CRÍTICA: Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil

Por incrível que pareça, estudar histórias criminais é uma dos passatempos favoritos de muita gente ao redor do mundo. Desde o surgimento das redes sociais, foram criadas centenas de comunidades dedicadas ao compartilhamento e até mesmo à resolução de diversos crimes. Esse é um dos principais motivos pelos quais, mais do que nunca, deve-se tomar um cuidado extra quando a oportunidade de produzir conteúdos como a série documental ‘Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil’ vem à tona.

Lançado pela Netflix em fevereiro de 2021, esse documentário dividido em quatro capítulos possui como enredo principal a morte de Elisa Lam – caso que chocou a internet há quase uma década. Como consequência de um surto psicótico comprovado por autoridades, a jovem canadense de 21 anos chamou a atenção de internautas após as câmeras do local no qual estava hospedada registrarem o comportamento inusitado da jovem no dia de seu desaparecimento. Seu corpo foi encontrado alguns dias depois, boiando na caixa d’água do prédio e chocando as milhares de pessoas que acompanhavam o decorrer da história.

A explicação real dos fatos

Localizado na cidade de Los Angeles, Califórnia, o Hotel Cecil foi o prédio no qual Elisa permaneceu durante parte de sua viagem aos Estados Unidos. Devido à má reputação do estabelecimento, o caso tornou-se ainda mais atrativo aos curiosos e, por descuidos da imprensa, se transformou em um assunto comentado em dezenas de países. Internautas despreparados assumiram o papel de investigadores e, em poucos dias, a vida da vítima foi exposta de maneira irresponsável e desrespeitosa nos mais diversos fóruns virtuais e portais de notícias da época.

Estabelecendo uma linha do tempo referente ao sumiço e falecimento da jovem, o documentário criminal mostra ao público desde os detalhes mais bizarros sobre o Cecil até a comoção gerada em torno do caso de Elisa, que, até então, era uma mulher desconhecida e bastante reservada. Ao exibir alguns detalhes sobre seu transtorno bipolar e demais distúrbios psicológicos, o seriado tenta justificar as atitudes fora do comum registradas no vídeo viralizado como uma possível consequência desses fatores. Mas será que essa estratégia foi útil o suficiente para que os interessados se contentassem com a explicação real dos fatos?

Cena do Crime - Mistério e Morte no Hotel Cecil
Cena da série documental ‘Mistério e Morte no Hotel Cecil’

O desfecho de Elisa Lam e do Hotel Cecil

Embora o objetivo principal do lançamento dirigido por Joe Berlinger seja informar os telespectadores sobre o desfecho que um ocorrido que comoveu o mundo, talvez a abordagem escolhida para apresentá-lo às pessoas que ainda não eram familiares com a situação ocorrida em 2013 tenha sido imprópria para o contexto em que vivemos hoje. Em uma sociedade na qual informações se espalham em questão de segundos, divulgar fatos da maneira mais explicativa e clara possível é sempre a melhor forma de compartilhar informações. Na percepção do espectador, não é isso que acontece ao longo da série em questão, uma vez que, entre curiosidades e entrevistas, a produção não se preocupa em ressaltar o dado mais importante sobre o caso: Elisa não foi assassinada e não morreu por causa de alguma atividade paranormal.

Quando qualquer veículo midiático se compromete em expor fatos reais e, principalmente, o paradeiro de uma pessoa morta, é fundamental que todos os detalhes sejam esclarecidos e respeitados. Deixar com que o público interprete um ocorrido de maneira distorcida torna-se um feito irresponsável, e que deve, nessas circunstâncias, ser evitado. Existem alguns mistérios criminais que precisam ser resolvidos e retirados dos holofotes, e a morte de Elisa Lam é um deles.

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