CRÍTICA | Amsterdam poderia ser muito mais profundo, mas se acomoda nas beiradas

Filmes de investigação criminal não são, nem de longe, uma novidade para o audiovisual. Principalmente agora, com tantos serviços de streaming e produções focadas em assassinatos reais, fica difícil fugir do previsível. Isso tudo fica ainda mais complicado quando o espectador já conhece a história que está sendo contada, suas reviravoltas e sua conclusão. Fico feliz em dizer que Amsterdam acerta em quase tudo nesse quesito. Digo isso porque, em meio a tantas biografias de serial killers famosos e seus crimes escabrosos, o novo filme de David O Russel foi esperto o suficiente para contar algo baseado em fatos reais sem dizer que fatos seriam esses, o que surpreende qualquer um que vá ao cinema assistir Amsterdam.

Com base no início do texto, você pode pensar que o filme protagonizado por grande elenco como Christian Bale, John David Washington e Margot Robbie é incrível e absurdamente inesperado, certo? Bom, mais ou menos. Não é como se fosse um clichê, porque as cenas realmente são inesperadas e o caos presente no roteiro é sentido o tempo todo aqui, mas parece que o filme se considera mais do que realmente é.

Para começar, tenho que prestigiar a maneira como quase tudo aqui é tratado de forma debochada e com um toque de humor já conhecido de Russel. Isso deixa a trama policial muito mais leve, mas acredito que esse tom pode ficar um pouco exagerado quando retratado o envolvimento de alguns personagens importantes com o fascismo é evidente. Em um mundo como o nosso, atualmente, pode ser um pouco desrespeitoso tratar o assunto dessa forma quando a proposta do filme não pede que seja.

A excentricidade do personagem de Bale é caricata, quando não precisa ser. As coincidências da vida da personagem de Robbie são, por vezes, forçadas e não precisava ser. O personagem de John David sofre com o racismo dos Estados Unidos de 1930, mas quando o filme precisa mostrar mais, fica confortável nas beiradas.

Todo o desenrolar do filme, desde o primeiro assassinato (sim, tem mais de um) até a resolução do crime e a ligação com o fascismo geram um ritmo de urgência para o telespectador, que por vezes não sabe onde o filme quer chegar. E acredito que, às vezes, o filme também não sabia onde queria chegar. E quando ele se arrisca em desenvolver temas mais complexos, como o ideal fascista, se aconchega no que todo mundo já sabe, o que todo mundo já viu. A importância desse tema é grande demais e merecia muito mais do que foi apresentado aqui.

Mas não tem como reclamar de tudo. O elenco é realmente muito bom e com nomes de peso em Hollywood. Todos entregam o que foi pedido e, na base do possível, fazem isso muito bem. Os três personagens principais, já citados acima, estão muito bem apesar da pouca profundidade, o que é culpa do roteiro. Rami Malek e Anya Taylor-Joy também tem destaque aqui, assim como Robert DeNiro, mas com certeza existem outros projetos que podem demonstrar melhor o talento de todos. E claro, a grande surpresa aqui, Taylor Swift, é uma adição positiva. Além disso, a caracterização dos personagens e os jogos de câmera através da direção de fotografia de Emmanuel Lubezki funcionam para nos inserir no contexto histórico da época, o que traz mais veracidade ao que estamos vendo em tela.

Em suma, quem se envolver com o projeto de forma superficial, sem se importar com as camadas que o filme precisava ter, pode ter uma boa diversão em uma tarde no cinema. Mas quem procura uma trama de investigação com traços de organizações com ideais deturpados, pode se decepcionar e encontrar apenas mais uma comédia que será esquecida com o tempo.

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