Crítica: It – Capítulo Dois

Quando It – A Coisa foi anunciado, quase ninguém deu muito crédito para a nova adaptação do imenso livro de Stephen King — que, em 1990, inclusive, já tinha virado um longa não muito bem recebido pelo público. Os filmes baseados nas obras do autor sempre estiveram nos planos de vários estúdios, porém, com a baixa receptividade, como a de 1408 (2007), e Carrie – A Estranha (2013), o público parecia saturado e sem confiança em novas adaptações. Isso só se agravou com as contratações do diretor Andy Muschietti, conhecido apenas pelo seu trabalho em MAMA, outro filme não muito bem recebido pela crítica.

O sucesso estrondoso de It foi uma boa surpresa. O filme soube aproveitar a moda de nostalgia dos anos 80 que correu a mídia, e foi a oportunidade perfeita para os estúdios tirarm todos os projetos de adaptação do King da gaveta, como a refilmagem de Cemitério Maldito, Doutor Sono, e as séries Castle Rock e Mr. Mercedes.

A continuação gerou grande expectativa, sobretudo para a escolha dos atores que interpretariam as versões adultas das crianças de Derry. O elenco mirim estabeleceu seu cast perfeito, e o público gostou tanto que o estúdio se aproveitou disso para gerar mais engajamento, contratando a maioria dos atores sugeridos pelas crianças.

IT – Capítulo 2 entra em cartaz nesta quinta-feira (05/09) e promete o retorno do Losers Club para enfrentar outra vez o palhaço Pennywise, que reaparece depois de 27 anos adormecido.

O ponto alto são as interações entre personagens, mantendo a química do primeiro filme, mas em versões já adultas, e isso graças à escolha perfeita de elenco . James McAvoy, Jay Ryan, James Ransone e Jessica Chastain são incríveis em seus papéis como Bill Denbrough, Bem Hanscom, Eddie Kaspbrak e Beverly Marsh. Todos conseguem manter os trejeitos característicos dos personagens do filme anterior, mas exageram em alguns pontos — os pontos certos, aliás, já que é natural desenvolver mais alguns hábitos e cacoetes com ai dade. O destaque fica para o ator Bill Hader interpretando Richie Tozier numaa evolução perfeita, o único com variação de tom, indo naturalmente do humor para o drama. Isaiah Musatafa também entrega uma atuação perfeita como Mike Hanlon, assim como Andy Bean em seu papel de Stanley Uris. Ambos são atores grandiosos, e seus personagem assumem muita importância na continuação.

O elenco adulto tem um visual tão perfeito que mais parece um DeepFake dos atores mirins do que novas pessoas interpretando aqueles personagens, e isso é essencial para que o público saber identificar cada um logo que aparecem pela primeira vez, mesmo sem dizer nada. Mesmo assim, temos algumas cenas com as versões mais jovens na segunda parte do filme, quando os personagens saem em uma jornada individual e precisam se lembrar de quem são através das memórias que esconderam ou viveram no passado.

Essas jornadas são ótimas para aprofundar ainda mais os personagens e seus medos de infância do filme anterior, além de reforçar suas características individuais. O único problema é quando a história cria uma desculpa para um retrocesso desses personagens. Toda a jornada de evolução vista no filme anterior, ao superarem seus medos para vencerem A Coisa, é jogado fora com o pretexto de que esqueceram o que viveram. É como um complexo de Peter Pan, que mais beira a um filme da Mary Poppins do que uma ficção especulativa.

O roteiro do filme foca, assim como o primeiro, na evolução de cada personagem e na interação entre eles enquanto tentam derrotar o palhaço Pennywise, que funciona, mais uma vez, como representação de todos os medos, ainda devorando jovens — e agora também adultos. A história foca no retorno desse antigo nêmesis, que os provoca até derrotá-los. Assim como no primeiro filme, Pennywise usa o valentão Henry Bowers, que desaparece de forma inexplicável a partir da metade do filme, como uma espécie de arma descartável e distração para cansar seus oponentes.

O ator Bill Skarsgard mais uma vez entrega uma atuação impecável como A Coisa, beirando o sádico em alguns momentos, e só de aparecer gera as melhores cenas de suspense do filme. Só que o suspense fica preso nas poucas cenas do Pennywise sem CGI — que infelizmente foi usado ao extremo no Capitulo 2 —  já que a maioria das promessas de susto se resumem a jump scares.

It – Capitulo 2 é um filme honesto, que jamais prometeu entregar além do que entrega, com um elenco que funciona muito bem individualmente e em grupo, além de trazer uma atmosfera perfeita para os amantes de terror. Suas 2h49 de duração estão repletas de medo, suspense, e, surpreendentemente, pitadas de comédia.

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