LISTA: As 20 melhores HQs que lemos em 2020

Agora que 2020 acabou há algum tempinho, chegou a hora de refletir quais foram as melhores leituras de quadrinhos do ano. Parece que com a pandemia da COVID-19 os lançamentos foram escolhidos a dedo pelas editoras, mas nesta lista não entram apenas os materiais inéditos. A “regra” é simples: qualquer obra lida durante o período pode entrar nesta lista. Sejam relançamentos ou até materiais antigos relidos ou lidos pela primeira vez. Afinal, centralizar apenas nos lançamentos é deixar tanta coisa de fora que chega a ser injusto. Outro detalhe é que isto não é um ranking. Qualquer uma das publicações poderiam estar em primeiro ou em vigésimo. Vamos lá?!

Monster – vol 1 a 3. Editora Panini

O mangá Monster começou a ser relançando em formato de luxo pela Editora Panini no finalzinho de 2019 e até o momento já foram publicados 7 volumes, serão nove no total. Nele acompanhamos a vida de um médico neurocirurgião na Alemanha ocidental que desobedece às ordens de seus superiores para salvar a vida de um garoto. Ele não imaginava os desdobramentos que esta simples atitude teria em toda sua vida.

Monster é o tipo de mangá que é praticamente impossível parar de ler, mesmo com suas quase 400 páginas por edição. Você sempre quer saber o que acontecerá depois, é quase impossível imaginar que trama Naoki Urasawa trará no próximo capítulo.

Berlim. Editora Veneta

Berlim era um dos lançamentos mais aguardados do ano e com certeza não desapontou. Jason Lutes, que roteirizou e desenhou a obra, precisou de 20 anos para finalizá-la. Nela a personagem principal é a cidade de Berlim, na qual orbitam diversos personagens secundários que nos fazem compreender como se deu a ascensão do nazismo e suas consequências para cada parcela da sociedade. O material serve quase como um aviso para a sociedade atual, principalmente a brasileira.

Paracuellos. Editora Comix Zone

Pessoalmente é bastante difícil escolher um material da Editora Comix Zone, pois ela é sem dúvidas uma das minhas preferidas, muito pelo posicionamento claro de seus criadores e editores. De qualquer forma, é impossível não falar de Paracuellos, obra escrita e desenhada por Carlos Gimenéz sobre sua experiência pessoal em um abrigo do Auxílio Social na Espanha do pós-guerra.

Absolutamente triste em alguns momentos e ao mesmo tempo leve em outros, não por acaso este título vem logo depois de Berlim nesta lista. É uma ótima dobradinha para entender as motivações e consequências de uma guerra permeada pelo ódio do nazismo e fascismo.

Heimat: Ponderações de uma alemã sobre sua terra e história. Editora Quadrinhos na Cia

Para concluir essa ‘quadrilogia’ não intencional de materiais relacionados à Segunda Guerra, Heimat cai como uma luva. Mistura de quadrinho com diário de colagens, nela acompanhamos a busca da autora Nora Krug para encontrar o seu local de pertencimento.

A obra serve não só para entendermos o sentimento praticamente vergonhoso do patriotismo alemão que foi passado de geração em geração, como também para incentivar a busca de nossa própria história e qual o peso disso em nossa identidade.

O Árabe do Futuro – vol 1 a 3. Editora Intrínseca

O Árabe do Futuro é mais um quadrinho autobiográfico no qual o autor Riad Sattouf conta seu passado entre a Líbia, França e outros países. Com um traço leve e roteiro descontraído é possível analisar o pano de fundo de cada localidade e seus acontecimentos locais, que influenciam diretamente na vida pessoal e social do menino. A forma como ele utiliza a cor para representar cada país é de uma simplicidade que beira a genialidade. Até o momento foram lançados 4 volumes aqui no Brasil.

O Príncipe e a Costureira. Editora Darkside

O Príncipe e a Costureira representa nessa lista o que o próprio material é: um suspiro de simplicidade e leveza. Apresentado como um conto de fadas, a obra conta a história de uma costureira que sonha em ser reconhecida como estilista e um príncipe que gosta de usar vestidos. Tratando de forma leve e natural assuntos como identidade e aceitação, é daquelas hqs que têm o poder de nos deixar mais felizes e esperançosos ao final da leitura.

Saga – vol 1 a 9. Editora Devir

Um plano de fundo político, personagens pontuais e recorrentes completamente diferentes entre si, nenhuma figura específica de mocinho e vilão, ninguém está a salvo, tudo isso sob a perspectiva de uma família disfuncional. Isso é só um pouco do que faz de Saga uma das melhores histórias em quadrinhos de sci-fi da atualidade.

Todos os volumes já foram publicados pela Editora Devir, mas o volume 9 promete um gancho de desesperar qualquer leitor. E o pior: a série está em hiato nos Estados Unidos há alguns anos. Nos resta reler essa maravilha até que Brian K. Vaughan e Fiona Staples voltem com histórias inéditas e nos expliquem aquele final de tirar lágrimas.

Mort Cinder. Editora Figura

Que histórias um homem que viveu grandes acontecimentos da humanidade poderia contar? Mort Cinder é um clássico argentino produzido por Osterheld e Breccia e só esse fato já justificaria o material nesta lista, porque dizer que o roteiro é emocionante e a arte é de encher os olhos é até um pleonasmo para essa dupla.

