10 hqs para fugir do núcleo norte-americano

Após dez anos de MCU podemos cravar que os super-heróis americanos nunca estiveram tão em alta. Provavelmente uma das melhores coisas que toda essa popularidade trouxe foi o crescente interesse pelas histórias em quadrinhos. De acordo com um levantamento realizado pela GfK junto a livrarias físicas e online neste mês de Julho, os quadrinhos subiram do quinto para o segundo lugar entre os mais vendidos ficando atrás apenas de romances. Mas a verdade é que “histórias em quadrinhos” é um termo bastante genérico e dentro deles existe uma infinidade de gêneros. Por isso hoje vamos indicar 10 publicações para fugir do núcleo mais difundido das nossas amadas hqs, fazendo uma pequena viagem ao mundo.

 

     O Eternauta 1969    O Eternauta 1969. Editora ComixZone (Argentina)

Alberto Breccia é um ícone do quadrinho argentino e qualquer obra sua poderia entrar nesta lista, ainda mais aquelas em parceria com o artista Osterheld, como Mort Cinder (Editora Figura) e Sherlock Time (Editora ComixZone).

O Eternauta 1969 é um remake da história que o próprio Breccia escreveu em 1957, na época com outro desenhista. Nela acompanhamos a devastação causada por uma invasão extraterrestre na cidade de Buenos Aires e a luta da população para entender e destruir os novos governantes. Não é nenhuma coincidência que esse material foi produzido em plena ditadura militar argentina. Inclusive Osterheld é até hoje um dos desaparecidos em decorrência do regime.

Verões Felizes. Editora SESI-SP (Bélgica)

Verões Felizes é aquele tipo de quadrinho que você lê com um sorriso no rosto. A premissa não poderia ser mais simples: acompanhar as férias de uma família europeia. O que se desenrola a partir daí é um complexo desenvolvimento de personagens, suas relações entre si e com o mundo. Tudo através de camadas por trás de pequenos acontecimentos, sempre de forma mais subjetiva.

A arte de Verões Felizes é daquelas de se admirar. Apesar de ser uma leitura rápida, vale a pena passar bons minutos observando os detalhes de cada quadro e paisagem. Até o momento foram publicados três volumes aqui no Brasil e não vemos a hora de embarcar novamente nesses verões europeus.

Um Pequeno Assassinato. Editora Pipoca e Nanquim (Inglaterra)

Se existe uma unanimidade no meio dos quadrinhos é que Alan Moore está na lista dos melhores escritores de todos os tempos. Após ser um dos nomes que repaginou o mercado durante a criação da Vertigo com sua fase em Monstro do Pântano e trazer o realismo para os super-heróis com Watchmen, em 1991 ele lança Um Pequeno Assassinato  juntamente com o artista argentino Oscar Zárate.

Nela vemos um publicitário que está prestes a alavancar sua carreira quando começa a ser perseguido por uma criança que o leva a uma viagem ao passado para enfrentar tudo aquilo que deixou para trás, ou seja, os pequenos assassinatos que cometemos diariamente. Como toda obra de Moore, Um Pequeno Assassinato é extremamente simbólico e, claro, excepcional.

Luzes de Niterói. Editora Veneta (Brasil)

Marcelo Quintanilla é hoje um dos grandes nomes dos quadrinhos brasileiros mundo afora, tendo ganho inclusive um prêmio Angoulême pela hq Tungstênio. Luzes de Niterói é seu lançamento mais recente e tem a cidade natal do artista como pano de fundo para uma história bastante delicada sobre a amizade de dois jovens.

A forma como Quintanilla usa a passagem de tempo nesta hq é impressionante e nos rende sequências angustiantes e de tirar o fôlego. Apesar de poder parecer trágica, o material é bastante leve, sendo uma ótima definição para o termo tragicomédia.

A Arte de Charlie Chan Hock Chye. Editora Pipoca E Nanquim (Singapura)

Mais uma publicação da Editora Pipoca e Nanquim, que é extremamente eficiente em trazer obras do mundo todo, A Arte de Charlie Chan Hock Chye é mais que um quadrinho, é uma experiência. Acompanhamos a vida e evolução artística do desenhista que dá nome à obra com a história de Singapura como pano de fundo.

A verdade é que Charlie Chan nunca existiu e o autor Sonny Liew dá uma aula sobre como mesclar gêneros e estilos em uma narrativa única e surpreendente.

