Desde o início de sua primeira temporada, Sex Education tem sido um dos maiores sucessos de audiência da Netflix. Como sabemos, o êxito da série possibilitou com que a produção fosse rapidamente renovada para mais oito episódios, e que, pelo que fica subentendido no último capítulo do lançamento, ainda teremos uma continuação da trama em alguns meses. Mas será que aquela realmente foi a melhor forma de passar essa informação ao público?
Começando pelo final: prolongar uma trama que poderia ter sido completamente resolvida ainda na primeira temporada pode, talvez, não ter sido uma decisão inteligente a se tomar. Já há algum tempo, Maeve Wiley vem passando por problemas familiares que, quando ocorrem na vida real, são capazes de destruir o psicológico de alguém por inteiro. Ao mesmo tempo que Otis não apresenta total consciência da situação de sua amiga, cabia aos roteiristas focar no desenvolvimento pessoal da personagem ao invés de repetirem o mesmo drama adolescente já visto antes.
Ao contrário de seus colegas, Eric finalmente tem a chance de conseguir um final feliz e talvez um pouco complicado para sua vida amorosa, graças a Adam Groff e ao novato Rahim – e esse é apenas um dos vários pontos positivos observados na segunda parte do programa. Ao abordar temas classificados como polêmicos dentro da própria comunidade LBGTQ+, fazendo com que Ola se descobrisse pansexual (Ola e Lily… quem diria, né?) e também revelando a assexualidade de uma personagem secundária, a série mostra um comprometimento surpreendente da diretora Laurie Nunn em relação à distribuição de informações que, hoje, precisam ser discutidas entre jovens. Finalmente temos uma personagem gorda com falas no roteiro, e o fato de Viv se tornar a melhor amiga de um dos garotos mais populares da escola também é uma evolução e tanto nos padrões estéticos da TV britânica.
Além de cenas direcionadas à educação sexual de ambos os personagens e o público que os assiste, a decisão de abordar o trauma manifestado por vítimas de assédio é, com certeza, um dos principais motivos pelos quais vale a pena continuar acompanhando a histórias dos alunos da Moordale Secondary. Embora seja um assunto delicado e não tão fácil de acompanhar – assim como foi o aborto feito por Maeve na primeira temporada – Aimee conseguiu mostrar ao telespectador uma das muitas reações a algo que, segundo a própria garota, pode “não ser nada de mais” para alguns. No entanto, deve-se lembrar que, nem sempre, haverão amigas dispostas a ajudar uma vítima a superar essas sequelas com um momento Girl Power, embora esse tipo de abordagem ainda seja extremamente necessário em filmes, séries, ou qualquer que seja o produto assistido pelos adolescentes atuais. Talvez, um dia, eles finalmente se tornem uma realidade.
Assim como em diversas outras produções originais, a Netflix parece ter escolhido continuar com a mesma fórmula usada nos primeiros episódios da série. E, ao contrário da crença popular, às vezes, inovar não é a opção mais esperta. É claro que, naturalmente, novos assuntos surgirão, assim como, nesse caso, um público mais velho também poderá achar algum tipo de interesse nas novas discussões sobre divórcio e educação familiar propostas pelo enredo… embora isso não signifique que seria uma boa ideia indicar essa produção específica para sua família assistir.
Sex Education sempre foi responsável por trazer um conteúdo exclusivo para adolescentes que, assim como vários personagens, não possuem curiosidade suficiente para serem capazes de ter uma vida sexual madura e sem perigos. O papel de sexólogo de Otis Milburn pode até ter sido interrompido, porém, com certeza, sua história continuará a motivar milhões de jovens a saírem da ignorância e, muito provavelmente, a sentirem vergonha de seus comportamentos também – com razão.