Crítica | Perigo! Multiverso rouba roteiro de Homem-Formiga e Vespa: Quantumania e Kang vira herói

Com a volta de todos que estiveram sob o “blip” e a possível morte de Thanos, os parceiros super-heróis Scott Lang (Paul Rudd) e Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) voltam para continuar suas aventuras como o Homem-Formiga e a Vespa. Juntos, com os pais de Hope, Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) e Hank Pym (Michael Douglas), e a filha de Scott, Cassie Lang (Kathryn Newton), a família explora o Reino Quântico, interagindo com novas criaturas estranhas e embarcando em uma aventura que os levará além dos limites do que pensavam ser possível.

Bom, durante 10 anos tivemos a construção da Saga do Infinito, terminando com o filme dos Vingadores: Ultimato (2019). Agora, qual seria a próxima espreitada da Casa das Ideias? A Saga Multiverso, que muitos fãs pediram e atualmente engloba as Fases 4, 5 e 6 – que inclusive estamos no meio dela. Trabalhando com diversas introduções de heróis e transformações de personagens – trazendo inclusive mais diversidade nos elencos, a Saga do Multiverso irá se perdurar durante 5 míseros anos, metade do que foi a Saga Infinito. Algo que chega a ser levemente preocupante, já que estamos falando de inúmeras possibilidades de versões de heróis e vilões, além de linhas temporais alternativas, trazendo uma confusão para o público que consome.

Muitos duvidaram que Ant-Man (2015) chegasse a uma trilogia e sem ao menos saber que aquela breve introdução bem sorrateira do Reino Quântico com o Scott Lang virando subatômico chegaria a tal ponto que fosse utilizado em Vingadores: Ultimato como um artifício para a morte de Thanos e chegando em seu terceiro filme Quantumania como peça fundamental dessa nova fase, a Saga do Multiverso. Mas será que, de fato Quantumania é mesmo importante como disseram ou foi só papo de marketing?

POSSÍVEIS SPOILERS A SEGUIR

A resposta é: mais ou menos. A meta de mostrar um pouco mais sobre quem é o Kang (Jonathan Majors), e do porquê de ele ser o novo vilão foi cumprida? Com certeza. Mas e sobre mostrar a importância de que o Reino Quântico será um lugar fundamental daqui para a frente foi cumprida? Em partes e sem absurdas surpresas do que foi citado por Janet em “tomar cuidado com as criaturas do Reino Quântico, e que apesar de serem fofas, podem devorá-lo” na cena pós crédito de Homem-Formiga e a Vespa (2018), Vingadores: Ultimato com Scott Lang trazendo a solução de viagem no tempo aos Vingadores “O tempo funciona de maneira diferente no Reino Quântico. (…) E se pudéssemos de alguma forma controlar o caos, e poderíamos navegar nele? E se houvesse uma maneira de entrar no Reino Quântico em um determinado ponto no tempo, mas depois sair em outro ponto no tempo? e Loki trazendo linhas temporais intactas/alternativas, com outras versões do mesmo personagem, inclusive do novo vilão da próxima fase: Kang (Jonathan Majors), que na série foi a versão chamada Aquele Que Permanece.

Criaturas, espaço-tempo e linhas temporais. Esses indicadores têm o fator comum de estarem no Reino Quântico, mas que infelizmente no filme eles apenas expandem e não trazem nada de surpreendente, caindo em resoluções seguras e preguiçosas. De novo.

Antes de adentrar ao Reino Quântico, descobrimos como a vida seguiu para Scott Lang, sua filha Cassie, Hope, Hank e Janet. Scott virou escritor, Hope a CEO das Indústrias Pym, Hank e Janet ficaram recuperando o tempo perdido por todos esses anos e Cassie? Bom, o que sabemos é que, além de virar a típica adolescente “rebelde” com espírito de heroína e querer fazer justiça (com algumas prisões), ela estudou o Reino Quântico durante 5 anos junto ao Hank e acabou criando “Telescópio Hubble Subatômico”, um instrumento que você pode explorar o lugar sem precisar ir até lá. Nessa tentativa de mostrar como ele funciona para Janet e Scott, sinais são enviados para lá e acontece que todos param no Reino. Daí começa as obviedades e não se deixando desafiar.

O roteirista Jeff Loveness poderia ser o craque da vez não trazendo obviedades, soluções básicas e momentos inexplicáveis. Por exemplo, ao começar com “esses sinais transmitidos”. Quantas vezes Hank e Cassie fizeram esses testes? Foi a primeira tentativa? Não é deixado claro. Quem poderia imaginar que formigas inteligentes cairiam dentro do Reino Quântico e pudessem se desenvolver como sociedade socialista lá dentro, sendo importantes em algum momento da história? Ou que Scott e Cassie estariam separados de Hope, Janet e Hank no Reino Quântico, fazendo com que Scott tivesse mais tempo com sua filha para “recuperar o tempo perdido”. Além disso, se você não prestar atenção, vai acabar se atrapalhando no caminho para que aquele evento aconteça, mesmo que Jeff tenha trago boa parte nessa história, há momentos que você precisa lembrar lá de trás (filmes anteriores) para que aquela fala fizesse sentido no momento.

