Ao longo das últimas semanas, o documentário norte-americano The Social Dilemma (O Dilema das Redes, em português), ocasionou discussões intensas entre usuários das redes sociais mais populares da atualidade. Por meio de uma abordagem contrária à falta de privacidade promovida a mais de 2 bilhões de pessoas pelas equipes responsáveis pelo funcionamento das plataformas, o filme expõe, por meio de críticas e demonstrações atuadas, o impacto que a manipulação em massa exerce sobre jovens e adultos diariamente. Além das temáticas de extrema relevância relacionadas ao uso indevido da tecnologia, o longa aborda um tópico fundamental e pouco discutido pela indústria tecnológica: a saúde mental na adolescência.
Desde a popularização dos smartphones como os conhecemos, a juventude tem conseguido acesso a dispositivos eletrônicos em idades cada vez mais prematuras. Em 2020, não é incomum encontrar bebês e crianças concentradas em conteúdos disponibilizados por sites que, como denunciado no longa, as tornam dependentes das telas desde cedo. Capazes de coletar dados de usuários de qualquer idade, os algoritmos entram em ação e acompanham o crescimento desse público infantil, até que, um dia, passam a impactá-lo de maneira negativa, afetando principalmente as mulheres em seu dia a dia.
A tecnologia como mecanismo de opressão
Com a intenção de introduzir a influência que comentários e curtidas possuem sobre meninas de todas as idades em seu roteiro, o diretor Jeff Orlowski utilizou da ficção para representar uma cena rotineira vivida pelos usuários de redes sociais. Viciada em utilizar seu telefone celular, a adolescente Isla mostra comportamentos agressivos ao ser privada de utilizá-lo por sua mãe. Após surpreender a família com uma atitude inesperada, a jovem se mostra vulnerável em relação aos comentários recebidos na internet, o que acaba afetando-a negativamente na vida real.
Essa pequena reflexão é um paralelo com acontecimentos reais, que, inclusive, são relatados nas redes todos os dias. Assim como é possível encontrar casos de preconceito, bullying e perseguição vindos de perfis variados, a incidência de comentários autodepreciativos por parte de jovens internautas também cresceu consideravelmente ao longo das últimas décadas. De acordo com um estudo realizado pela York University, no Canadá, “As redes sociais conseguiram diminuir distâncias e fazer com que as pessoas mantenham contato mesmo estando em cidades e países diferentes. Essa proximidade, porém, pode gerar prejuízos. Um deles é a construção de uma autoimagem negativa do corpo”. A pesquisa refere-se a pessoas que se identificam como mulheres, mas é um reflexo do impacto que as práticas contemporâneas exercem sobre a sociedade como um todo.
As consequências da manipulação
Durante a rolagem dos créditos de produção do documentário, especialistas na área de tecnologia expõem algumas práticas que podem tornar o uso de celulares e computadores menos agressivo para a mente humana. São elas:
- Desligar as notificações de aplicativos;
- Excluir perfis em redes sociais;
- Apoiar legislações que limitam o poder de plataformas cibernéticas.
Embora pareçam agressivas demais, basta assistir o filme para que a denúncia do mal causado pelas grandes companhias cibernéticas é válida e, infelizmente, corrói o psicológico de bilhões de pessoas todos os dias. Nós somos as vítimas e, se não agirmos, as consequências não serão brandas daqui para frente.