Uma versão moderna de um conto de fadas: Rapunzel, a heroína de sua própria história

Quando vemos os filmes de princesas da era clássica da Disney, acabamos sentindo certo incômodo. Isso provavelmente acontece, porque vemos mulheres que são retratadas abaixo dos príncipes como se fossem o prêmio dos homens. Infelizmente isso é um retrato da época.

As princesas da Disney são retratadas em três eras. A era clássica, era renascentista e a era moderna. Na era clássica, vemos princesas submissas aos seus príncipes. Já na era renascentista, isso começa a mudar aos poucos e chegamos até a era moderna, com personagens mulheres independentes. Entre elas, Rapunzel.

A verdadeira história da Rapunzel, um conto de 1812 dos Irmãos Grimm e publicado no livro “Contos para a infância e para o lar”, fala de uma menina muito amada pelos pais e que é raptada por uma feiticeira, que a leva para morar em uma torre muito alta.

Fazendo um resumo rápido, um dia, um príncipe avista a torre, sobe pelos cabelos de Rapunzel e a feiticeira o joga lá de cima, fazendo com que espinhos o deixassem cego.

Com raiva de Rapunzel, a feiticeira corta o cabelo da menina, manda-a para um deserto e, por ironia do destino, o príncipe encontra Rapunzel cantando. A história acaba com a menina o curando da cegueira.

Diferentemente do conto mórbido dos Irmãos Grimm, a versão da Rapunzel na Disney chama-se “Enrolados” e mostra toda uma mitologia por detrás da personagem que adquire longos cabelos loiros graças a um chá de uma flor que deram para sua mãe, que estava tendo complicações na gestação. A flor, no caso, é a sundrop, uma flor mágica que cresceu a partir de uma gota de luz solar que caiu dos céus.

A feiticeira, na adaptação da Disney, sempre ia ao local que a flor estava localizada e rejuvenescia; sendo esse o poder da poderosa flor. Ao saber que ela havia sido arrancada para salvar a rainha, Mãe Gothel, como é chamada a feiticeira, sequestra Rapunzel e a leva para uma torre, o que faz com que a menina ache que Gothel é sua verdadeira mãe (mas que na verdade apenas quer o lindo cabelo de Rapunzel para torná-la jovem).

Rapunzel passa anos nessa torre, perguntando-se como seria a vida lá fora e também querendo saber por que o reino soltava lanternas sempre na data de seu aniversário.

Um dia, Gothel sai de casa e um homem sobe a torre. É Flynn Rider, um ladrão que roubou uma coroa. Rapunzel, então, faz um acordo com Flynn: ele precisa levá-la para ver as lanternas que soltam na data de seu aniversário antes de sua mãe voltar. Caso ele cumprisse o acordo, ela lhe devolveria a coroa que havia escondido, após bater com uma frigideira na cabeça do homem e deixá-lo desacordado.

A relação de Flynn Rider – que depois revela que seu nome verdadeiro é Eugene Fitzherbet – com Rapunzel torna-se sadia. Ambos apaixonam-se de forma espontânea durante a cruzada até as lanternas do reino de Corona.

Diferentemente da Rapunzel dos Irmãos Grimm, que era recatada e submissa ao príncipe, Rapunzel de Enrolados é valente, curiosa, destemida e independente. Por exemplo: quando Flynn sobe a torre, Rapunzel se defende do estranho, batendo com uma frigideira em sua cabeça. Já em outra vez, quando a Mãe Gothel rapta Rapunzel de novo, leva-a para a torre, atrai Eugene para lá e tenta matá-lo. Rapunzel é quem o revive com uma gota de sua lágrima.

Rapunzel também possui uma grande lábia em Enrolados, visto que em uma cena dentro de um bar repleto de bandidos, estes querem entregar Flynn para ganharem uma recompensa, mas a menina consegue convencê-los a não fazer isso.

De fato, a Rapunzel de Enrolados quebra com as barreiras dos contos de fadas antigos e alguns filmes de princesas clássicos da Disney. Há uma troca na história, ou seja, assim como Eugene ajuda Rapunzel, ela também o ajuda a achar um sentido na vida.

A relação de ambos é muito diferente de muitas de princesas-príncipes. Por exemplo, na série “Enrolados Outra Vez”, Eugene sente o desejo de pedir Rapunzel em casamento, mas percebe que ela está há algum tempo fora da torre, que esse não seria o melhor momento para que ela se comprometesse com alguém, já que ela merece aproveitar mais a vida, conhecer mais pessoas e não ter tantos deveres como uma princesa casada.

A história do filme Enrolados e também da série foge da toxicidade do machismo e ressaltam os poderes de Rapunzel e como ela se descobre uma jovem forte. Ambos falam de amor – não de dependência – mas sim de uma troca entre os dois lados. Ou seja, não, não temos apenas príncipes como heróis.

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