As Graphics MSP já são um sucesso consolidado no mercado de publicações de hqs brasileiras. Depois de 29 títulos publicados em 8 anos, chegamos ao trigésimo lançamento com Chico Bento – Verdade, o terceiro do personagem e segundo pelas mãos do talentosíssimo Orlandeli.
Para quem não está familiarizado, Graphic MSP é um selo da Maurício de Souza Produções publicado pela Panini Comics e voltado para o público jovem adulto com publicações dos mais diversos personagens do universo da Rua do Limoeiro, todos produzidos por artistas brasileiros relevantes na cena nacional. São lançados quatro títulos anualmente, que costumam ser anunciados durante a CCXP do ano anterior. Para 2021 temos, além de Chico Bento – Verdade, a volta de Piteco por Eduardo Ferigato e os estreantes Franjinha e Magali, pelos não tão estreantes assim Vitor Caffagi e Lu Caffagi, respectivamente.
Orlandeli é responsável por uma das melhores e mais emocionantes publicações do selo: Chico Bento – Arvorada. Sua história de publicações de charges e a leitura de materiais como O Sinal e Os Olhos de Barthô, mostram que o artista possui uma verdadeira habilidade em trazer profundas reflexões humanas em seus materiais. Nesta nova graphic não poderia ser diferente.
Em Chico Bento – Verdade acompanhamos Adamastor, um homem amargurado da cidade, visitando a fazenda de Chico e seus pais. Chegando todo seguro de si e indo na contra mão das vivências do campo, ele logo entra em conflito com Chico. O que nenhum deles esperava era que teriam uma caminhada juntos pela frente, cheia de aventuras e verdades a serem encaradas.
Com um personagem que teria tudo para ser antipático, o autor vai esclarecendo as motivações de Adamastor e justificando suas atitudes aos poucos. Por volta da metade do material é quase impossível não se apegar e em até certo ponto se identificar com o cosmopolita. Já Chico e o ambiente interiorano exercem uma função importantíssima de não só tirar o homem de sua zona de conforto, mas também questionar suas convicções e motivações atuais e ainda atuam como elementos sensíveis essenciais na jornada de descobrimento e aceitação do homem.
“Desisti. Arrumei uma desculpa qualquer e voltei para a triste segurança dos lugares onde nada acontece. Então, quem sou eu para falar do medo dos outros?”
Na arte não tem como não elogiar cada página de Orlandeli. Suas diagramações são espetaculares e a forma como ele utiliza o espaço negativo, luz e sombras, durante todo o material é praticamente uma aula de design e, para os mais entendidos do assunto, de Gestalt. Repare não só no que ele desenha, mas também no que ele não desenha.
Ainda que com um tom bem mais aventuresco do que o seu antecessor, Verdade oferece enormes doses de ponderação e ensinamentos sobre a vida, sobre perpetuação de histórias e legados, sobre reflexões e entendimentos de si e, principalmente, sobre seguir em frente sem esquecer do passado. É fácil concluir que esta publicação não só é uma sequência emocional direta de Arvorada, o que por si só já não seria uma tarefa fácil, mas também cumpre com excelência um papel episódico, venturoso e reflexivo na estrada das graphic MSP. Abra seus olhos e se prepare, porque algumas verdades estão escancaradas pelas páginas desta hq.