Ao mesmo tempo, ficava cada vez mais claro para mim até que ponto os humanos, em seu anseio de fugir da solidão, faziam manobras muito complexas e difíceis de compreender (p.126)
Klara e o Sol traz o velho dilema: uma inteligência artificial x humanidade. Abordado na filosofia e diversas outras áreas de conhecimento, esse tópico é uma discussão sem fim.
E aqui, o autor Kazuo Ishiguro insere seu nome para a discussão.
A história aborda Klara, uma inteligência artificial, que ao conhecer Josie, embarca em uma jornada de reflexão e de mudar sua vida completamente.
Para quem já assistiu o filme Inteligência Artificial (2001) de Steven Spielberg, talvez perceba o dilema enfrentado na história de Klara, entretanto, ao colocar Klara como o foco na narrativa, Ishiguro cria a observadora perfeita para refletir na humanidade. O que nos faz humanos, o que é o amor, o que é o indivíduo, nós temos alma? São questões que o livro sequer tenta responder, mas contribuir para aumentar ainda mais a reflexão.
Assim que terminei a leitura, passei uns 30 minutos refletindo sobre o que tinha lido (e indiquei para uns 5 conhecidos). Precisei respirar um tempo antes de escrever essa resenha, porque não é fácil falar de Klara e o Sol. As reflexões que Ishiguro coloca em questão, apesar de ”batidas”, ganham uma nova proporção na trama que o autor criou, nos inserindo na narrativa que tira a questão do macro e joga para personagens específicos. Uma questão universal, entretanto que afeta indivíduos de forma única. E nem mesmo um núcleo familiar de 3 pessoas irá reagir igual para a mesma questão.
Fiquei um pouco receosa em pegar o livro, porque não tenho muito costume em ler ficção científica, mas o futuro distópico é só um pano de fundo, que o autor sequer se dá ao trabalho de aprofundar, para uma reflexão sobre o coração, no sentido poético.
Muitas pessoas consideraram o livro ”lento”, mas admito que não foi o caso comigo. Devorei o livro em 2 dias, e a única coisa que pensava era nele, em como resolver a situação problema colocada ali. A atmosfera realmente possui um ritmo próprio, mas que para mim funcionou bem no sentido de imersão no universo de Klara.
Klara é inteligente, claro, mas também é ingênua, curiosa e uma das melhores protagonistas que li ultimamente. Suas tiradas, sua forma de falar, seu jeito de observar o mundo, por mais deslocado da realidade humana, a tornam tão única e amável, que fiquei surpresa.