CRÍTICA: O Esquadrão Suicida (sem spoilers)

O novo O Esquadrao Suicida chegou e já chego logo de cara perguntando: vocês gostam do trabalho de James Gunn num contexto geral, principalmente na franquia de Guardiões da Galáxia?

(gatilho) Vamos relembrar um pouco a história de como ele veio parar no estúdio rival da Marvel Studios: Warner Bros/DC. Em 2018, James Gunn teve vários de seus antigos tweets expostos relacionados à pedofilia e a estupro na rede social e ele foi extremamente criticado, chegando a tal ponto que atores e atrizes da franquia de Guardiões a fazerem uma carta aberta em defesa do diretor (…) e a Marvel Studios demiti-lo da empresa.

Com o afastamento dele na Marvel Studios e consequentemente da direção do terceiro filme dos Guardiões, a Warner viu uma oportunidade de ter em seu estúdio um diretor “criativo” e com uma legião de fãs já estabelecida, resolveu contratá-lo. Claro que eles não iriam perder esse tipo de oportunidade. Com a contratação, a Warner deu total controle criativo para James Gunn, que além de dirigir, escreveu o roteiro do filme.

O novo squad, os integrantes do Esquadrão estão em uma missão de busca e destruição na remota ilha Corto Maltese, e o Coronel Rick Flag é o único homem em terra responsável por fazê-los se comportar… além dos técnicos do governo da equipe de Amanda Waller, falando em seus ouvidos e rastreando cada movimento deles. Como sempre, basta um movimento errado e eles vão acabar mortos.

O Esquadrão Suicida é um reboot do Esquadrão Suicida de David Ayer lá de 2016 e podemos até considerar de “certa forma” que ele também é uma sequência por conta da reutilização de alguns personagens já conhecidos no primeiro longa: Amanda Waller (Viola Davis), Rick Flag (Joel Kinnaman), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e Arlequina (Margot Robbie). No novo universo desse filme, todos já se “conhecem”, porém a forma como foi abordada deixou em aberto, não sabendo de onde eles de fato se conhecem – e esse meio que o diretor encontrou foi bacana, orgânico e de diretor para diretor, até respeitoso.

Falando brevemente sobre esses personagens, a presença de Amanda Waller está muito mais “o pão que o diabo amassou”, com uma atuação inegável da grande Viola Davis (se você achou que Waller era manipuladora no primeiro, nesse ela está bem pior); Rick Flag aqui está até mais interessante, pois vemos um outro Flag: “o coronel pode até receber ordens, mas não quer dizer que as obedeça”; o Capitão Bumerangue está um pouco mais sarcástico e o que dizer da Arlequina? A única coisa que eu falarei é que ela não está sexualizada e claro, Margot Robbie, não preciso dizer o quanto ela é carismática e contagia o público muito rápido. Aqui o diretor não trabalhou tanto no desenvolvimento dela, mas manteve o que a roteirista Christina Hodson fez para Aves de Rapina – que aliás há uma cena que prova a emancipação da personagem, com um discurso a se pensar no que a protagonista já passou dentro do DCEU. Mas o Esquadrão tem muito mais integrantes, não é?

(Imagem: Divulgação / Warner Bros)

