Crítica: Brinquedo Assassino

Se existe uma – quase – certeza em Hollywood, é que a maioria dos filmes que um dia fizeram um sucesso razoável ganhará um reboot. Alguns tentaram repetir o que o original trouxe, outros se distanciarão para evitar comparações, mas ‘Brinquedo Assassino’ procura atualizar a história para um novo público, mantendo a essência do clássico.

Quando a MGM decidiu realizar um reboot do filme de 1988, a primeira coisa que fez foi procurar a aprovação do criador e roteirista de todos os sete filmes que a franquia original nos trouxe, Don Mancine, que praticamente odiou a possibilidade de um remake. Segundo ele, a franquia ainda estava viva graças ao último filme ‘O Culto de Chucky’, inclusive dirigido pelo próprio Don Mancine – que havia saído em 2017 – e uma série estava sendo idealizada para o canal de tv paga Sci-Fi.

É claro que ainda assim a MGM não desistiu da ideia e prosseguiu contratando o roteirista de ‘King Fury 2’, Tyler Burton Smith e o diretor estreante, Lars Klevberg. O público reagiu negativamente a notícia do remake, gerando inclusive reclamações nas redes sociais vindas de Brad Dourif, dublador original do boneco, e de Jennifer Tilly, a noiva do Chuck. Mesmo assim, essas reclamações diminuíram após o anúncio de que o Mark Hamill, o Luke de ‘Star Wars’, dublaria o personagem principal.

O filme enfim saiu e as diferenças são óbvias. Diferentemente dos dois últimos – e recentes – filmes da franquia, o novo Brinquedo Assassino sabe que a história de um Serial Killer praticando Voodoo para entrar no corpo de um boneco não vende nos dias atuais, dias estes pós ‘Black Mirror’. O filme aposta em inteligência artificial e a decisão não poderia ser mais acertada.

O Jovem Andy ganha de presente da mãe um defeituoso boneco de inteligência artificial, o Buddy. É justificável que nessa versão o protagonista tenha 14 anos, afinal, uma criança não se interessaria por esse tipo de tecnologia. A motivação dos assassinatos aqui são nada mais, nada menos, que uma visão deturpada do que é proteger o Andy, como um relacionamento abusivo. Aliás, essa não é a única crítica aos tempos modernos que o filme trás, já que há também uma cena que mostra obviamente a exploração do trabalho “assalariado” asiático, que beira quase a escravidão.

É bem vindo também o gore que tem voltado à moda no terror, assim como os vários ‘Jogos Mortais’ ajudaram a promover. Existem mortes potencialmente criativas e todas muito bem vindas, já que na história original existe apenas uma e sequer tem sangue. O filme aproveita também o embalo de ‘It’, e ‘Stranger Things’, inserindo um grupo de crianças para ajudar o protagonista Andy.

Quem brilha aqui é o jovem ator Gabriel Bateman, sempre eficiente no que o roteiro pede, e claro, Mark Hamill na voz do Chucky. Ele mesmo já havia se consagrado com dublagem ao fazer, durante anos, a voz do Coringa em séries e filmes animados, mas aqui é muito certeiro em trocar o jeito sádico e quase pornográfico do personagem original na voz do Brad Dourif, para um tom suave, beirando ao creepy.

Com homenagens não só ao primeiro, mas também a todos os filmes da franquia, como acertar no coração, e o humor irônico, ‘Brinquedo Assassino’ se prova uma ótima atualização para tempos modernos, com viés de crítica social e uma diversão agressiva.

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