CRÍTICA | O pretensiosismo de Sam Levinson na Segunda Temporada de Euphoria

pre·ten·si·o·sis·mo

(pretensioso+-ismo)

substantivo masculino

Atitude própria de quem é pretensioso;presunção; vaidade exagerada.

O significado de pretensiosismo é próximo das obras de Sam Levinson, onde é colocada toda sua vaidade e conceito, mostrando a assinatura do diretor e roteirista, porém até onde esse sentimento é bom? O conceito, o trabalho e sua forma de vaidade exagerada virando um padrão onde todos querem seguir, em formas técnicas e seu jeito de dirigir. Levinson nessa nova temporada de Euphoria, mostrou que as vezes sucesso e vaidade demais, poder ser um grande erro.

Após o estrondoso sucesso da primeira temporada (2019), o até então elogiado criador e diretor da série Sam Levinson retorna em Euphoria (2022) com um desenvolvimento de uma ambiciosa segunda leva de assuntos delicados, tentando explicar caminhos antigos e abrindo novos buracos. Agora, não querendo fugir de sua intenção inicial, Euphoria prioriza detalhes de cenário em plano aberto ou de minúcias em plano-detalhe, movimentação de câmera instigante e iluminação e edição com essência e envolvimento para ajudar a provocar as dores destacadas na temporada.

Embora esse segundo ano tenha tido uma ótima abertura e ainda toque em temas certeiros, ela força e se esforça para manter minimamente a sua continuidade, causando uma certa estranheza na qualidade já nos episódios seguintes. Do segundo ao quarto, a trama busca ser a mais equilibrada possível entre o peso do vício e o que se espera de um bom drama, mas seu andamento e sua velocidade acabam tendendo mais ao próprio vício, repetindo ciclos e situações sem uma condução decente ou um desenvolvimento necessário de personagens, caindo em seu próprio chavão. Ainda que seja compreensível o visual visceral e uma construção mais impactante do clímax como um todo, tais momentos da temporada chegam a ser sonífero, como que esquecendo sua relevância e trazendo mais do mesmo, sem qualquer atração ou singularidade, sobretudo com arcos mal amarrados como o de Maddy e Cassie (Alexa Demie e Sydney Sweeney) e da quase “imperdoável” dupla Cal Jacobs (Eric Dane) e Nate Jacobs (Jacob Elordi).

Em sequência, numa expectativa de se reerguer, é ironicamente a queda de Rue (Zendaya) que parece elevar a temporada. Nos quinto e sexto episódios, como transição para um aguardado final “euphórico”, o fundo do poço e a loucura da personagem, carregados de maneira excepcional pela atriz, colaboram para a imagem caótica que se cria, com perturbação até física e mental que dá a sensação de que chegará ao seu ápice de brutalidade.

Cumprindo essa expectativa, foi preciso que Lexi Howard (Maude Apatow) se tornasse a chefe da temporada, a realizadora de uma metalinguagem ainda maior. O penúltimo episódio revela o lado que funcionou de um pretensioso Sam Levinson, numa cinegrafia excelente, e com toques divertidos, empoderadores e reflexivos, sobre o poder dos laços e o poder da observação, além do desencadeamento do passado em expectativas.

No último episódio da temporada, numa irônica tentativa de final feliz, sua trama ainda lotada de pontas soltas, de inversões e omissões no roteiro, consegue ao menos entregar o peso das escolhas, tanto das personagens (principalmente Nate, Rue, Lexi e Ash) como de Sam Levinson, buscando refletir sua própria técnica, sem vergonha e sem se conter completamente. Com a espetacularização do próprio espetáculo – e sua “meta-difamação” na figura de Cassie -, a série encontra a si mesma e se revela um show de fotografia e audiência, mas com montagens duvidosas e desconexões nada esperadas que querem fingir ser parte daquilo.

Incluindo dramas fora da série, a relação entre um Levinson “acima de todos” e a equipe se mostrou arisca no período de produção, principalmente com Barbie Ferreira (Kat) e Algee Smith (Mckay), o que feriu a linha de raciocínio do roteiro em diversos momentos, evidenciando lacunas e diálogos sem coesão ou força.

Levinson, apresentou personagens, seus ideais e sua história, cada um teve seu início de jornada na primeira temporada, alguns até mesmo ganharam um episódio extra, citei acima sobre o caso do personagem da Barbie Ferreira, a Kat, que teve até um início de plot bom no início de temporada só que ao longo da história virou um chaveirinho da Maddy.

Um dos grandes descasos da temporada foi a personagem da Hunter Schafer, Jules, até então tinha um episódio extra contando outra visão da sua história, falando sobre sua heterossexualidade compulsiva por conta de aprovação e busca da feminilidade, Jules era protagonista junto com Rue, mas foi rebaixada para figurante de luxo, e toda a maturidade e história de Jules que vimos no episódio extra foi perdida em uma cena fetichista na segunda temporada, uma das piores coisas foi o Sam Levinson dando sua visão sobre a bissexualidade junto com puro fetichismo, uma série onde que era aberta a diversas questões se rebaixou para uma cena constrangedora e nojenta.

Resumindo uma temporada que começou um episódio inicial, entregando tudo o que muitos queriam e desejavam, a grande surra do Nate Jacobs, se perdeu ao decorrer dela, entregando episódios a baixo da média, podendo escolher no dedo quais episódios foram bons e de relevância para trama. Foram plots criados e perdidos ao longo dos episódios, pontas que deixaram soltas em outras temporadas e continuaram nessa, e pelo jeito vai continuar assim. Levinson criou questões e visibilidade na primeira temporada, para serem deixadas de lado, por pura vaidade e conceito. Mas como falado, até onde esse conceito é bom?

Porém, com seus também bons elementos dramáticos dentro dos recentes oito episódios, Euphoria se reafirma como um abre-alas de atuações excelentes, com destaque para Angus Cloud, Sydney Sweeney, Javon Walton, Jacob Elordi e Zendaya. Assim sendo, dentro dessa audácia do roteirista e diretor, existe o medo de uma ambiguidade equivocada: há nessa segunda temporada uma isca para uma leva no Emmy, ou uma tentativa genuína de Levinson de se reinventar (mesmo que com um time que já vinha ganhando) e se consagrar igual a sua representante Lexi Howard? Só 2024 dirá.

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