A Viúva Negra é provavelmente um dos personagens que mais sofreu no MCU, tanto fora como dentro das telas. Após sua primeira aparição em Homem de Ferro 2, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) precisou de mais de dez anos para receber um filme próprio, que aconteceu apenas após sua morte em Vingadores: Ultimato. Como se toda essa espera e a sua luta para se livrar das memórias da Sala Vermelha não fossem o suficiente, a produção, incialmente prevista para maio de 2020, ainda precisou ser adiada devido à pandemia da COVID-19. Hoje, em julho de 2021, finalmente podemos ver a vingadora estrelando seus próprios cartazes, mas com lançamento reduzido nos cinemas e simultaneamente no Premier Access no Disney+.
No filme, uma fugitiva Natasha até tenta viver secreta e isoladamente, até que seu passado mais distante chega até ela e a obriga a reencarar sua vida como espiã e os antigos relacionamentos com Yelena (Florence Pugh), Melina (Rachel Weisz) e Alexei ou Guardião Vermelho (David Harbour), que até então estavam enterrados em sua mente.
Se enganou quem pensou que este fosse ser um filme de espionagem, no estilo de Atômica. A Marvel ainda não se atreve a sair tanto assim de sua zona de conforto e desde o início fica claro que Viúva Negra é uma produção de ação de super-herói. Com poucos minutos já temos uma relevante cena de fuga com direito a batidas de carros, tiros e aviões. Mas existe uma diferença bem importante aqui, todas essas cenas, das grandiloquentes até as simples lutas corpo a corpo, envolvem pelo menos uma mulher. Isso pode não significar muito para uma parcela dos espectadores, mas para a outra – e ao que parece, a parcela na qual o MCU está apostando nesta nova fase – é impossível não se empolgar e não assistir a obra com um sorriso no rosto vendo no mínimo três mulheres totalmente badass lutando com um bastão e se jogando de grandes alturas sem hesitar.
Uma das grandes questões era como iriam lidar com uma personagem que já está morta. A resposta é simples: não lidam. O longa-metragem se passa durante o período no qual Natasha e Steve estão sendo procurados por não aceitarem assinar o Tratado de Sokóvia e esse é o grande elefante na sala. A todo tempo fica a sensação de que o lançamento está uns bons anos atrasado, mesmo desconsiderando os quatorze meses da pandemia. Viúva Negra deveria ter sido lançado entre Capitão América: Guerra Civil e Vingadores: Guerra Infinita. O filme se esforça bastante para localizar os mais desatentos na linha do tempo do MCU. Natasha mantém o cabelo ruivo, o Tratado de Sokóvia e sua fuga são citados a todo momento, mas fica a dúvida se será o suficiente para o espectador casual que viu a vingadora morrer há pouco tempo.
A produção é como se fosse um grande flashback com outros flashbacks dentro dela. Vemos um pouco da infância de Natasha e os créditos de abertura garantem algumas informações sobre a temível Sala Vermelha e suas espiãs super treinadas, mas nunca o passado da ruiva ali. A piada interna sobre Budapeste é finalmente explicada, conecta-se diretamente com a trama do filme e é responsável por um dos grandes twists – que os espectadores já calejados pegam rapidamente.
Os novos personagens apresentados são bastante carismáticos. Alexei é o escolhido para fazer a grande maioria das piadas, que David Harbour consegue entregar com a naturalidade exata. Já Rachel Weisz faz uma dura Melina que detém o conhecimento da Sala Vermelha e, apesar de pouco destaque, mostra ser uma pessoa fria, mas não insensível. Florence Pugh entrega uma excelente performance com sua Yelena, menos rígida que Natasha e com ótimas tiradas no timing correto.
Precisamos lembrar que estamos falando de um filme de super-herói sem super-herói. Tirando Alexei, que possui habilidades bem parecidas com o Capitão América, o terceiro ato confia demais na suspensão da descrença do telespectador quando insere ações e impactos praticamente impossíveis de um ser humano comum sofrer ou executar, ainda mais após exibir uma cena em que Yelena e Natasha precisam comprar remédios para dor após uma luta.
Com um final que faz uma ponte direta para Vingadores: Guerra Infinita e deixa poucas pontas soltas, é um filme que definitivamente poderia ser muito mais se tivesse sido lançado no momento certo. O senso de urgência é praticamente inexistente, afinal sabemos que de alguma forma vai ficar tudo bem até a chegada de Thanos, mas isso não tira o brilho que a produção possui. Após Capitã Marvel e WandaVision, Viúva Negra continua mostrando o caminho que a Marvel pretende seguir. Com Doras Milage, Viúvas Negras, Feiticeiras, Capitãs, paquistanesas e advogadas, ficamos feliz em dizer que ele é recheado de mulheres fortes, imperfeitas e incríveis.
PS: Existe uma cena pós crédito na qual aparece um personagem das séries e faz referência a uma das futuras produções televisivas da Disney+. Então sim, as séries terão conexão com os filmes pelo jeito.