Idris Elba (Sanguinário), Daniela Melchior (Caça-Ratos 2), John Cena (Pacificador), Sylvester Stallone (dubla King Shark), David Dastmalchian (Bolinha), Sean Gunn (Doninha), Pete Davidson (Blackguard), Michael Rooker (Savant), Peter Capaldi (Pensador), Flula Borg (Dardo), Nathan Fillion (TDK), Alice Braga (Sol Soria), Taika Waititi (#semspoiler), Storm Reid (filha de Sanguinário), entre muitos outros, aceitaram integrar ao novo reboot. Falando propriamente na nova formação, pelo filme em si ter como influência os primeiros quadrinhos do Esquadrão criados por John Ostrander lá em 1987, grande parte dos personagens não são de conhecimento público por grande parte dos fãs da editora. Dentre muitas habilidades que cada vilão tem, indo desde aquele que pode transformar qualquer coisa em arma letal; passando por quem faz tudo (até matar) para garantir a paz; aquele que arranca seus próprios braços para usar como armas; o que usa bolinhas como habilidade; a que se comunica com os roedores… e quem chama mais atenção em O Esquadrão Suicida é justamente ela, a Caça-Ratos 2. A personagem é si é daqueles personagens que a gente já cria uma empatia logo de cara e acaba se “envolvendo” com ela por algo que nós nos identificamos de certa forma, mesmo que ela seja uma vilã. O diretor e roteirista a desenvolveu como uma personagem dos tempos atuais, tornando uma sacada muito boa, fora a questão da própria história dela dentro do universo DCEU sendo uma personagem totalmente original criada para esse filme. Nos quadrinhos, o Caça-Ratos original é chamado Otis Flannegan e aqui a história é diferente, tornando a Caça-Ratos 2 o coração do filme (sim!) e puxando assim um drama ali no enredo, justamente por ela ser filha do original! Daniela Melchior já está no meu coração pela brilhante atuação como Caça-Ratos 2, e digo mais, o público vai com certeza amar a personagem e o que está envolvido na história dela <3

Outro personagem que chama bastante atenção é o Sanguinário vivido pelo veterano Idris Elba. Na época que o ator foi anunciado, muitos rumores disseram que Idris substituiria Will Smith no papel de Deadshot (papel de Smith no Esquadrão de 2017) e estavam super preocupados com isso, já que Storm Reid também havia sido anunciada como filha do personagem que o Idris iria interpretar, mas até então não sabíamos qual era. Depois de muito tempo e chegando perto do DCFandome, foi divulgado finalmente qual personagem Idris iria interpretar: Bloodsport, ou o Sanguinário. Aqui o personagem também faz parte do núcleo de drama e por isso ele tem uma relação com a Caça-Ratos 2 (essa relação não é sexual e nem amorosa ein!) por conta das histórias terem um ponto em comum. Quando o personagem aparece, você percebe a imponência que ele tem na cena e o seu comportamento reflete do porquê ele estar ali e ainda dele ser o líder desse novo Esquadrão. E não poderia ser outra pessoa para interpretar o Sanguinário sem ser Idris Elba, que atua maravilhosamente por aqui e interpretando um personagem com várias camadas como ele têm.

Para completar o trio de personagens que chamaram atenção, o King Shark foi o último deles. Diferentemente da Caça-Ratos 2 e Sanguinário, o King Shark foi no quesito de tanta espera para vê-lo em um live-action. O King Shark é do núcleo cômico, porém não é o tempo inteiro. Claro, se tratando de um Tubarão é óbvio que teremos violência, e uma violência explícita e ok, já que estamos falando de Esquadrão Suicida. Eu poderia dar uma menção honrosa para o Bolinha, um vilão – que na época que estavam falando sobre quais eram os vilões que fariam parte desse reboot, foi bastante questionado sobre a presença de um vilão que soltava bolinhas. Para quem não conhecia ou estava com um certo receito de como ele seria retratado em um filme, é muito bem feito como o Gunn desenvolveu o personagem aqui e demonstrou as habilidades dele, fazendo com o próprio não fosse recharçado por soltar bolinhas. O problema que foi para mim e não conseguiu me deixar satisfeita, foi por conta de parte de sua história ter um humor bem ácido. Óbvio que a história do vilão é bem triste e até entendemos a motivação do personagem em aceitar fazer parte do time, porém por conta dessa motivação, ela é encarada como humor bem ácido e que poderia, na minha visão, ter sido feito de uma outra forma. O Pacificador – cuja a série já está programada para estrear em 2022 na HBO Max – por exemplo, é um personagem que para mim não chamou tanta atenção em quesito personagem solo, porém a dinâmica dele com Sanguinário e Rick Flag são interessantes. Não falarei mais para não dar spoilers, porém essa foi o único ponto que eu gostei do personagem, fora ele, não. Mas Natália e os outros novos personagens, não conta? Claro que conta, eles são interessantes, mas ao meu ver, não chamaram tanta atenção quanto o Sanguinário, a Caça-Ratos 2, o King Shark… nem o coitado do Doninha salvou dessa. Já ia me esquecendo da brasileira Alice Braga interpretando uma soldado chamada Sol Sori, mas já te digo que ela não tem muito tempo de tela. Não espere pelo menos uns 15/20 minutos dela no máximo.

