CRÍTICA: Barões da Pisadinha. Do interior da Bahia, para a Amazon Prime.


Fenômeno.

Talvez essa fosse a palavra certa para falar sobre a banda Barões da Pisadinha, que saiu do Nordeste para dominar os paredões brasileiros. Em seu minidocumentário da Amazon, conhecemos mais sobre a origem de tudo, dos seus integrantes, e da cidade no interior da Bahia, com aproximadamente 15 mil habitantes (quase 14 no último senso), onde tudo começou. Mesmo com o sucesso, eles continuam lá.

Voltando sempre para suas raízes e o colo de suas mães— inclusive, ambas fazem parte da narrativa e foram essenciais para que eles chegassem ao topo. A mãe do tecladista, não deixou ele desistir em momento algum, mesmo quando tocavam em bares de noite e trabalhavam pesado na enxada debaixo do sol. Algo de bom ia acontecer, e aconteceu: o encontro da dupla cantor e tecladista fez com que eles encontrassem uma sintonia musical. Para aqueles que não conhecem, a cultura de paredões é quando colocam sistemas de som na traseira de carros ou em suportes que aguentem as caixas eletrônicas.

Essa foi uma das primeiras adaptações da banda, que tinha um colchão apenas como sistema para abafar os sons de fora na gravação de seu primeiro álbum. E a fama não veio sequer com conhecimento deles, certo dia, quando na internet, um dos membros descobriu que Barões da Pisadinha tinha ultrapassado os limites demográficos da Bahia e tomado o Brasil.

Especificamente no Nordeste, eles são considerados como presença obrigatória na playlist de festas— que agora andam em hiatus, por conta da pandemia. É algo muito belo, ver uma dupla com origens tão humildes, ter conquistado o país e ainda assim ter sua cidade de origem como lar.

Aliás, comprar casa para as mães foi uma das primeiras coisas feitas pelos integrantes. Chegar ao momento onde você pode dizer “mãe, você não precisa mais trabalhar”, é algo muito emocionante para aqueles que encontraram nelas o suporte que muitas vezes não viam em si.

E ter a oportunidade de levar a cultura nordestina do sertão para fora, obtendo êxito, deve ser algo indescritível. Não importa se este não é seu gênero musical predileto, o que essa dupla fez é uma conquista. Algo que veio para inspirar muitos artistas em lugares do Norte e Nordeste, lugares sem tanta oportunidade na área financeira-cultural.

Sobre esse tópico, é curioso perceber o paradoxo: essas duas regiões possuem uma riqueza sem fim na área da música, escrita, dança. A cultura do eixo Norte-Nordeste não deveria se perder no esquecimento, e quando bandas como Barões da Pisadinha vingam, é uma conquista que deve ser considerada parte de toda comunidade, não apenas deles. Rodrigo e Felipe Barão representam um sonho e a realização dele.

Ambos nunca imaginaram que um dia estariam em programas nacionais espalhando sua música; mas de Heliópolis e Ribeira do Amparo, surgiu algo muito maior do que uma dupla capaz de espalhar sua música pelo Brasil. Nasceu a esperança de que é possível. Difícil, mas possível.

A explosão do seu primeiro hit “Tá Rocheda”, aconteceu quando o jogador de futebol e estrela internacional Neymar apareceu em seus stories dançando a música. A partir daí, a dupla de forró eletrônico nunca mais parou. Eles chegaram até mesmo a permanecer no top 50 da para Global no Spotify! Fora o detalhe: eles possuem mais de 8 milhões de ouvintes mensais na plataforma de streaming musical. Mas foram 20 anos persistindo na música. Vinte anos de muitas batalhas antes do sucesso acontecer.

O duo em si foi formado no final de 2015, e desde lá, o forró não parou. Sim, ele mesmo, o forró. Gênero musical que domina o Nordeste e trouxe muitos outros nomes para a fama: Solange Almeida e Wesley Safadão são apenas dois exemplos. Mas durante a pandemia, sobreviver no mundo da música anda se transformando, e eles continuam de pé. Grandes marcas procuram o duo para associar a imagem deles com seus produtos, e assim eles seguem (assim como todos nós) esperando que o Brasil consiga adquirir certa normalidade de volta em sua rotina.

Eles seguem produzindo DVDs, participando de programas, organizando lives, dando entrevistas e investindo em sua música. Tudo isso com o objetivo dos Barões não serem algo passageiro, são 329km de Heliópolis para Salvador. E mais quilômetros ainda para continuarem rodando o Brasil, mesmo através do mundo virtual. 

Algumas curiosidades sobre a banda

Seu primeiro nome foi “Barões do Forró”, e a carreira teve início com shows no “Bar do Papai”, onde eles levavam seus equipamentos e iam tocar toda semana. Esse é um apelido curioso, para, na verdade, o Bar 3 Irmãos. Nas palavras deles “o piseiro comia no centro” toda vez que iam tocar por lá.

E a origem humilde deles é real, sendo que um passou anos trabalhando na roça e quase desistiu da carreira para ir arranjar um trabalho convencional em São Paulo. Em trecho emocionante do documentário, ele diz que teve uma “conversa com Deus” enquanto chorava muito, por conta das dívidas e da indecisão sobre qual caminho seguir.

O músico pediu por um sinal, e então, um cachorro veio em sua direção, colocou a pata nele, e permaneceu ao seu lado embaixo da chuva. Foi ali que o Barões da Pisadinha não teve volta: dali adiante, só o sonho. A acústica era um colchão, eles não possuíam internet em casa, mas persistiram.

Inclusive, a realidade de muitos brasileiros no interior do Norte e Nordeste é essa: a internet não chega em preços razoáveis, não é boa, ou simplesmente não chega. Os primeiros grandes convites para o qual foram convidados foram no Maranhão, e em Teresina do Goiás; e eles acharam que era trote. No de Teresina, quase duas mil pessoas compareceram e nem eles sabiam que a fila para o show era a fila para o show deles.

Para eles, a “ficha não caiu ainda”, mas conseguiram o suficiente para realizar o primeiro sonho: que as mães parassem de trabalhar. Mesmo as próprias casas eles ainda estão construindo, mas para elas, que investiram nos filhos com dedicação e suporte amoroso, eles entregaram tudo primeiro. Desse ponto adiante, fica a torcida para que eles continuem crescendo. Preconceito musical é algo extremamente elitista, e duas pessoas que trabalharam 21 anos no ramo já passaram da hora de verem seus projetos dando certo.

São 3.5 milhões de seguidores no Instagram, músicas na Apple Music, e a famosa “viradinha” no começo das músicas que deixa claro a banda que vem por aí. “Menos é mais”, disse Felipe Barão. Eles queriam um som de fácil entendimento, e cativante. Se conseguiram? Bom, todas as aparições em programas famosos do Brasil não responderem essa pergunta por você, ninguém poderá. 

Inspiração e torcida 

O minidocumentário traz filmagens em Heliópolis e de sua população, pessoas como você, que querem apenas sobreviver um dia ao outro. A cada banda nordestina ou nortenha que vai para o mundo da fama, uma criança, um adolescente, um adulto investido na carreira deixa de desistir. Através da arte podemos sonhar, transformar nossa vida no que desejamos, e não vai ser fácil.

Não foi fácil para os Barões. Mas, como alguém que vive no interior do Nordeste, um sorriso abre sempre quando uma banda de origens similares consegue cativar o coração de tanta gente. Sonhar é uma constante, e eles sonharam por 21 anos. Um belo acerto audiovisual da Amazon, e agora que “os Barões” colham os frutos, e deixa o piseiro comer no centro pelo resto do país!

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