Livro: Garota, Mulher, Outras
Autora: Bernardine Evaristo
Editora: Companhia das Letras
Tradução de Camila von Holdefer
Oi! Hoje trouxe uma resenha do livro Garota, Mulher, Outras. O livro foi vencedor do BOOKER PRIZE 2019, e confesso que era só isso que sabia da obra. Me interessei pela capa, pelo fato de ter sido vencedor do Booker Prize junto com a querida Margaret Atwood, e escolhi. Quando recebi em casa (obrigada, Companhia das Letras!), fui obrigada a agarrar o livro.
A história narrada por Evaristo, escrita como um híbrido de poesia e prosa – que Evaristo chama de ficção de fusão – vai narrar a vida de diversas gerações de 12 mulheres africanas, tendo como ponto de partida Amma e a estréia de sua peça sobre guerreiras africanas lésbicas – durante a Inglaterra tumultuada pós Brexit. É uma narrativa envolvente que você não sente – de verdade – as quase 500 páginas passando. É como se estivéssemos caminhando e conhecendo pessoas novas, suas vidas, seus antepassados. A autora diz que queria narrar uma história sobre a diáspora africana, e fez isso de uma forma maestral e emocionante, com revelações até – literalmente – a última página.
Imagine um tricô, ou um bordado. Imagine alguém soltando cada linha costurada (ou bordada, deixo isso para a sua imaginação) e pegando cada fragmento, cada intersecção, cada desmembramento desses fios. É o que esse livro faz, de forma extremamente bem – perdoem o trocadilho – costurada. Do início ao fim o livro se conecta, não há uma passagem sequer que seja ¨desnecessária¨. Foi um trabalho sensacional por parte da autora. Gerações e gerações de mulheres africanas se interligando pela sua ancestralidade.
A narrativa de Evaristo aborda a complexidade da identidade, aspecto que é bastante discutido atualmente. O que a autora representa bem aqui é a diversidade entre um grupo que constantemente é colocado como homogêneo – o das mulheres negras. Até a identidade da feminista negra aqui é demonstrada como uma identidade cheia de complexidades e contradições, não um movimento homogêneo com regras claras e 100% de concordância. É abordado pela autora a diversidade dentro das lutas, a discordância entre mulheres que se identificam com o mesmo rótulo – feminista, por exemplo. E, o mais interessante para mim, a constante contradição – Angela Davis falou disso recentemente aqui – em que nosso mundo vive. Como uma das personagens diz, temos que ter conhecimento, não meras opiniões.
A obra aborda intersecções entre raça, classe, gênero, idade… é uma obra tão completa e tão realista, com personagens absurdamente humanizados a ponto de eu não conseguir decidir quem mais gosto, porque sinto que qualquer um dos descritos pela autora poderiam simplesmente se materializar na minha frente. Um livro sensível, com uma prosa cheia de ritmicidade (gostaria inclusive parabenizar/agradecer a tradutora, que trabalho incrível!) que nos prende do início ao fim.
Nota: 10/10
Você pode conferir mais sobre a obra aqui.