(Imagem: Divulgação / Warner Bros)

Mas Natália de que forma o James organizou essa nova história? Se compararmos com o primeiro filme, esse com certeza é o 7 a 1 da Alemanha com Brasil, não tenha dúvidas. Montagem de cenas, fotografia, ação, a direção de câmera, a própria história e a forma como ela foi retratada – considerando as referências que o diretor teve com os primeiros quadrinhos do Esquadrão Suicida – já faz ser melhor que  o primeiro filme. O primeiro filme ele não existe depois que você assistiu a novo Esquadrão.

Com uma história maciça e de reviravoltas, o diretor teve algumas “tiradas” interessantes para ligação em alguns pontos que aconteciam momentaneamente, parecendo como se fossem quebra-cabeças e que depois foram juntadas todas as peças. Gunn na Marvel, fez com que uma equipe que quase ninguém conhecia nos quadrinhos se tornasse uma das maiores equipes do MCU e das mais adoradas pelos fãs e aqui ele repetiu a fórmula. De personagens que quase ninguém conhecia por não serem tanto falados no mundinho DC, vão torná-los conhecidos, principalmente dos que mencionei anteriormente. Como falei, a história é maciça e de reviravoltas, com uma história lógica (sem rodeios para a apresentação na missão), envolvente e divertida, estará com certeza no top filmes DCEU de muita gente. A forma que o diretor resolveu contá-la é bem interessante: você sabe qual será a missão nos primeiros minutos, mas até cumpri-la, você (e os vilões) tem um longo caminho pela frente e claro, não é fácil. Dentro da própria história, temos outras mini historinhas que são acrescentadas e que te levam a outros caminhos, chegando num ponto de encontro, percorrendo até o cumprimento da missão, com o envolvimento das  histórias dos personagens, o trabalho em equipe deles, críticas explícitas aoS governoS, humor ácido (demais!) e muita violência (muita MESMO).

Para quem curte um filme cheio de violência, é um prato cheio esse filme e não é atoa que nos Estados Unidos foi classificado com alta classificação (Rated R = +18). Tem muito gore do tipo, pessoas cortadas ao meio, tiro na cara, pessoas incendiadas… todo tipo de morte teve ali, mas não é o tempo inteiro, é uma violência que é colocada em pontos específicos e não deveria chocar, já que os quadrinhos de Esquadrão Suicida são violentos. Outro ponto que também é feito com dose certa é o humor. Não espere um filme cheio de pitadas de humor, é como eu disse, ele também está na dose certa. Claro, tiveram alguns momentos que foram desnecessários, mas não é pela quantidade e sim quando ele foi usado (humor ácido, duh). Chega a ser até engraçado imaginar que o mesmo diretor fez um Guardiões da Galáxia 2 cheio de piadas e mais piadas que acabaram com o filme. Aliás o humor se reverbera até no contexto do próprio filme, os personagens não se levam a sério, o filme em si, não é levado a sério, levando o humor ácido até ser extremamente escrachado, com piadas dos nossos tiozões e até de héteros top (é real viu? hahah). Para quem tinha receio dos cortes desse filme pelo trauma que teve no primeiro, pode ficar despreocupado porque aqui está tudo organizado, não tivemos história sem pé e nem cabeça em alguma parte, nada, ficou tudo redondinho e até demais, chegando a ser desorganizado (de certa forma) na parte de montagem, mas falaremos adiante. Quem gosta de filmes de ação muito bem feitos, O Esquadrão Suicida estará entre filmes favoritos, com toda certeza. Lutas muito bem coreografas, divertidas e até tivemos algumas que faltaram ar por conta de tudo que estava acontecendo na cena, um exemplo claro é uma cena da Margot Robbie como Arlequina feita em uma tomada única, dando aquela adrenalina no sangue. Um ponto que achei até estranho é das críticas que fizeram ao governo americano, que tem muito a ver com uma das várias mini histórias dentro da principal, porém, toda via, tivemos outros pontos que não gostei e aqui começamos os pontos negativos do filme.

