CRÍTICA: Britney vs Spears: um documentário com oportunidades perdidas.

Britney Spears, a princesa do pop. 

Não importa quanto tempo passe, ou quantas dificuldades ela enfrente, seu título sempre estará no coração dos fãs. Quem cresceu ouvindo suas músicas não apenas as consumia, como queria saber coreografia, e sobre a vida da cantora. Britney conquistou tantos prêmios, hits e coreografias memoráveis que citar todos eles levaria um bom tempo. No entanto, vale a pena falar que ela canta desde os oito anos, fez parte do Clube do Mickey junto a Christina Aguilera e Justin Timberlake, e se aventurou também pelo mundo dos filmes. Mas sua empreitada real foi a música pop. 

Hit atrás de hit: I’m a Slave 4 U, Toxic, Hit me Baby One More Time, Crazy, Overprotected, Me Against The Music (feat com Madonna), Oops… I Did It Again, Lucky, Stronger. A lista continua. E para seus fãs, é fácil até mesmo associar as músicas com seus vídeos. Britney Spears era um fenômeno dirigindo seu próprio caminho. A mulher que toda menina gostaria de ser— apesar dela mesma ser, ainda, uma garota. 

Quando tudo começou, ela era nova demais. Tudo foi cedo demais. E como o machismo impera em Hollywood, até mesmo a imagem virginal dela era vendida. Alguém impossível de se tocar, até o namoro com Justin Timberlake. Ele a atacou em um single após o término, e suas desculpas só vieram quinze anos depois. Andar nos pés de Britney não era fácil, o documentário Britney vs Spears deixou isso bem claro. Era preciso um nível olímpico de dedicação à dança e o canto para manter-se no nível de Britney, no topo. Mas tudo desandou quando conheceu Kevin Federline, seu backup dancer (dançarino de fundo). 

Com ele, Britney teve seus filhos, Sean e Jayden. Para os quais ela aparenta ser uma excelente mãe, os priorizando bastante. Britney, agora aos 39 anos de idade, tenta retomar sua vida. E isso é o tema que deveria preencher a uma hora e meia do documentário Britney vs Spears. Porém, vemos um show de horrores acontecer diante dos nossos olhos. A perspectiva, o instrumental, o uso das câmeras, é tudo muito sensacionalista para um tema tão sensível. A saúde mental de alguém não deveria se transformar em um verdadeiro circo, depois de tantos documentários feitos sobre ela, um atrás do outro. 

Durante o novo, agora da Netflix, descobrimos alguns tópicos que já eram debatidos por quem acompanha a carreira e vida pessoal da cantora: a tutela na qual ela foi colocada não deu poder apenas para que administrasse a vida da cantora, mas seu pai também poderia usar o dinheiro para benefício próprio. Ele detinha direitos até sobre invadir a casa dela e clamar como sua. O segundo detalhe é que ela obtinha ajuda de pessoas fora da sua família; o terceiro e pior de todos é que a justiça sabia do estado de Britney, dos seus pedidos por liberdade, e apenas ignorou.

A repórter responsável pelo documentário chegou a entrar escondida num hotel para que Spears assinasse uma substituição de advogados. Seu namorado na época ajudou a encobrir  o encontro entre Britney e a jornalista.  Foi preciso ação pois ela tinha direitos, e  estes lhe foram negados até mesmo por advogados em sua defesa, e daí surge a teoria documentada, a de que seu antigo advogado, Sam Ingham, colaborou com seu pai para manter a curatela.

Assistir ao documentário não é uma experiência confortável, ele revela detalhes privados da vida dela enquanto dá voz a homens que de alguma forma fizeram parte de sua vida no passado. Ele segue a linha do Framing Britney Spears, lançado pela Hulu— em ambos, Britney é uma personagem na sua própria história. A própria Britney Spears declarou em entrevista que os dois documentários antes dessa versão Netflix a fizeram chorar por duas semanas. Mesmo assim, o documentário foi adiante. E em Britney vs Spears encontramos seu ex-caso e paparazzo Adnan Ghabi. Ainda nele, vemos Kevin Federline, a jornalista Jenny Eliscu (desenvolvedora do documentário e repórter que já entrevistou Britney). 

Também vemos filmagens do lado de fora quando, em janeiro de 2008, Britney se trancou com os filhos em recusa para devolver eles nas mãos de Kevin Federline. O doc também mostra estranhezas no caso dela: demência aparece nos trâmites judiciais, e essa é uma doença que não aparece judicialmente na faixa dos 20 anos (quando tudo começou, ela estava nesse período ainda). Uma das grandes revelações do documentário é que quando Britney Spears foi jurada no X-Factor, foi uma decisão de sua curatela. Ademais, ela recebia doses de medicamentos “estimulantes” nos dias de gravação.

Felizmente, o documentário termina com a voz da mulher silenciada e seu depoimento em junho deste ano, onde ela pede justiça e que a Corte mude sua situação. Seu posicionamento na audiência foi claro e firme, mostrando alguém buscando sua liberdade com unhas e dentes. 

A verdadeira ajuda que Britney recebeu veio do movimento online #FreeBritney, que levantou o olhar de muitos para o que ainda acontecia na vida da popstar. E é particularmente árduo assistir o processo de curatela e que ele teve origem por um episódio dela. Saúde mental é algo que deve ser tratado com delicadeza e empatia, não enclausuramento e controle total da vida alheia. E essa segunda via foi o que aconteceu com Britney Spears. 

“Eu só quero minha vida de volta. Não quero dever nada a essas pessoas.”

É uma fala extraída do documentário, e que pode estar prestes a virar realidade. Dia 29/09/21 ela passa pela audiência que decidirá se o pai continua ou não com direitos de curador.

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