Duas Vidas. Editora Nemo (França)

Escolher um representante francês para essa lista se mostrou uma tarefa árdua já que o país é um dos principais polos mundiais dos quadrinhos, não à toa o festival mais respeitado do mundo – o Angoulême – acontece por lá. É fácil acabar os dedos das mãos citando artistas franceses com obras incríveis publicadas por aqui, mas o escolhido foi Fabien Toulmé com seu excelente Duas Vidas, mas pode escolher qualquer obra dele que você não vai se arrepender.

Em Duas Vidas acompanhamos dois irmãos completamente diferentes, Baudouin que vive na inércia do dia a dia e Luc de espírito livre. Após descobrir um tumor, Baudouin decide largar tudo e aproveitar a vida junto de seu irmão, vivendo momentos incríveis e embarcando em uma jornada de autodescoberta. Prepare-se para um final emocionante.

Heimat. Editora Quadrinhos na Cia (Alemanha)

O representante alemão desta lista é um híbrido de história em quadrinho, álbum de colagem e diário. Em Heimat somos inseridos na história da família de Nora Kurg e toda a saga de investigação da autora que tenta entender melhor seus antepassados e suas respectivas ações.

No material é possível compreender o sentimento alemão em relação ao patriotismo e toda a culpa e vergonha que é passada de geração a geração devido aos acontecimentos do holocausto.

Heimat é um dos grandes exemplos do quão gratificante é entrar em contato com histórias de pessoas e povos tão diferentes, elevando exponencialmente a possibilidade de entendimento de uma cultura.

Rosa de Versalhes. Editora JBC (Japão)

Rosa de Versalhes é um marco dos mangás shoujo. Em pleno movimento pelos direitos das mulheres, na década de 70, a mangaká Riyoko Ikeda apresenta reflexões sobre identidade, gênero, justiça e amadurecimento através de uma história que se passa dentro da monarquia.

A personagem Oscar é um dos principais destaques. Uma garota que foi educada militarmente pelo seu pai e se tornou capitã da guarda real e encarregada da proteção de Maria Antonieta. Juntamente com André, amigo de Oscar, eles enfrentam acontecimentos que prenunciam momentos históricos como a Revolução Francesa.

O mangá foi publicado em cinco volumes aqui no Brasil pela editora JBC e vale super a pena.

Tina – Respeito. Editora MSP/Panini (Brasil)

É bem difícil encontrar alguém no Brasil que nunca leu um gibi da Turma da Mônica. Por isso não podíamos deixar de fora um dos principais selos dos quadrinhos brasileiros, o de graphic novels da MSP. Até o momento são 27 álbuns dos mais diversos personagens do Maurício de Souza, com muitos já icônicos.

Se em Chico Bento – Arvorada o tema principal é a perda de uma pessoa querida e em Jeremias – Pele o racismo, em Tina – Respeito acompanhamos o machismo, misoginia e abuso da mulher por uma sociedade patriarcal. Apesar de serem temas pesados, todos os artistas – e o editor do selo, Sidney Gusman, que merece muitos créditos – são brilhantes em lidar com eles de forma leve sem deixar de ter a seriedade necessária.

Além dos três citados, destaque também para a saga interplanetária do Astronauta, Penadinho – Vida que acaba de ganhar um segundo volume e a trilogia Turma da Mônica dos irmãos Caffagi, que foi utilizada como base para o filme live action da turminha.

Deadwood Dick. Editora Panini (Itália)

A Sergio Bonelli Editore é uma editora italiana com 80 anos de publicações e bastante conhecida aqui no Brasil, especialmente por seus personagens lendários como Tex, Zagor, Júlia e Dylan Dog. Inclusive, alguns desses personagens ganharam nova roupagem em álbuns europeus, destacando Mister No (Revolução e Califórnia, até o momento) que também estão sendo publicadas pela Editora Panini.

Deadwood Dick faz parte do selo adulto da editora italiana onde acompanhamos as aventuras do personagem principal pelo Velho Oeste, inclusive sua participação no exército e luta contra os índios. Poderia ser mais uma história de western se o personagem título não fosse um homem negro. Esse “detalhe” faz com que a obra ofereça diversas discussões sociais sobre a sobrevivência e vida dos negros após a libertação dos escravos no sul dos Estados Unidos. E se você precisa de mais um motivo, Deadwood Dick é baseado na figura de Nat Love, um pistoleiro que realmente existiu! A série será concluída em três volumes.

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