Crítica | The Dropout: O triunfo e a queda de uma fraudadora

Uma jovem acadêmica da renomada Universidade de Stanford decide largar os estudos para desenvolver sua proposta inovadora no campo da saúde: uma única gota de sangue que poderia detectar inúmeras doenças. A premissa de uma ideia revolucionária transformou Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, na protagonista de uma das maiores histórias de fraude já conhecidas na atualidade. 

The Dropout, minissérie produzida pela Star+, é baseada no podcast de mesmo título, apresentado por Rebecca Jarvis e produzido pela ABC News. Estrelada pela indicada ao Oscar Amanda Seyfried (Elizabeth Holmes), acompanhamos a trajetória de Elizabeth, uma jovem branca e privilegiada que desde a sua adolescência visava atingir a posição de bilionária e idolatrava gênios da modernidade como Steve Jobs, um dos grandes empresários de sucesso de quem mantinha pôsteres em seu quarto. No piloto da série, somos apresentados a uma jovem com possibilidades de um futuro brilhante, mas que já demonstrava sinais de instabilidade emocional e neurose, atrelada a sua ambição por reconhecimento.

A série se difere dos documentários sobre o caso, a exemplo da produção “A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício” da HBO, por aprofundar-se em demonstrar a construção da personalidade de Elizabeth até o momento de sua queda, abordando desde sua dinâmica familiar complexa com os pais ao relacionamento com Sunny Balwani, principal investidor da Theranos que veio a se tornar diretor de operações da empresa, com quem manteve um relacionamento secreto por 12 anos.

Amanda Seyfried triunfa em seu melhor papel

Embora o roteiro seja cativante e a distribuição dos marcos mais importantes no fatídico caso da Theranos tenha sido bem realizada ao longo de 8 episódios, o sucesso da série e a sua capacidade de “prender o espectador” recai grandemente na interpretação voraz de Amanda Seyfried, que incorpora os trejeitos desenvolvidos por Elizabeth para transmitir uma imagem de seriedade no mundo dos negócios, engrossando sua voz, evitando piscar para não comunicar desinteresse em suas reuniões com investidores e aderindo a ternos pretos como sua marca. 

 

Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried) – (Photo by: Beth Dubber/Hulu)

Ao longo da minissérie, montagens de Elizabeth ensaiando em frente ao espelho seus discursos fictícios sobre a confiabilidade dos exames da Theranos, suas danças pelo escritório enquanto cientistas dos laboratórios apontavam erros severos e contestavam a conduta da empresa e a persona fictícia assustadoramente robótica criada por Holmes são representadas com maestria por Seyfried, que está sendo cotada como favorita para vencedora do Emmy de melhor atriz em minissérie pela crítica especializada. 

A recriação dessa história, que caso não soubéssemos ter sido verídica, soaria absurda demais para acreditarmos é fascinante de se ver desdobrar na tela. Aos 19 anos, Elizabeth conseguiu enganar magnatas empreendedores com equipes jurídicas, vender sua ideia para cientistas brilhantes como o químico Ian Gibbons (Stephen Fry) e garantir o apoio de personalidades como o ex-secretário de Estado George Shultz (Sam Waterston). A série ainda recria, inserindo Amanda digitalmente, clipes de entrevistas e encontros de Holmes com Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos, que não escondia a admiração pela “brilhante cientista”.

A queda de uma farsa bilionária

A tensão é palpável ao assistirmos os episódios de The Dropout iniciarem ou finalizarem com os depoimentos de Elizabeth durante as investigações da Theranos. A opressão sofrida pelos funcionários da empresa, com destaque para o trágico caso do químico Ian Gibbons e para Tyler Shultz, interpretado por Dylan Minnette (13 reasons why), uma das principais testemunhas dos crimes cometidos pela empresa e que deu base de evidências sólidas o suficiente para a publicação do The Wall Street Journal em 2015, que cravou o início da queda da Theranos. O processo de publicação da matéria é retratado na série e garante algumas das melhores cenas da mesma.

Finalizada no dia 7 de abril. “The Dropout” acerta no storytelling voltado para demonstrar até onde a sede por poder e reconhecimento leva o ser humano. Atualmente, a fundadora da Theranos soma três acusações de fraude eletrônica pelas quais foi condenada, porém permanece em liberdade após ter pago uma fiança de US$500.000 e continua no aguardo de seu julgamento, previsto para setembro.

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