Já chegou aos cinemas a mais nova equipe do Universo Cinematográfico da Marvel e um dos filmes mais aguardados do ano, Os Eternos (confira nossa crítica aqui). As expectativas são altas não apenas pelo filme em si, mas também por ser o primeiro a ser dirigido por uma ganhadora do Oscar, Chloé Zhao. Criados em 1976 por Jack Kirby, Os Eternos é resultado direto de ideias remanescentes após a saída frustrada do quadrinista da DC Comics, onde estava publicando O Quarto Mundo, também uma saga cósmica.
A base da história é a chegada dos Celestiais, espécies de deuses e criadores da humanidade, à Terra. Essa seria a quarta incursão dos seres gigantes para avaliar como suas crias estão se saindo. Foram os Celestiais que, através de experimentos genéticos, criaram os Eternos – humanos perfeitos, imortais, com poderes especiais e que vivem nos céus -, os Deviantes – seres deformados, com más intenções e que vivem debaixo da terra – e os humanos, um meio termo. Os locais onde cada espécie vive não são à toa. A grande intenção do artista era discutir divindades, religião e mitos, inspirado por assuntos populares da época como o livro “Eram os Deuses Astronautas?” de Erich von Däniken e engenharia genética. Mas será que vale a pena ler Os Eternos, de Jack Kirby, em 2021?
Além de criatividade ilimitada, o quadrinista também possuía um talento para desenvolver personagens e desenhar cenários futurísticos e grandiloquentes como ninguém. É impressionante, por exemplo, como em 1976 ele já desenhava uma comunicação de imagem por meio de aparatos, a qual hoje chamamos de ligação de vídeo. Sua importância para ambas as majors estadunidenses é imensurável. É triste que o grande público sequer saiba seu nome.
Ao lado de Stan Lee ele foi responsável pela criação de dezenas de personagens que hoje fazem parte da cultura popular, como Capitão América, Quarteto Fantástico, Hulk, entre outros. O legado de Os Eternos é mais restrito as páginas impressas, mas é tão importante quanto. Os Celestiais são a base do universo cósmico da Marvel Comics e criações como Thanos e até o gene mutante X tiveram suas origens ligadas a eles.
Quando algum novo personagem chega ao MCU sempre existe aquela vontade do público de conferir o material original. Diferentemente de títulos como Soldado Invernal e até Guerra Infinita que possuem bastante similaridades entre as mídias, Os Eternos tem tudo para ser um dos mais diferentes – e apenas isso já poderia ser motivo o suficiente para conferir ambas as obras. Não só porque são apenas 19 edições da publicação original, mas também porque nelas a equipe não interage com o restante do universo Marvel, algo que Kirby não queria e um dos motivos pelos quais não houve continuidade na série. Apesar disso, os temas e discussões principais prometem estar todos ali.
Com apenas alguns dias de exibição, Os Eternos de Chloé Zhao já recebeu uma série de críticas negativas ou, no mínimo, regulares e aqui é possível identificar um ponto em comum entre as obras. A publicação da hq também nunca foi um sucesso de vendas ou críticas. O próprio Neil Gaiman – que posteriormente chegou a escrever uma nova minissérie dos personagens – afirmou que “(…) ele não acertou em cheio. É meio esquisito e truncado.”
Uma leitura do material em 2021 pode parecer ainda menos fluída, principalmente porque é um produto do seu tempo que possui as linguagens da época, como uso excessivo de balões de pensamento e recordatório. É sim necessária uma contextualização histórica e entendimento do momento de produção da obra, assim como a maioria das hqs pré anos 90. Kirby sempre vale a pena, em Os Eternos não poderia ser diferente. Afinal, parafraseando Gaiman novamente, ali também está a “(…) espetacular efusão de ideias de Jack Kirby”. Então a resposta direta é: sim, vale a pena ler Os Eternos, de Jack Kirby, em 2021, afinal ele não é considerado “rei” à toa.