CRÍTICA: HQ VS SÉRIE – The Boys (2ª Temporada)

foto da equipe os sete

Este texto contém leves spoilers da hq e série televisiva The Boys

Depois de uma primeira temporada de completo sucesso de público e crítica, o segundo ano de The Boys chegou com um grande peso em seus ombros. Toda a alta expectativa e hype que a sua estreia não teve recaíram nos ombros da nova temporada, que precisava entregar novidades desse universo ao mesmo tempo que mantinha sua sátira afiada. Talvez o universo da série não tenha sido tão ampliado, mas com certeza o humor ácido que critica a hipocrisia da nossa sociedade foi elevado à um novo patamar, algo que os quadrinhos não chegam nem a arranhar a superfície.

Neste novo capítulo temos como principal novidade Tempesta (Aya Cash), nova super dos Sete e que exerce certa influência nos bastidores da Vought. Descobrimos que ela foi casada com o fundador da empresa durante o período da Segunda Guerra e ambos eram declaradamente nazistas. A série apresenta um personagem bem parecido com as hqs, que é do sexo masculino, alemão e não se esforça nem um pouco para esconder seu preconceito. A troca de gênero do personagem poderia até ser gratuita – e tudo bem – mas não só é justificada como agrega e muito com o desenvolvimento de seu relacionamento com o Capitão Pátria (Antony Starr), que encontra nela um par tão desprezível quanto si mesmo.

Divulgação / Amazon Prime Video

Apesar de poder ser considerado um personagem secundário, nos quadrinhos o Stormfront acaba por exercer um papel bem importante para a trama geral, algo que provavelmente não será aproveitado na série, mas que pode ser um indicativo de um retorno da personagem nas telinhas.

Outra vertente que foi desenvolvida nessa temporada é o lado político. Os discursos inflamáveis de Tempesta e Capitão Pátria, o próprio julgamento da Vought e o envolvimento da deputada Victoria Neuman (Claudia Doumit), são plots que provavelmente terão mais desenvolvimento na próxima temporada. Além disso, o presidente dos Estados Unidos também é citado no diálogo com o Secretário de Defesa, interpretado por Jim Beaver.

cena da série the boys
Divulgação / Amazon Prime Video

A política é um dos pontos centrais nas hqs. Nela, a Vought é uma empresa ligada ao governo americano que controla o vice-presidente e tenta há anos emplacar uma “arma” de guerra eficiente, tendo no Composto V sua provável vitória. Inclusive, nos quadrinhos, o Composto V é bem mais difundido e com tantas equipes de supers que até é fácil perder a conta – os G-Men por exemplo foram citados pelo showrunner Erik Kripke como inspiração para o spin off já confirmado da série. É o Composto também que faz com que a equipe The Boys enfrente os super-heróis no mano a mano, garantindo a enorme quantidade de sangue nas edições.

Nessa segunda temporada também conhecemos um pouco do passado de Kimiko (Karen Fukuhara) com a presença de seu irmão nos primeiros episódios. A origem da personagem, que nas hqs é chamada apenas de Fêmea, não poderia ser mais diferente. Novamente neste ponto a série consegue trazer muito mais profundidade quando comparada ao material original.

Mesmo com importantes diferenças, a série presta certas homenagens aos quadrinhos em determinados momentos. Nessa temporada, por exemplo, tivemos o Francês (Tomer Capon) usando seus óculos característicos e Terror, o buldogue que nunca sai do lado do Açougueiro (Karl Urban) nas hqs. Mas o maior e melhor destaque vai para a cena que já podemos considerar a melhor de toda a série: Tempesta apanhando de Kimiko, Rainha Maeve (Dominique McElligott) e Luz-Estrela (Erin Moriarty). Só que nos quadrinhos a cena é protagonizada inteiramente por homens.

comparativo francês the boys

comparativo terror the boys

comparativo the boys

Com uma nova estratégia de liberar os episódios semanalmente – ao invés da temporada completa como o modelo dos streamings adoutou – a segunda temporada de The Boys consegue se manter à altura de seu primeiro e surpreendente ano, expandindo a discussão à qual se dispõe, sem deixar de lado o desenvolvimento da própria história.

Entre pequenas e grandes mudanças, a maior e mais importante diferença entre a história em quadrinhos e a série continua sendo o que está por trás do humor e da violência. Enquanto no audiovisual elas são um recurso de ironia e crítica ao consumismo, ideais, política, hipocrisia e preconceito de toda a sociedade – principalmente o próprio nerd consumidor de super-heróis que reclama de diversidade – o material original as utiliza apenas para tentar se passar por adulto e, após quase dez anos de seu lançamento, mostra que envelheceu muito mal e que tem pouco para apresentar além de sangue e xingamentos.

Você também pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *