CRÍTICA: 2ª Temporada de Beastars (com spoilers)

Para os otakus que não aguentavam mais a Netflix não divulgar a data da segunda temporada de Beastars, finalmente chegou o momento: a segunda temporada de Beastars – um dos animes de grande sucesso da plataforma – chegou hoje na plataforma.

Para quem não conhece Beastars, é um mangá ilustrado e roteirizado pela autora Paru Itagaki onde traz Legoshi, um lobo cinzento apaixonado por Haru, uma coelha anã. Ambientando no mundo de animais antropomorfizados onde carnívoros e herbívoros vivem em paz – até certo ponto – traz elementos sobre autoconhecimento, respeito, convivência e justiça. A própria tentativa de relação de paz entre carnívoros e herbívoros é algo a se pensar, principalmente quando tratamos de algo meio que impossível de dar certo – tanto que os dormitórios são separados para que não haja um possível confronto entre as espécies.

Em 2019, o anime foi produzido pelo Estúdio Orange, distribuído pela Netflix e a Fuji TV no Japão, chegando mundialmente só em 2020 na Netflix. O anime, por conter violência verbal e física, conteúdo sexual (!!!), a classificação é para maiores de 16 anos. O sucesso foi tanto que, ao terminar a primeira temporada, a renovação já veio nas pós-créditos – mas sem uma data para o lançamento.

Com a sua conta em risco, spoilers a seguir.

(Imagem: Divulgação / Netflix)

Logo no início da primeira temporada, descobrimos o primeiro de vários plots de Beastars que já é mostrado para nós: o assassinato da alpaca Tem. Bom, num cenário onde carnívoros e herbívoros estariam “vivendo” em paz, acontece algo que pela lógica, não seria algo de muito assustador já que estamos lidando com predadores e presas vivendo em sociedade. Com vários carnívoros se tornando suspeitos, temos o lobo cinzento Legoshi, o protagonista que nos guia durante toda a história do anime e descobrimos que o lobo cinzento não quer a fama que todos os carnívoros têm, mas a de que carnívoros não são “100% carnívoros”, onde os herbívoros não precisam ficar com medo o tempo inteiro, porém, seu instinto de predador ainda está lá e ele quer domá-lo. Infelizmente numa falha, Legoshi acaba quase “devorando” Haru, uma coelha-anã, durante uma volta e acaba, através do seu instinto de caça, encontrando o amor.

Conforme a história vai avançando, novos personagens vão aparecendo, mais camadas vão surgindo e tornando a história mais interessante do que uma impossível história de amor: conhecemos Louis, um cervo orgulhoso, arrogante e famoso na escola por ser líder do grupo de teatro e ser o próximo Beastar; sabemos mais do lado pessoal de Haru e do porquê que ela quer ser validada como uma pessoa;  descobrimos que existem gangues e lugares perigosos como o Mercado Negro; fora as relações estruturais existentes entre os próprios carnívoros e herbívoros e o senso de justiça ao assassinato de Tem. Terminamos o primeiro ano com Louis desaparecido após matar o líder da organização criminosa Shishigumi e Legoshi obstinado a saber quem matou Tem, além de querer domar seus instintos para proteger Haru e não ter o amor crescendo cada vez mais que seus instintos também crescem.

Chegamos ao segundo ano de Beastars com uma história mais tensa do que a primeira temporada e com mais elementos investigativos, mistérios, horror e tensão chegando. A missão de Legoshi em encontrar o assassino de Tem permanece, mas ele não está sozinho dessa vez: Rokume, a cascavel de “Seis Olhos” e a única segurança do colégio, estimula o lobo a fazer justiça e mesmo que tenha pouco tempo de tela, a presença dela é intrigante e o que diríamos como um pontapé inicial para a jornada do nosso Sherlock Holmes. Um novo personagem na história é Pina, um carneiro playboy de personalidade forte e que está sempre testando os limites do perigo, também dá uma força não só na caminhada de Legoshi em descobrir o assassino, mas também dá uma pavimentada no clube de teatro.

(Imagem: Divulgação / Netflix)

Na primeira temporada, a história mais interessante é a de Legoshi, principalmente no quesito de como um lobo cinzento lida com o seu instinto predador atrelado ao amor por uma coelha-anã. Nesse segundo ano, apesar da história focar na resolução de quem assassinou Tem, os holofotes ficam por conta de Louis, que está de volta, agora como líder da gangue Shishigumi.

Claro que essa liderança de Louis tem um preço, e diferente do que vimos na primeira temporada dele como um cervo orgulhoso e arrogante, agora vemos um Louis mais sensível e confuso, por ser um líder de uma gangue… de leões. O que é um herbívoro comer carne de outros herbívoros para provar que pode ser um líder de gangue como um carnívoro na cadeia alimentar? Mais camadas da história de Louis são mostradas e cada vez mais entendemos o porquê daquele cervo querer passar tanta imponência diante de outros animais.

Um segundo holofote seria para o assassino de Tem, que por mais lógico estarmos vendo uma história envolvendo carnívoros e herbívoros, vimos que certos tipos de carnívoros também têm de lidar com seus próprios medos, os problemas específicos da espécie e a forma como conseguem aliviar suas dores. Para quem não está familiarizado com o mangá e descobrir através do anime quem é o verdadeiro assassino, pode achar mais interessante justamente pelo fato de que ele estava ali rodeando os principais protagonistas. Por mais que achamos que possamos ter autocontrole sob nós mesmos por um milésimo de segundo, isso não quer dizer que de fato teremos e podemos arruinar… tudo. O encerramento do plot de assassinato não é tão grandioso quanto esperávamos, com uma mega luta entre Legoshi e o vilão, mas valeu pelas interações que ambos tiveram e como a história de Beastars pode continuar.

(Imagem: Divulgação / Netflix)

Mas e a história da Haru com o Legoshi? Bom, ele fica como terceiro pilar da segunda temporada. Com o amor e o instinto de mãos dadas, Legoshi resolve domá-los com a ajuda de Gohin, o panda psicoterapeuta que fica no Mercado Negro. Gohin aliás tem um tempo de tela maior nesse novo ano, sabendo mais sobre o personagem e os intensos treinamentos que ele dá a Legoshi para torná-lo protetor de Haru. O interessante da jornada é que ao mesmo tempo que o lobo cinzento começa a controlar mais o seu instinto, o seu amor com a Haru fica mais forte e mais… afastados ficam. Essa proteção que Legoshi quer ter com Haru acaba afastando a coelha anã e a relação entre eles durante a temporada se torna uma montanha-russa.

A conclusão que tenho é de que o brilho que a primeira temporada de Beastars teve se manteve na segunda temporada, principalmente em dar mais profundidade a personagens que já conhecíamos. Novos temas foram explorados, como autocontrole, lealdade, a autossabotagem, provação… temas que são mais pessoais do que coletivos. O que faz de Beastars – mesmo que seja no universo de animais antropomorfizados – são as analogias às relações humanas de raça, gênero, ideologias, religiões, entre outros. Mesmo que sejamos humanos, agimos como se fossemos animais em alguns momentos e aí é o xeque-mate que torna Beastars um dos mangás e animes de grande sucesso. E Legoshi? Será que tornará o herói das ruas? E Louis, como ele ficará diante de tudo que aconteceu? E quem ficará como líder da gangue Shishigumi? Essas e muitas outras questões estão para serem respondidas na possível terceira temporada.

 

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