Iris (Sophie Tatcher) e Josh (Jack Quaid), um casal apaixonado e alguns de seus amigos decidem se afastar da cidade durante um final de semana para relaxar em uma cabana afastada da cidade, mas um acidente acontece e eles terão que resolver. Do que parece ser uma história de romance, vira um thriller de ficção científica além do esperado, trazendo temas bem atuais sobre relações humanas e tecnológicas.
Com elenco composto por Sophie Thatcher, Jack Quaid, Rupert Friend, Harvey Guillen, Megan Suri e Lukas Gage, esse é Acompanhante Perfeita, novo filme da Warner Bros que chega quinta-feira (6) aos cinemas nacionais.
Primeiro de tudo: evitem quaisquer trailers do filme. Apenas leia a sinopse e imagine a história por si só, já vai ser o suficiente para não estragar a experiência. Quanto menos souber, melhor.
Para quem é fã de thriller com uma pegada tecnológica e uma pitada de comédia romântica, o filme é uma mistura de HER, Ex Machina, Westworld, Exterminador do Futuro e M3gan. Logo de cara, já somos surpreendidos por saber o fim de um dos personagens e o que resta saber é qual a razão daquela morte e de que forma aquilo aconteceu na narrativa – algo que já vimos em outros filmes sobre essa dinâmica do fim ser logo no início da produção e trabalhar em cima da curiosidade do espectador.
Drew Hancock, roteirista e diretor de Acompanhante Perfeita, constrói um roteiro bem consistente, original e cheio de pistas (e também de referências pop) na narrativa, trazendo desde apresentação melódica do casal protagonista e a dinâmica com os amigos, passando pela situação chave de virada onde tudo começa a “desmoronar”, até algo mais além do que parece ser. Com a grande virada, percebemos que as pistas deixadas anteriormente em cada cena ajudavam para construção e desenvolvimento dos personagens conforme a história ia acontecendo. Diante dos temas abordados e trabalhados no filme, é bem interessante (e raro) que possam vir da mente de um diretor e não uma diretora.
Iris é uma namorada que todo homem gostaria de ter: linda, educada, se veste bem, só tem olhos para ele e ainda faz tudo o que ele quer – até que algo acontece, e bom, ela começa a ter a sua libertação do namorado. Ela sempre fica em alerta por conta que os amigos de Josh têm um pé atrás, uma desconfiança com ela “eu gosto de você, só não gosto do que você representa”, diz Kat (Megan Suri). Sophie Tatcher traz uma ótima atuação mostrando através do olhar expressivo, tom de voz, figurinos e gestos o que a personagem está sentindo sob a submissão do namorado.
Josh é um cara educado, divertido e com um espírito “ah là Cebolinha”, porém tem um problema: tudo isso é mentira, porque ele na verdade é incel (homens que não conseguem ter relações sexuais e amorosas e culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso) e red pill (homens que veem as mulheres como vilãs e que precisam combatê-las para conquistar seu espaço de valor, junto a discurso de ódio e combate a participação feminina na sociedade). Jack Quaid faz uma ótima interpretação de um namorado e convence, pela cara de nerd, que procura ser o inteligente da turma e ter o controle não só da namorada, mas da situação. Jack Quaid e Sophie Thatcher tem uma sintonia ótima e que arrancam ótimas risadas!
Kat (Megan Suri), Eli (Harvey Guillen) e Patrick (Lukas Cage) são os amigos de Josh e de Iris que passam o final de semana na casa de Sergey, interpretado por Rupert Friend, um magnata agrícola rico que trai a esposa. Trazendo o cinismo dos amigos, a interpretação dos atores nos personagens está boa no geral. Sobre a construção desse grupo de amigos, há problemas e destaques.
Eli e Patrick, possuem uma dinâmica bem construída dentro da relação que os dois tem – inesperada, porém acaba entrando no clichê de filmes de terror (de certa forma). Na construção de Sergey que me pegou mais: basicamente o puro estereótipo de personagem russo, com sotaque super forçado, maneira de agir e demonstrar seu patriotismo.
O que me tranquiliza ao escrever sobre a produção, não é somente como o roteiro é sólido em trazer uma história direta, empolgante e que te prende aos detalhes; além da construção dos personagens – principalmente dos protagonistas -, mas nas temáticas que são colocadas aqui e na forma que são materializadas: um paralelo entre toxicidade das relações humanas e da tecnologia, com a libertação feminina.
Relacionamento tóxico e abusivo em ambos os gêneros, mas que no filme a corda arrebenta mais para a Íris por ela ser uma figura feminina e é externalizada com figurino da década de 50/60 – época em que as mulheres tinham como seu único trabalho serem donas de casa e submissas aos maridos, já que eram vistas como frágeis, malucas ou burras e que precisavam de alguém para “guiá-las” ou controlá-las (homens). Em paralelo a isso, há o crescente movimento de uma libertação feminina acontecendo através da Íris, não de maneira clichê, mas inteligente que a personagem acaba encontrando. Kat, uma das amigas de Josh, também demonstra a força feminina e libertação, mas de uma maneira contida e pouco explorada.
No mundo atual, com o avanço da tecnologia, a IA é uma vertente que está em alta em várias áreas, principalmente no cinema. Só que aqui, o “retrato falado” é sobre essa necessidade que precisamos delas para facilitar em muitos aspectos, inclusive o de prazer – mesmo que venha de algo bem superficial e que possa ser muito perigoso se não saber o que está fazendo ou procurando.
Por fim, Acompanhante Perfeita vale super a pena por trazer figurativamente como a tecnologia atual e nossas relações socioeconômicas podem ser tóxicas, dependo qual a sua utilidade: com o uso IA em conhecimentos ou roubo de artistas; ou movimentos feministas nas mulheres terem os mesmos direitos que os homens ou radicais praticando homofobia às mulheres trans; e aos movimentos masculinistas, que querem a equalidade dos gêneros ou que vê mulheres como inferiores e tem ódio as mesmas.
Nota: /5