A história de Júlia poderia ser ficção, mas não é. O livro, sobre um local que deveria ser conforto: ”o lar”. Um lugar para chamarmos de casa.
A pequena coreografia do adeus, de Aline Bei, é um livro marcado pela ausência. Do amor, carinho, afeto, abraços. Sobra espaço para o abandono, o sofrimento, a violência. Mas não é aquela violência clichê narrada em filmes como simples, do tipo ”é só ir embora”. É a violência escrita de uma forma realista e crua. Como qualquer conflito que envolve afetividade, momentos em que tudo que a protagonista deseja é ser abraçada. E nessa jornada, ela precisa cortar o cordão umbilical.
Um livro cru, esperado de Aline Bei, que nos surpreende desde sua estreia. Sua obra claramente mostra a autora formada em Letras e Artes Cênicas que ela é, suas páginas são roteiros aguardando serem dados a vida pelo leitor, que irá encontrar nessas páginas um pedaço de alma, que nos faz acreditar que a Júlia realmente existe por aí. Para Aline, o papel é um canvas. Sua escrita é visual, nos faz enxergar, ouvir, sentir, mergulhar na atmosfera criada pela autora, de forma a sentirmos como uma história contada a gerações. Diferente de uma conversa de bar, o sentimento aqui é de observar a jornada da protagonista, sem interferir. Ela nos faz sentir o estado psicológico da protagonista sem necessidade de enfeites ou palavras extras. A ausência, a forma da diagramação, tudo nesse livro é utilizado como um elemento visual de contar algo, algum trecho da história. Cada vírgula, tamanho, fonte. Ela consegue misturar elementos de diversas escritas, como um roteiro de uma peça, uma poesia, entre vários outros, e transformar em algo apenas seu. A literatura nacional está muitíssimo bem representada com Aline Bei.