Irmandade – Crítica

Há anos, produções audiovisuais nacionais vem sendo colocadas em segundo plano, para que possam dar lugar aos grandes blockbusters de Hollywood. Com o poder de manipulação e a habilidade publicitária conquistada pela mídia norte-americana ao longo das décadas, não era de se esperar diferente, certo? Talvez sim, porém é hora de nós, brasileiros, darmos uma chance a obras que, além de serem produzidas em território tupiniquim, também retratam a realidade vivida por uma enorme parcela do nosso povo. E a série Irmandade se encaixa perfeitamente nesses dois tópicos.

Criado por Pedro Morelli, o mais novo lançamento da Netflix utiliza da genialidade de Seu Jorge para representar o duro dia-a-dia no interior dos presídios de São Paulo e, sem dúvida nenhuma, de todos os demais estados do país. Utilizando a década de 90 – época na qual pautas sociais estavam apenas começando a serem discutidas e expostas pela minoria – o roteiro busca denunciar o racismo propagado pelas autoridades, responsáveis pela segurança e pelo bem estar de toda a população. Com a intenção de polemizar e, simultaneamente, criticar o sistema carcerário brasileiro, a série destrincha o funcionamento de uma facção de nome “Irmandade” dentro e fora da prisão.

Depois de conviverem com detentos reais e de gravarem a grande maioria das cenas exibidas no seriado na ala desativada de um presídio em Curitiba, o elenco, composto também pela talentosa Naruna Costa e por Lee Taylor, teve a oportunidade de entender um pouco mais sobre o que é estar envolvido com uma instituição prisional. Por meio de referência implícita ao PCC (Primeiro Comando da Capital, uma facção da vida real que também comanda crimes do interior de presídios), Irmandade consegue, de maneira sucinta, denunciar uma longa lista de irregularidades referentes ao povo negro do Brasil.

Há quem diga que, apesar ser a produção brasileira mais coesa dos serviços de streaming até o dia de hoje, o lançamento da O2 Films ainda comete gafes em seu roteiro e deixa a desejar na escolha de alguns atores. Essas observações podem até ser verdadeiras, porém, nenhum problema técnico é capaz de retirar a credibilidade de um assunto que, em oito episódios, conseguirá abrir os olhos não só do público latino, porém também de pessoas que vivem em países desenvolvidos e desconhecem o drama protagonizado pela classe baixa brasileira todos os dias.

Ainda sem uma segunda temporada prevista, Irmandade pode ser classificada como um reflexo do cenário audiovisual brasileiro. Existe, sem dúvida nenhuma, uma enorme força de vontade por parte dos cinegrafistas, que se mostram aptos a darem visibilidade a questões que são responsáveis por toda a configuração social injusta que é observada em nosso país desde sempre. Precisa-se, urgentemente, de mais séries como esta, antes que a mídia que conhecemos hoje seja consumida pela censura constante que assombra a nação verde e amarela.

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