Além disso, Jeff poderia explorar muito mais do Reino Quântico, trazendo muito mais cenários, os diversos “mundos alternativos”, mostrando muito mais criaturas e desafiando as leis de como funciona aquele lugar, já que espaço e tempo de nada valem ali. A responsabilidade cai mais ainda sob os ombros dele por ter trabalhado em alguns episódios da série animada Rick e Morty, então poderia ao menos explorar essa questão mais “psicodélica” na prática do Reino. Inclusive, sem precisar reciclar uma cena (Hela x Valquíria, Thor e Loki) igual de outro filme da Marvel (Thor Ragnarok). Vergonhoso e preguiçoso.

Uma coisa ele pelo menos herdou de Rick e Morty foi o humor, mas não no sentido positivo. Ele pesou um pouco a mão em piadas desnecessárias em momentos desnecessários. Um filme onde vimos uma parte de um lugar imenso desconhecido, com uma situação sobre invasão de território e sobrevivência dos seres daquele lugar e vir com piadas entre personagens, com vivências diferentes chega a ser patético, infelizmente. O humor não é bem “dosado” em personagens que não pedem para ter humor por conta do seu contexto e você percebe quando ele funciona muito bem por conta do timing do ator/atriz (Paul Rudd). Mesmo assim, o humor ainda não chega a ser pior que Thor Amor e Trovão e tem seus momentos divertidos sim, que funcionam, porém poucos.

Quesito de personagens, sendo bem sincera, só o Kang vingou aqui. Scott, Hope e Hank não tiveram nenhuma evolução de personagem além da “atualização” do que eles estariam fazendo depois dos eventos do blip. A Cassie que futuramente pode estar sendo uma Jovem Vingadora, é a que mais me surpreendeu, negativamente. Além desse “espírito de justiça” e de ter estudado o Reino Quântico por 5 anos, ela não tem mais nada a acrescentar. O estudo dela sob o Reino de nada adiantou, porque ela não conhecia nada. Momentos forçados junto a essa estética adolescente até na própria linguagem e interagindo com que personagem já adulto, levasse a sério um tipo de conselho dado por ela, não foi nada bacana. Se em Homem-Formiga e a Vespa quando Hank Pym foi resgatar Janet ele sofreu com os efeitos alucinógenos, porque Cassie ou Hope também não sofreriam? Foi por conta do traje delas? Não sabemos.

Ainda falando sobre personagens desperdiçados, tivemos mais dois e sendo dos novos: Jentorra (Katy O’Brian) e Quaz (William Jackson Harper). Ambos são personagens que o contexto é interessante, principalmente da Jentorra por ser a guerreira líder de um povo que foi expulso das suas moradias. Quaz é um telepata local que infelizmente foi muito mal desenvolvido, chegando num ponto que colocando ele ali ou não, não vai fazer muita diferença – e olha que oportunidade o personagem não deixava de ter. A Jentorra teve seu protagonismo quando estava no seu “núcleo” dentro da história, mas quando ela dividia a cena com a Cassie ou outro personagem, ela era diminuída, virando a sua sombra: um momento crucial prestes a ter uma revolução onde logicamente a Jentorra seria líder (já que ela estava ali por anos – que não sabemos), foi ocupada por Cassie, com Jentorra inclusive a protegendo dos ataques. Entendo a necessidade dar lugar a heróis que futuramente serão importantes, mas que seja orgânico e não forçado, ficando sem sentido uma guerreira não poder liderar uma revolução depois de tanto tempo esperando fazer justiça pelo que fizeram com ela e o seu povo. É como se sua luta fosse escada para a resolução dos heróis saírem de lá. É uma pena porque eu gostei dos dois personagens, mas infelizmente teve seu caminho deixado dessa forma. Houve mais um personagem que ele em si já é caricato, já é de você olhar para ele e não deixar de rir, mas como pesaram a mão nas piadas, piora ainda mais chegando a ser banal. Legal a introdução e cenas de ação, mas ficou por isso mesmo.

Houve sim desenvolvimentos em personagens, porém de apenas dois: Janet – que já esteve no Reino Quântico, viveu por muitos e muitos anos ali, ela sabe como funciona e os perigos existentes, explicando inclusive o que o Reino pode ter como consequências e por ela conhecer um morador pra lá de perigoso como Kang. Ela tem uma importância no plano de fundo do porquê dele estar no Reino Quântico e do porquê temê-lo.

