Com o considerável sucesso de O Esquadrão Suicida (2021) após um antecessor projeto controverso, a DC começa a focar num universo manejado pelo mesmo diretor e roteirista do filme, James Gunn, trazendo o desenvolvimento de um dos personagens recém-apresentados, e abrindo novos caminhos de modo a agradar um novo público e tentar puxar o público antigo para uma nova visão, em uma nova plataforma que é a HBO Max.
Christopher Smith, o Pacificador, é um personagem que se faz de suas próprias contradições. Desde sua primeira aparição em ‘O Esquadrão Suicida’ ele mantém o discurso de fazer tudo pela paz, mesmo que para isso seja necessário matar. E mais do que isso, na série, que estreou em janeiro de 2022, é explorado no personagem, interpretado por um forte e bombado John Cena, seus traumas causados pelo passado pesado e por seu pai – para o qual o ator Robert Patrick dá um excelente tom ácido e escroto, ainda que pouco medonho como seualterego demanda. Além disso, para mostrar que até companheiros estranhos podem ajudar numa também estranha jornada individual.
(Divulgação/ HBO Max)
Ainda com poucas reviravoltas, os primeiros episódios refletem mais do toque estético e cômico de James Gunn, destacado pela amizade de Smith com sua águia de nome óbvio Eagly, e pela incômoda e divertida abertura da temporada inteira. Após ter sido preso depois dos eventos de ‘O Esquadrão Suicida’, Smith é levado a sair da cadeia para se juntar a um grupo também contratado pela mesma Amanda Waller do filme de 2021, agora para uma missão chamada de “Projeto Borboleta”, comandada pelo sistemático Murn (Chuck Iwuji) e cooperado pela atrapalhada Adebayo (Danielle Brooks), pela desconfiada Harcourt (Jennifer Holland) e pelos bizarros dinâmicos Economos (Steve Agee) e Adrian (Freddie Stroma). Essa construção inicial serve para apresentar as intenções da série e preparar o público para o desenrolar inesperado do enredo em seus três últimos episódios.
Um elogio pessoal vai para a maneira como o estilo de James Gunn aparece do início ao fim, com estranhezas humoradas e contradições aparentemente propositais. Assim, explícitos e agitados, os eventos apresentados dentro de 30 a 40 minutos fazem da série um recheado pop desde os conflitos e explosões às músicas tocadas ou referenciadas. Ela também se encaixa na geração de anti-heróis e que quebra a dicotomia bem e mal ao trazer figuras que se combatem de acordo com suas próprias visões de mundo e necessidade – incluindo alienígenas, vacas não literais e borboletas não tão literais – além de pautar temas delicados como neonazismo, armamentismo e negligência afetiva.
(Divulgação/ HBO Max)
O roteiro então mescla entre drama e ação absurda (com o primeiro não se sobressaindo de modo desnecessário), inclusive em seus conflitos decisivos como o contra o Dragão Branco no penúltimo episódio, e o confronto ante toda uma espécie sob o risco de ser extinta. Uma questão, para mais, dramatiza aquela motivação paradoxal do Pacificador: se antes era matar pelo fim (a paz), ao final da temporada, nem sempre os fins vãos justificar os meios. Além disso, conforme se avança, mais vemos a importância de personagens que pareciam mais aliados quase terciários, como Economos, que é recompensado para além de ser engraçado no episódio final sendo elemento chave para a batalha.
Com muita dinamicidade em seus capítulos finais, é possivel finalmente compreender e aproveitar (e até amar) a caracterização tanto do enredo quanto dos personagens que Peacemaker entrega, concluindo pontos para que a trama tenha desfecho. E agora que confirmada uma segunda temporada, a considerar os últimos minutos – com algumas gotas de fanservice -, poderemos ver uma ligação com o universo do DCEU, com certos personagens
icônicos aparecendo mais e mais em projetos não tão esperados.
Para quem ficou curioso de assistir, a primeira temporada completa de Peacemaker já se encontra no serviço de streaming da HBO.