.

Apresentado o movimento, agora vamos falar sobre quem são OSGEMEOS.

por Equipe Arte Sem Fronteiras/Divulgação

Quem são OSGÊMEOS?

Gustavo e Otávio Pandolfo, filhos de uma família de classe média no bairro do Cambuci em São Paulo, são os irmãos mais novos de Adriana e Arnaldo Pandolfo. Desde pequenos, Gustavo e Otávio gostavam sempre de desenhar, mas em 1983 por influência de amigos, tiveram contato com a cultura hip-hop. Matriculados no curso livre de artes da Pinacoteca de São Paulo, os irmãos tinham acesso a tintas e spray e aí a jornada dos irmãos começou a ser moldada… Com encontros de hip-hop no metrô São Bento, os irmãos – que eram conhecidos por “b-boys” e depois apelidados por “OSGEMEOS”- grafitavam, dançavam break e se arriscavam nas rimas.

Acervo de arquivo pessoal dos artistas. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Acervo de arquivo pessoal dos artistas. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Arquivo pessoal. Camisetas pintadas pelos artistas. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Fotos de arquivo pessoal dos artistas. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação

A partir de 1987, com seus grafites em vários bairros por São Paulo, os irmãos eram influenciados com várias referências,  buscando em seus desenhos estilos e traços originais e conheciam grandes artistas como Barry McGee, que além de virar amigo pessoal, foi uma grande ponte de trabalho dos irmãos para fora do Brasil. Mas o que OSGEMEOS trazem em suas obras? Normalmente eles trazem o cotidiano das ruas, retratos de família, críticas sociais e políticas, já que a rua era a “escola” para eles.

“São Paulo é muito cinza. Mas a gente não queria, não conseguia ver a cidade desse jeito. O amarelo veio dessa época em que a gente estudava na casa da mãe. A gente gostava de desenhar principalmente no fim da tarde, quando o céu ficava laranja. O amarelo é uma tentativa de reproduzir essa luz que entrava na janela.”

Nos anos 2000, OSGEMEOS já estavam conhecidos internacionalmente em algumas partes do mundo, começando pela Europa – na Alemanha com seu primeiro mural, passando pelos Estados Unidos com suas primeiras exposições individuais e chegando até a Grécia, onde eles foram convidados a fazer intervenções pela cidade, com dois murais – sendo um deles o Gigante, personagens de grandes dimensões que estariam mais frequências nos murais dos artistas.

Foto do primeiro Gigante pintado pela dupla em Atenas, Grécia. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação

Exposições com sucesso de público, grandes murais, esculturas, intervenções que viraram pontos turísticos e prêmios foram surgindo cada vez mais e os artistas foram cada vez mais conhecidos no cenário, não só internacionalmente como nacionalmente, com exposições e murais passando pelos grandes capitais brasileiras como São Paulo, Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro.

Foto da pintura na fachada do Kelburn Castle em Glasgow, Escócia, 2007. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Foto panorâmica dos diversos murais feitos pela dupla ao redor do mundo. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Foto panorâmica dos diversos murais feitos pela dupla ao redor do mundo. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação

Dos anos 2000 até atualmente, OSGEMEOS a cada ano que passava, suas carreiras eram cada vez mais consolidadas e parcerias com artistas conhecidíssimos no cenário foram surgindo, como o cantor Pharrel e a parceria com Banksy diante de uma intervenção com duas telas embaixo do parque suspenso High Line, em Nova York. Para quem não sabe, Banksy é um dos mais famosos artistas contemporâneos britânicos, que esconde sua identidade do mundo e que trás em suas obras uma forma agressiva e sarcástica de críticas sociais, comportamentais e políticas.

Parceria do cantor Pharrel Williams x OSGEMEOS. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Parceria de Banksy x OSGEMEOS. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Parceria da mãe Margarida L. K. Pandolfo x OSGEMEOS. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação

A megaexposição OSGEMEOS: Segredos como um todo é interessante pois nos mostra uma retrospectiva mais pessoal deles até chegar em uma carreira consolidada e reconhecida, indo desde desenhos em cadernos, blusas, macacões, fotos de infância, as referências que influenciaram em seus trabalhos e chegando atualmente com maquetes de projetos e estudos de suas obras que estão espalhadas ao redor do mundo. Aliás é interessante ver a evolução dos traçados até chegar no traçado e estilo único dos artistas que conhecemos hoje, além de como a cultura do hip-hop, dos amigos e ídolos terem tido grande influência na vida deles. Em cada galeria da megaexposição, temos explicações sobre a carreira deles: temos a galeria onde mostram mais a infância dos irmãos; galeria com as diversas fotos de suas obras ao redor do mundo; galeria do Universo Tritrez – que seria onde os personagens que estão nas obras saem de lá; galeria onde há obras que são mais como “homenagem” a cultura do hip-hop americano e assim vai… Ao todo, a megaexposição vale muito a pena para aquelas que não conheciam ou que já conheciam a arte urbana e gostam, principalmente na última galeria onde vemos as duas telas da parceria de Banksy x OSGEMEOS, trazidas pela primeira vez no Brasil e que foram exibidas em um dia lá em 2003.

A seguir algumas fotos que a autora tirou:

Foto panorâmica da obra Vertigem,2010-2020. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Obra South Bronx, 2016. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Stencil – papéis cortados para a confecção das roupas dos personagens das telas, década de 90. Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Escultura Gigante da exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação
Mural em homenagem a cultura hip-hop norte-americana realizado em Manhattan, Nova York, 2017 x Estudo para o mural . Exposição OSGEMEOS: Segredos, na Pinacoteca de São Paulo – Natália Lima/Divulgação

Ficou interessade? A megaexposição OSGEMEOS: Segredos ficará até 22 de fevereiro. De quarta a segunda, das 14h até as 20h e com ingressos custando R$25 (inteira) e R$ 12,50 (meia-entrada) – exceto aos sábados, que têm entrada gratuita!

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