CRÍTICA: A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Nessa sexta-feira (30) estreia A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, animação da Sony Animation que estrearia nos cinemas e que por conta dos vários adiamentos devido à pandemia, a Netflix acabou comprando os direitos e sendo a principal distribuidora do longa. Esse projeto é o primeiro de muitos desse longo acordo entre a Sony e a Netflix e podem esperar por muita coisa boa vindo por aí, a começar por essa.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é sobre uma família que precisa salvar o mundo de um apocalipse provocado por robôs. Tudo começa quando a filha mais velha, Katie Mitchell, consegue entrar na faculdade de cinema que sempre sonhou e não vê a hora de sair de casa. Só que o pai dela quer por que quer levá-la até a faculdade de carro e com a família toda, só que essa viagem não poderia ser mais do que emocionante: estar no meio de um mundo apocalíptico dominado por robôs.

Imagem: Reprodução/Netflix

Estética estranhamente linda e técnica.

Logo na abertura da animação, particularmente nos créditos, a primeira coisa que atrai a nossa atenção é nos traços de como ela foi feita. Temos o tempo todo a sensação de que várias técnicas de traço foram utilizadas aqui, o que é interessante, já que normalmente a utilização de dois ou mais traços super diferenciados num único lugar causa uma certa estranheza. Aqui, a estranheza funciona e funciona muito bem, pois além da questão do traço em si, temos o mix de uma animação que utiliza além do 3d, vários e vários elementos 2d (parecendo terem saído de um rascunho de alguma página) e também elementos reais – o que é muito ousado. Além disso, o longa traz um toque mais atual em relação ao que é utilizado nas redes sociais, como os filtros de Instagram ou os memes virais que juntando tudo, traz uma composição visual muito rica e atual.

De um estúdio que trouxe o Oscar de Spider-Man: Into the Spiderverse, uma animação com roteiro extremamente bem desenvolvido e visualmente impecável, parece que eles acharam a garantia do sucesso, contando – mais uma vez – com a presença da dupla Phil Lord e Chris Miller só que agora na produção. Quem fica responsável pela direção e roteiro são Michael Rianda e Jeff Rowe, diretores do conhecido Gravity Falls. Com essa deixa, vamos ao próximo passo: falar sobre o roteiro.

Super conectados, mas não tão assim…

Durante o percurso da história, conhecemos cada um da família Mitchell: temos Katie Mitchell (dublada por Abbi Jacobson), a filha mais velha da família, a aspirante a estudante de faculdade de cinema e é a mais “super conectada”; Rick Mitchell (dublado por Danny McBride) é o desconectado da família, é aquele pai das antigas que não sabe mexer nas tecnologias mais recentes e é contra elas aliás, mas é o pai que sua família é o seu bem maior e faz de tudo para que protegê-la; temos Linda Mitchell (dublada por Maya Rudolph), a supermãe, que está sempre conectada em fazer tudo para que a família seja mais unida e que possa agradar a todos, principalmente com o fato dela estar sempre tentando resgatar a relação da filha mais velha com o pai e por último temos o super conectado com dinossauros, Aaron Mitchell (dublado por Michael Rianda, sim um dos diretores), o filho mais novo da família.

Por ser uma animação para família, nós conhecemos familiaridades de cada personagem da família Mitchell ao longo da história que podemos até nos identificarmos com elas, sendo a forma de pensar ou até em maneirismos que lembram algum familiar nosso – ou até de nós mesmos. E por ter essa identificação com a história, isso acaba – dependendo do ponto de vista de cada um – virando uma crítica, justamente no quesito de respeitar as diferenças de cada um, sendo em forma de pensar, de agir, de falar… de qualquer coisa. Essa crítica abordada na animação foi bem interessante pela forma que Michael e Jeff escolheram: mesmo com todo cenário apocalíptico como primeiro plano, de forma implícita, os dois trouxeram que independente de cada um ser diferente na família Mitchell, dá para respeitar as suas diferenças através do amor e carinho que eles têm uns pelos outros. Que aqui amor não falta, viu? E assim, o mundo pode estar acabando, mas o amor resiste #filósofa.

Temos MUITOS easter-eggs, principalmente do meio para o final da animação: dois fazem ponte diretamente aos Vingadores, com o “Assemble!” de Endgame e  a segunda cena pós créditos de Avengers 1, com todos indo comer shawarma – aqui substituído por burritos. Mas não fica apenas para os marvetes.. os dcnautas tem um easter-egg também: há uma cena que eles refazem a abertura da série do Batman de 1966, com o pai Rick. E um possível último easter-egg é a torre de comando da vilã Pal, que visualmente é parecida com a Torre de Sauron

Imagem: Reprodução/Netflix

Atualmente para muita gente, ter uma produção tendo como base o tema apocalipse + robôs como cenário, acaba caindo no hall de temas abatidos em Hollywood, mas aqui esse tema vai muito mais além: ele é tratado justamente como uma crítica às relações humanas vs tecnologias. Nós cada vez mais estamos vivendo a nossa vida mais “conectada” com o uso constante de internet, fazendo com que passamos boa parte do dia olhando para a tela de um celular ou um computador, sendo para trabalho ou sendo para diversão e isso acaba afetando muito as nossas relações, mais precisamente com os nossos familiares e também a falta de aproveitamento com o ambiente ao nosso redor.

Uma prova atual disso é de estarmos confinados em nossas casas por causa da pandemia e a internet estar sendo o meio facilitador para trabalho, amigos, familiares… mas ao mesmo tempo, faltando o “desconectar”. Através da vilã Pal, uma inteligência artificial que foi “deixada” pelo seu dono, que percebemos como nós nos entregamos na internet e se, num futuro distópico ter essa possibilidade que aconteceu no longa, nós não poderíamos reclamar. Nossa vida basicamente está na internet de alguma forma, você postando fotos ou não, há algo seu deixado na internet de qualquer jeito que pode causar grandes problemas para nós mesmo, um exemplo disso é quando acontece roubos de dados.

Imagem: Reprodução/Netflix

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é com certeza uma animação para toda a família, dos mais jovens até os mais velhos. Com muita ação, comédia e drama (!), a história é original de certa forma, há seus pequenos deslizes em relação ao roteiro, mas isso não chega a estragar a experiência que você terá na animação como um todo.

A escolha dos roteiristas Michael Rianda e Jeff Rowe de trazer uma linguagem mais atual dá um toque a mais nessa animação – deixando até mais inclusiva, mas sem excluir algumas lições de como uma conversa ou aproveitar o que está ao nosso redor, tem tamanha importância. Com a forte presença da assinatura de Phil Lord e Chris Miller em mais uma produção, vemos que essa parceria de sucesso entre a dupla e a Sony Animation trará benefícios diretos e agora com a Netflix atuando como distribuidora, só agrega ainda mais.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas chega no catálogo da Netflix nessa sexta-feira, 30 de abril.

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