Buscavidas. Editora Comix Zone

Se em Mort Cinder vemos as histórias vividas pelo protagonista, em Buscavidas é o inverso: o protagonista busca histórias de outras pessoas. Um homem que vive para colecionar confidências.

Escrito por Carlos Trillo – que também é roteirista do ótimo A Grande Farsa, lançado em 2020 – juntamente com Alberto Breccia, o material ainda inclui o encontro de Buscavidas com Mort Cinder e é de cair o queixo como Breccia é capaz de manipular seu estilo de desenho de um para outro.

Jeremias – Alma. Editora Panini

O primeiro volume da Graphic MSP de Jeremias ganhou um merecidíssimo prêmio Jabuti em 2019. Aí em 2020 chega sua continuação que é tão brilhante quanto o antecessor. Desta vez Jeremias encara não só o racismo do dia-a-dia, mas também as consequências do preconceito em sua própria história familiar e como isso gera um apagamento de hereditariedade para a comunidade negra. Tudo isso, claro, da forma leve e tocante que Rafael Calça e Jefferson Costa já estão acostumados a fazer.

Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias. Editora Pipoca e Nanquim

Sim, Jefferson Costa está duas vezes nesta lista. Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias é a primeira hq roteirizada e desenhada por ele. Em uma história sobre família, raízes, encontros e desencontros, ele conta a história tocante de duas famílias que lutam para sobreviver no Brasil da década de 1970 e como seus caminhos se cruzam.

1984. Editora Quadrinhos na Cia

O clássico absoluto de George Orwell entrou em domínio público, é por isso que estamos vendo uma avalanche de novas edições serem publicadas por aqui. A edição em quadrinhos desenhada pelo brasileiro Fido Nesti foi uma das primeiras e entra nesta lista não só pelo roteiro – retirado totalmente do livro, motivo pelo qual a obra tem um texto carregado – mas pela belíssima arte e colorização que consegue carregar completamente o ambiente do material original.

A Solidão de Um Quadrinho Sem Fim. Editora Nemo

Se fosse para descrever A Solidação de Um Quadrinho Sem Fim em uma frase, seria vergonha alheia. Nesta obra, Adrian Tomine escancara todos os seus piores momentos como quadrinista em ascensão, tímido e ansioso. O pior de tudo (ou o melhor) é que são acontecimentos tão identificáveis que é fácil o leitor se relacionar e sentir pena não só do personagem, mas de si mesmo.

 

A Odisseia de Hakim – vol 1. Editora Nemo

Fabien Toulmé é um quadrinista fenomenal – se ainda não leu Não Era Você Que Eu Esperava e Duas Vidas, leia – e não poderia ser diferente quando possui um material tão rico em mãos. Em A Odisseia de Hakim entramos em contato com a história real do personagem título, um jovem sírio que precisou largar tudo e se tornar um refugiado.

Com seu traço simples e sua excelente narrativa, a conclusão desta série de três volumes é uma das publicações mais esperadas para 2021.

Spinning. Editora Veneta

Spinning é a primeira obra de Tillie Walden publicada no Brasil e já nos mostra o que estamos perdendo. Aqui a artista nos conta sua complicada infância como patinadora competitiva envolta em mudanças de cidade e descobrimento de sua sexualidade. Com uma arte simples, mas extremamente eficiente, o roteiro é tocante e arrebatador. Spinning se tornou uma das minhas leituras favoritas, com certa facilidade.

Primavera em Tchernóbil. Editora Geektopia

Quanta vida resta em um lugar devastado por um acidente nuclear? Essa pergunta Emmanuel Lepage nunca se fez, mas acabou descobrindo a resposta ao visitar Tchernóbil com um grupo de artistas vinte anos depois do desastre. Esperando encontrar apenas devastação, ele descobre uma inesperada beleza no local.

A utilização pontual de cores na obra é belíssima e representa muito bem o sentimento de mudança de paradigmas que Lepage busca transmitir.

Will Eisner – Nova York. Editora Quadrinhos na Cia

Nem precisa de explicações, afinal é Will Eisner. Com personagens inusitados, Nova York mostra a vida solitária e indiferente dos moradores da metrópole.

 

 

 

Grama. Editora Pipoca e Nanquim

Grama é outro dos grandes lançamentos mais esperados do ano. Escrito e desenhado por Keum Suk Gendry-Kim, nele acompanhamos a história real de Ok-sun Lee. Hoje uma senhora de 90 anos, ela foi vendida pela família durante a Guerra Sino-Japonesa e escravizada sexualmente pelos soldados. O grande trunfo da obra é tratar um assunto tão pesado sem precisar se utilizar de imagens literais.

Você é minha mãe? Editora Quadrinhos na Cia

Alison Bechdel depois de escrever o premiadíssimo Fun Home – na qual conta sobre o relacionamento com seu pai -, agora coloca sob o microscópio a relação com sua mãe. Com análises psicológicas bem profundas, Você é Minha Mãe? mostra a perspectiva de um vínculo que de longe não parece tão conturbado, mas no qual existe um abismo emocional a ser trabalhado.

 

The Promised Neverland – vol 1 a 5. Editora Panini

Em um orfanato isolado, dezenas de crianças vivem uma vida tranquila com uma mãe amada até que Emma, Normal e Ray descobrem a verdade sobre aquele ambiente e começam a bolar um plano para escapar do futuro que os aguarda. The Promised Neverland é um dos mangás que ganhou uma adaptação para a Netflix recentemente e entrega, a cada volume, uma nova reviravolta e ação desenfreada.