Já o Kang, ele foi o super ponto positivo desse filme. Ele não é um personagem constante: ele é inconstante. Você não sabe qual o próximo passo dele, não sabe com qual Kang você está lidando, não percebe a manipulação dele sobre você. É tudo incerto e isso é ótimo. A única coisa que você sabe dele, é que ele quer conquistar, mas você não sabe de qual forma ele vai fazer isso e o que ele quer conquistar. Mas uma coisa é certa: ele vai conquistar corações de muita gente. Ele tem motivação, a história dele é bem atrativa, mostrando a importância dos elementos que constituem o Kang (nave, núcleo) e por possuir um leque de possibilidades que dá para trabalhar com ele. Lá em Loki conhecemos a versão Aquele Que Permanece, um Kang mais protetor, observador e que explica que existem outras versões dele que chegaram a provocar uma guerra multiversal. Aquele Kang é totalmente diferente deste: mais impiedoso, cruel e que tem somente o objetivo de sair dali, não importa quantos seres vão matar e o que pode ocasionar no Multiverso com sua saída dali. O personagem está tão bem no filme, que você quer ver algo mais dele e isso não se deve somente ao personagem em si, mas por quem interpreta: Jonathan Majors.

Jonathan Majors ele é um show a parte. Além de ser um ótimo ator, ele é carismático e magnético, tem presença na cena e sabe trabalhar com o que foi escrito para o personagem: essa inconstância, a manipulação… Por mim, ele aparecia em cada filme/série da Marvel daqui para a frente, porque realmente foi um acerto em tanto de contratá-lo. Ao elenco já conhecido, as atuações são boas, com destaques ao Paul sabendo dosar em cenas dramáticas com a filha, junto a pegada de humor que ele conhece bem e a Michelle Pfeiffer pela carga emocional na situação que Janet escondia. Katy O’Brian, atriz que interpreta a Jentorra, eu gostei bastante dela, entregando o que a personagem pedia no roteiro e demonstrando muito bem, William Jackson que interpretou o telepata Quaz também. Queria ver mais deles, mas por conta do roteiro… Agora um caso à parte foi de Kathryn Newton, a nova atriz que interpreta a Cassie. Sinceramente? Misericórdia e torço demais para que ela melhore até Jovens Vingadores. Cassie não ficou com nada nesse filme, viu?

Visualmente o filme é muito bonito, com visuais psicodélicos presentes. As cenas de ação eu também gostei bastante e sem o CGI dar aquela pecada (ainda bem) – inclusive a cena de luta final é muito, muito boa (com exceção de dois momentos óbvios).

Só fico decepcionada com a trilha sonora que se destaca em momentos importunos e destoa totalmente da cena. Ela que deveria ser a cereja do bolo em cenas que seria necessária, mas infelizmente não existiu.

Em conclusão, Quantumania poderia ser um filme muito bom, com um roteiro bem trabalhado com utilização de outros cenários e do contexto de revolução, justiça, reconquistar seu lugar e paternidade (mais um pouco) sem precisar ser óbvio, com soluções fáceis e preguiçosas e sem aquela dose de humor desnecessária, não só falada, mas visualmente também. Desperdiçaram muitas possibilidades ali em muitos quesitos e mais grave ainda com um roteirista vindo de uma série animada adulta que brinca com esse aspecto de espaço-tempo em ambientes psicodélicos, onde você percebe que o estúdio não deu tanta liberdade criativa para ele, tornando muito limitado e sem desafios, deixando um terreno “confortável” para não ter erros. Porém, entretanto, compensa com a atuação e desenvolvimento que Jonathan Majors deu à Kang, da presença de Michelle Pfeiffer como Janet e da sua importância na história e das cenas de ação sem CGI exagerados.

Mesmo que Multiverso seja uma saga super interessante trabalhando com diversas possibilidades de versões de personagens, mundos alternativos, ela pode ser ao mesmo tempo uma armadilha, principalmente quando acabamos de terminar uma saga que durou durante 10 anos para se estabelecer e essa atual, que têm uma infinidade de possibilidades a serem trabalhadas, durará apenas 5 anos. Ou seja, vários filmes e séries por ano e uma confusão infinita para entender as ligações entre eles. Se continuar desse jeito, será uma pena porque tinha tudo para ser uma saga legal, mas que acaba tornando confusa e sem 100% de aproveitamento.

Mas será que de fato Quantumania é mesmo importante como disseram ou foi só papo de marketing?

Sim, só papo de marketing. E não, Quantumania não é dos piores da Marvel, mas está nos filmes medianos.

Existem duas cenas pós créditos e elas são bem importantes mesmo, principalmente para a Saga do Multiverso. O estranho caso que uma cena pós crédito é realmente importante do que grande parte da história de um filme de quase 2h. #Triste

Nota: 🐜🐜 (sabendo que boa parte da nota é por conta do vilão)

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