O cenário que é passado o filme é uma ilha da América Latina, especificamente da América do Sul e quando os americanos usam o cenário ou até a população latina dentro dos filmes, nós latinos temos receio da forma que eles vão nos retratar. Citando Mulher-Maravilha 2, tivemos estereótipos tanto latinos quanto árabes que causaram muitas críticas e aqui eu repito em O Esquadrão Suicida de James Gunn. Infelizmente, eu fiquei o filme inteiro com raiva por conta do estereótipo que foi retratado aqui, isso indo desde os personagens do núcleo latino até o cenário que foi usado. Floresta? Isso é o de menos que fiquei incomodada. O que mais me deixou com raiva o filme inteiro foi a caricatura que o diretor fez dos personagens do núcleo. Dentro da história temos ditadores e revolucionários, que de forma bem caricata, infelizmente cai no estereótipo e sabemos que não é assim como foi retratado – mesmo que a ilha não exista, foi incômodo. Fora estereótipos dos personagens, tivemos nos lugares, que retrataram um contraponto entre governo americano, com cenário limpo, organizado e tecnológico e governo ditatorial, com cenários sujos, desorganizados, óbvio a presença de florestas, fora as questões de retratação mais pesadas e críticas de governos que não irei falar, é só realmente assistindo para ver. Esse ponto de estereótipo me incomodou bastante, porém tivemos outros que não foram tanto incômodo assim. A forma que o diretor buscou trazer a história de uma forma redondinha, também me incomodou, mas partindo do pressuposto que você está tendo uma linha de pensamento e de repente ter que voltar para ter uma base de como chegou naquela cena, podendo haver até confusão do que é passado e o que é presente, mesmo com as chamadas que o diretor coloca para identificarmos aonde estamos e quando estamos. Em quesito de humor, eu achei que esse seria o ponto que mais me incomodaria, porém isso só me incomodou na questão da história do vilão Bolinha, de resto foi na dose certa. E falando de personagem, pela quantidade de personagens apresentados no novo filme, claro que não daria tempo de fazer uma apresentação bem completa da história dos personagens – é até entendível, mas não precisava ser tão breve assim e tão, podemos dizer, apressado. Dois personagens em si tiveram suas histórias mais em destaque (digo em relação aos novos personagens) do que os outros, podendo até ser uma forma dos mesmos terem um futuro guardado nos próximos projetos do DCEU – projetos esses que até então nada confirmados.

(Imagem: Divulgação / Warner Bros)

A trilha sonora será uma surpresa para muita gente. Como todos já sabem, James Gunn usa muitas músicas antigas, vindouros das mixtapes de Peter Quill na franquia de Guardiões e aqui não foi diferente. O filme todo é embalado na atmosfera dos anos 90 e também dos anos 2000. Por ter um núcleo latino, tivemos músicas latinas nele e sem estragar a surpresa, Brasil é um país sul-americano, não é? Amei toda a trilha sonora, mesmo.

Em conclusão, O Esquadrão Suicida é sim um filme que vai cair no gosto de muita gente. Claro que o filme não é perfeito e nem o melhor do DCEU, pois há suas ressalvas, mas se formos comparar com o outro Esquadrão, ele com certeza é o melhor e não tenha dúvidas. A Força Tarefa X que queríamos ver no primeiro filme está aqui, num filme explosivo, violento e divertido, com nós espectadores envolvidos com o carisma de alguns personagens e uma história bem feita. Infelizmente, ele caiu no conceito dos estereótipos de filmes americanos, principalmente aqueles onde referenciam filmes de guerra. Sobre o futuro do Squad? Com certeza teremos mais e mal posso esperar para ver o que vem por aí do Universo DC.

Nota? 3.5/5

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