Caros leitores, muitos de nós não estávamos nem nascidos quando Top Gun: Ases Indomáveis foi lançado, porém uma pequena parcela dos leitores podem até conhecer e gostar do filme por influência dos pais, sendo ela positiva ou negativa.
Lançado em 1986, o filme foi a maior bilheteria daquele ano nos cinemas americanos e teve um aumento de 500% no alistamento da Marinha no ano seguinte. Um filme cujo seu objetivo era mostrar o treinamento dos pilotos de caça que queriam ser os melhores dos melhores e que para isso precisavam entrar na escola de treinamento naval da marinha americana chamada de Top Gun. A produção foi o pontapé para um começo de filmes de ação e aventura daquela magnitude que não havia sido visto nos cinemas e que acabou caindo nas graças do público.
Retratando o patriotismo americano através de um dos elementos de combate aéreo mais importantes, os caças (mais precisamente F14) – e ter como plano de fundo a Guerra Fria em um conflito implícito entre União Soviética e Estados Unidos, nós acompanhamos essa história sob o treinamento do Peter “Maverick” Mitchell (Tom Cruise), um piloto rebelde, impulsivo, mas que é um grande piloto e tem a adrenalina nas veias.
A linha de Top Gun é clara: você tem Maverick, um “salvador” cuja motivação era de se afastar de algo que assombra o seu passado (no caso é o pai) e que acaba surgindo a oportunidade de entrar para a escola e torna-se o maior dos pilotos. Durante a sua caminhada, há espaço para romance com a uma instrutora de voo e para uma amizade muito forte com o piloto Nick “Goose” Bradshaw, tornando-se um grande amigo e que infelizmente é morto em uma fatalidade. Maverick fica fragilizado, se culpando e até pensa em desistir da escola, mas que através de uma missão emergente, o piloto precisa voltar para que a missão seja concluída – mesmo que ele precise se aliar ao seu oponente, Iceman (Val Kimer). Assim, com o sucesso do filme perante ao público, fez de Tom Cruise e Val Kimer estarem em alta sob os holofotes de Hollywood.
36 anos depois, – completados agora em Maio – pudemos saber o que deu na carreira de Maverick, depois de décadas de serviço como um dos principais aviadores da Marinha: se ele realmente foi adiante sendo instrutor na Top Gun, como o original de 86 terminou. Quando o experiente piloto precisa treinar um grupo de graduados do Top Gun para uma missão especializada, encontra o tenente Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller), filho de seu falecido amigo, o oficial Nick “Goose” Bradshaw. Enfrentando um futuro incerto e confrontando os fantasmas do passado, Maverick é obrigado a encarar seus medos mais profundos, culminando em uma missão que exigirá sacrifícios daqueles escolhidos para voar.
O trio Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie. não optaram por criar algo inédito, mas utilizaram da aterrisagem segura com uma reciclagem do enredo que foi o mesmo usado no original, só que a diferença é a utilização de tecnologia atual com o apelo emocional – sendo este a amarra das situações, como cenas icônicas recriadas mais uma vez, reunião de antigos personagens ou de encontro com o filho de alguém muito importante na vida do piloto Maverick. A reutilização do mesmo enredo foi uma péssima ideia? Claro que não. Inclusive o apelo emocional foi uma bela jogada de argumento pelos 36 anos passados desde o original, não só pelo drama ainda vivido do personagem de ter perdido seu melhor amigo e deixado uma família, mas do propósito daquilo que ainda o mantém voando: a adrenalina pulsando em suas veias.
Depois de todos esses anos, Maverick segue na mesma posição, como um capitão sendo instrutor de pilotos e fazendo testes em jatos experimentais. Rebeldia e impulsividade são dois adjetivos que não foram deixados para trás, inclusive desafiando a força G e transformando no homem mais veloz do planeta foi uma imposição para salvar uma tropa inteira de ser substituída por drones – onde pilotos deixam de “existir” e são substituídos por naves não tripuladas. Mas uma fatalidade do seu passado ainda o sobrevoa: a morte de Goose e se dar a responsabilidade de cuidar do filho Rooster, ainda mais que ele está percorrendo o mesmo caminho que o pai: de ser um piloto.
Maverick é chamado de volta à Top Gun não só como instrutor de um grupo dos melhores pilotos da Marinha para uma missão (quase) impossível, mas também de observador do futuro promissor desse grupo: a pilota Phoenix (Monica Barbaro), Fanboy (Danny Ramirez), Payback (Jay Ellis) e por último os dois que revivem o embate do protagonista e antagonista do original: Rooster (Milles Teller) e Hangman (Glen Powell).
A partir daí que ocorre aquele mergulho de sequências aéreas com novos caças F-18, embates de pilotos, cena de bar com direito a uma velha canção de piano e encontro com velhos conhecidos como Tom “Iceman” Kazanski (agora almirante da Marinha) e também de um elemento surpresa como antigo caça F-14, trazendo de volta o velho sentimento daqueles que fizeram adotar o filme original.
Os dois astros que tiveram suas carreiras alavancadas pelo original, Tom Cruise e Val Kimer se reencontram mais uma vez – inclusive a última etapa que faltava para que Top Gun: Maverick pudesse decolar, foi a exigência de Cruise em ter Kimer presente: “Eu não vou fazer este filme sem Val”, revelou o produtor Jerry Bruckheimer ao site THR sobre a exigência.
