RESENHA: Apague a Luz Se For Chorar, de Fabiane Guimarães

Título: Apague a luz se for chorar

Autora: Fabiane Guimarães

Páginas: 176 páginas

Editora: Companhia das Letras, selo Alfaguara

Esse livro veio como uma (ótima) surpresa. Romance ambientado entre Brasília e Pirenópolis, cidade no interior de Goiás, a obra nos apresenta dois personagens, Cecília, que retorna a sua pequena cidade em razão do falecimento de seus pais, e João, um pai solo que tem um filho com paralisia cerebral. Com capítulos alternados entre os dois, conhecemos a jornada de dois personagens muito humanos, tão humanos que nos identificamos, mais do que gostaríamos.

A narrativa da autora nos faz devorar o livro – li em dois dias e não conseguia largar. O falecimento de um casal de senhores no interior de Goiás parece não nos apresentar nenhum mistério ou problemática, entretanto, a escrita da autora com o contato que temos com os pensamentos de Cecília nos faz questionar sobre as mortes – transformando esse romance em também uma investigação, em que ficava coletando peças que a autora nos apresentava a cada capítulo. 

A história de Cecília mescla diversas questões: desde o luto à reflexões sobre o que é certo e errado, discussões morais que até os últimos capítulos nos deixam questionando tudo que considerávamos óbvio e verdades universais. Além disso, o que mais gostei nos capítulos de Cecília, é o processo de humanização de seus pais. Após o falecimento, Cecília começa a relembrar sua vida com os dois, até para desvendar o mistério de que – segundo Cecília – aquelas mortes não foram naturais. Estamos acostumados com pais na ficção que são dicotômicos: ou pais perfeitos, parceiros, ou pais que trazem apenas sofrimento, pais problemáticos. E muitas vezes esquecemos que antes de serem pais, eles são humanos. E a autora consegue trazer bem a reversão da romantização do filho em relação à quem são seus pais. Quem achava ser perfeito, sem falhas, no fim do dia é apenas uma pessoa com sentimentos, desejos e convicções tal qual qualquer outra pessoa.

Já a história de João, desesperado por dinheiro para levar seu filho para um tratamento no exterior, é o contrário da narrativa de Cecília – enquanto ela precisa entender seus pais como indivíduos, João está na posição de pai. E ele se mostra disposto a fazer de tudo por seu filho e seu bem estar – enquanto também nos mostra lados não muito bonitos e românticos de um pai. João foi um personagem que enfrentei uma montanha russa: em alguns momentos queria o abraçar, e em outros (vários) momentos, queria gritar com ele. Admito que os de gritar foram mais fortes, mas isso se dá exatamente porque João é tão humano, e a autora não hesita em pintá-lo como perfeito, pelo contrário: acredito que quanto mais humano um personagem é, mais nós temos dificuldade de ter empatia por eles. Afinal, é muito mais fácil ter empatia por personagens bonitos de se ler.

Enfim, as duas histórias vão aos poucos se entrelaçando, até percebermos ser tarde demais.

Um livro sensacional, com uma conclusão inesperada. A autora sabe bem guiar os leitores para onde quer levar.

Você pode encontrar o livro aqui.

 

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