CRÍTICA: Luca

Em 2020, tivemos Soul, animação que nos traz questões sobre o sentido da nossa vida. Em 2021, temos Luca, animação que tem como temas liberdade, amizade, curiosidade e até descobertas – de certa forma.

Quem nunca quis se aventurar pelo mundo? Ter a sua própria liberdade para descobrir nesse mundão novos lugares, paixões e conhecimento de várias coisas sob a sua própria curiosidade, sem esquecer de ser você mesmo e sem deixar de dar a sua voz nesse mundo. Esses são os pontos de partida de Luca, a nova animação da Disney-Pixar para esse ano.

Ambientado na bela Riviera Italiana, Luca é uma história de transição da infância para a vida adulta de uma criança durante um verão inesquecível repleto de macarronadas, gelatos e passeios incríveis de motoneta ao lado de seu novo amigo Alberto, mas um grande segredo  ameaça colocar fim à diversão: abaixo da superfície da água, eles são monstros marinhos! Luca tem direção do indicado ao Oscar, Enrico Casarosa e trilha sonora do já conhecido compositor, Dan Romer.

Antes de apresentarmos a história, vamos falar sobre um pouco dos bastidores dessa animação: Luca é de certa forma um recorte da vida do diretor Enrico Casarosa, onde Luca e Alberto são baseados no diretor e no seu amigo de infância chamado Alberto, que o conheceu quando tinha 12 anos de idade. O cenário também não deixa de ser familiar, já que Gênova é a cidade onde o diretor nasceu e claro que para você trazer cenários de uma cidade litorânea existente, você precisa estudá-la, não somente pela própria vivência, mas pelo estudo local… e foi feito uma grande pesquisa sobre a cultura local, arquitetura e com grande destaque nas comidas! Além disso, tivemos homenagens indo desde filmes italianos da década de 50, mitos e lendas italianas, até amor pela astronomia e astrofotografia – paixão de Chris Bernardi, supervisor de set. Os visuais dos monstrinhos também não ficaram de fora… foram usados 221 e 223 controles individuais nas bocas de Luca e Alberto para ajudar os animadores a criarem expressões nos personagens e Luca tem 3.436 escamas em seu corpo marinho. Já Giulia possui um visual diferentão, adotando uma linguagem em formas triangulares! Interessante não?

(Imagem: Divulgação / Pixar)

No início, temos a apresentação de Luca, um monstrinho marinho, filho único e que trabalha pastorando peixes-ovelha para a família. Por ser filho único, os pais são super protetores e fazem o possível para que seu filho trilhe um caminho certo e que nada aconteça com ele. E por ser um monstro marinho, filho único  com pais super protetores, quem poderá dizer que Luca não anseia em sair do mar e ir conhecer a superfície? Partindo do pressuposto da falta de liberdade e da grande curiosidade que Luca tem da superfície, o personagem conhece o seu futuro melhor amigo, Alberto, um jovem monstro marinho que diferente de Luca, têm a tal “liberdade”, só que seu sonho é ter uma moto Vespa e andar pelo mundo – o que acaba virando sonho de Luca também: ter uma moto Vespa era sinônimo não só de liberdade, mas de independência também. E a aventura começa daí, com Alberto  e  Luca na superfície conhecendo a cidade dos humanos, Portorroso, e de quebra, acabam conhecendo Giulia, uma humana de Gênova que passa as férias da escola nessa cidadezinha e acaba tornando uma amiga para os monstros marinhos, acumulando ambos memórias de verão litorâneo italiano.

Mais uma animação da Disney-Pixar de encher os olhos – tanto visualmente quanto literalmente. Com a história tendo um cenário litorâneo italiano como plano de fundo, a técnica do “animar” fica cada vez mais aprimorada, fazendo com que Luca no mar, tenhamos a sensação de estarmos mergulhados com a riqueza de elementos aquáticos, o aspecto das roupas que os monstros marinhos estão vestindo, o cuidado que eles tiveram nos detalhes e na variedade de seres aquáticos e do próprio ambiente, e o Luca na superfície, com as cores mais vibrantes, mais vivas, com a textura da areia e das comidas, com o cenário litorâneo italiano transmitindo até a sensação de brisa (e a falta dela na vida real), se perguntando por muitas vezes se o que você está olhando é uma peça feita de aquarela.

(Imagem: Divulgação / Pixar)

O longa é repleto de elementos, que por mais que demonstram ser bobos, eles tem uma simbologia muito grande: da corrida de Portorosso significar uma prova de sua própria independência até a exposição de ser um monstro marinho no meio dos humanos significar aceitação, faz de Luca mais uma animação que merece ser assistida de um jeito não superficial, “apenas para crianças”. Apesar da animação ter como protagonismo três crianças, os questionamentos vão muito mais além da pouca idade e nós já estamos cansados de saber que animações da Disney-Pixar sempre são além das crianças, vão para todas as idades. Bullying, medo e curiosidade do desconhecido, aprovação, paixão pela vida, respeito, amizade, aceitação… temas esses que já estiveram presentes em algum momento da nossa vida.

“Algumas pessoas nunca vão aceitá-lo, mas algumas vão. E parece que ele sabe encontrar as pessoas boas.” – Vovó Paguro

Para grande parte do público que assistir a Luca, verá como o grande tema principal do longa a questão da amizade, já a outra parte do público poderá ver por outro lado: uma metáfora de ser uma pessoa da comunidade LGBTQIA+, principalmente quando entra no tema da aceitação e não se esconder do mundo quem você é. Muito se parece com a realidade de quem faz parte da comunidade, que por muitas vezes precisa “se esconder” (infelizmente) para evitar ataques homofóbicos por parte da sociedade. E por favor, comparar Luca com Call Me By Your Name é de uma falta de respeito extremamente grande, não tem nenhuma lógica.

Com uma história cheia de simbolismos e estética de encher os olhos, faz Luca ser mais uma animação que vale a pena passar a mensagem de que amizades são mais do que valiosas, de não ter vergonha de ser quem você é ou do que você gosta, de que uma curva fora da linha pode sim valer a pena e acabarmos descobrindo um novo mundo, que adaptar a novas mudanças é necessário e não menos principal, a de respeitar uns aos outros.

Luca está disponível na Disney+ e gratuito.

 

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