Em decorrência a um câncer que Kimer teve na garganta, o ator perdeu a voz devido ao tratamento, então fizeram artimanhas para que tivéssemos a voz do mesmo na produção. Tudo que envolve o personagem “Iceman” no filme é emocionante, não só por te relembrar do original, mas o que o próprio ator encarou na sua vida pessoal – indico o documentário Val na Prime Video. O ator faz uma pequena aparição, mas é o suficiente para ser bastante emocionante. O que no primeiro filme tivemos o embate entre “Iceman” e “Maverick” deixando as diferenças de lado na reta final e tornando-se aliados para um bem maior, aqui foi “Iceman” que deu o início dessa volta de “Maverick” à Top Gun (em diversos sentidos), o mesmo que disse “não seremos parceiros nunca” lá em 86.
Em meio a tantas idas e vindas de caças no céu e tensão à conclusão da nova missão, o público feminino (em sua maioria) teve um outro sentimento despertado por pilotos: a paixão. No original, foi a instrutora de voo Charlotte “Charlie” Blackwood que roubou o coração de Maverick. Já na sequência temos Penny (Jennifer Connely), uma mãe solteira, dona de um bar e uma antiga paixão do piloto. Penny inclusive é quem dá muito apoio com conselhos que fazem o protagonista centrar no propósito de vida que ele escolheu viver: de voar. Muitos não gostaram da presença do romance nesse filme, mas achei bem pontual e um artifício inteligente dela ser um apoio para o protagonista (mas isso não sendo um lado negativo), já que o mesmo foi sempre muito solitário. Sem os conselhos dela, Maverick não ficaria estaria confiante o bastante para não desistir de si mesmo.
Se eu fossem citar 5 palavras que resumiriam Top Gun: Maverick, seriam nostalgia, emoção, desejo, superação e o mais importante e que não faltou foi: adrenalina.
As cenas de sequências áreas são realmente de tirar o fôlego. Aqui o embate de caças e treinamento da equipe são multiplicadas ainda mais por conta da tecnologia atual, que te faz você ter uma imersão maior do que está acontecendo quando você está dentro do cockpit dos caças. Voo para além da estratosfera com caças supersônicos Mig, voos de cabeça para baixo, de lado, de cima e tudo muito rápido e contra o tempo… para quem não gosta muito de altura, pode ficar um pouco mais tenso com essas sequências. Quando se tem Tom Cruise numa produção, pode ter certeza que algo deverá ser realmente feito de verdade para dar um toque na produção. E aqui não foi diferente. Os voos foram realmente reais, com um programa de voo para o elenco feito por Tom Cruise para o elenco que iria interpretar aqueles pilotos. Em entrevista ao AdoroCinema, Miles Teller (que interpreta Rooster, filho de Goose) revelou que foram três meses e meio de treinamento intenso com oito meses gravando e se acostumar com a força G para não desmaiar. Um trabalho em equipe dentro e fora da produção, como se existisse aquele Top Gun.
E sobre a política do filme com o patriotismo? O patriotismo americano segue presente quando se tem uma missão que ninguém jamais tentou e tornando “impossível” para os pilotos da Marinha americana. A missão? Destruir uma usina de purificação de Urânio de uma nação rebelde, só que a usina está em um vale que só pode ser alcançado voando através de um cânion. Um “impossível” que obviamente os Estados Unidos iria conseguir vencer, principalmente se tratando de uma nação rebelde. Algo que percebi que mudaram na caracterização foi a bomber jacket de Maverick. No original, nas costas da bomber haviam as bandeiras japonesas e taiwanesas, mas dessa vez não temos e isso é claro, para que não haja interrupção da China nos lucros de bilheteria e conflitos geopolíticos.
Deixando de lado o patriotismo e sequências de ação, temos o luto que o protagonista não havia superado todos esses anos com a morte de seu melhor amigo, principalmente quando o reencontro com o filho de Goose se torna mais presente na missão que é dada. Os conflitos entre os dois se reforçam quando uma informação oculta da formação de Rooster como piloto tem a ver com a promessa de um familiar após o falecimento. Maverick entra no dilema de salvar não só o garoto, mas de salvar a si do sentimento de luto e medo que ele guardou por anos. Ele não queria mais perder ninguém, principalmente o filho de alguém que esteve com ele em missões suicidas.
No geral, Top Gun: Maverick é realmente uma das produções de tirar seu fôlego neste ano, com direito a te prender na cadeira e segurar no encosto. É um retorno ao original cheio de carisma (que cativa até demais), com aquela pitada de diversão e picos de tensão cheios de adrenalina. Mesmo que a linha de roteiro recrie o que foi o original, isso não importa para uma sequência de um filme que atraiu o público lá em 1986. Então porque não repetir o sucesso de 36 anos atrás que lapida o argumento da demora dando um toquezinho a mais? Esse filme realmente não é feito para ser passado nas plataformas de streaming e sim (se possível) na maior tela de cinema que puder, para que você tenha uma imersão maior e melhor do que seria um Superman ou Supergirl da vida real.
Como diz a letra de “Hold My Hand” de Lady Gaga:
“I know you’re scared and your pain is imperfect/Sei que você sente medo e que sua dor é imperfeita
But don’t you give up on yourself/Mas não desista de si
I’ve heard a story, a girl, she once told me/Ouvi uma história, uma menina me contou uma vez
That I would be happy again/Que eu seria feliz de novo”
Nota ✈️✈️✈️✈️
Top Gun: Maverick estreia nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira, dia 26.