O lançamento do mês de abril de 2021 da Editora Nemo foi Polina, uma hq sobre a vida de uma bailarina que começa a ser treinada por um professor conhecido pela sua exigência. Com essa premissa, acompanhamos os desdobramentos e crescimento da personagem-título e cada atitude que a levará a próxima etapa de sua vida.
Quando conhecemos Polina Ulinov, logo na primeira página, ela ainda é uma criança de seis anos recebendo de sua mãe conselhos como “mesmo que sentir dor, tente não demonstrar”, se referindo a flexibilidade da menina. Em seguida, o tal professor Bojinski realmente testa a elasticidade das crianças que estão realizando o teste para conseguir uma vaga em sua escola. É neste momento que entra em pauta o já famoso: devemos separar a obra do autor?
Mesmo tendo recebido uma série de prêmios, inclusive um Angoulême, Bastien Vivès (Uma Irmã, Gosto do Cloro e A Grande Odalista) é um artista que já causou algumas problemáticas na França, seu país natal. Uma de suas obras, Petit Paul, chegou a ser retirada de certas livrarias após um abaixo-assinado acusando o material de apologia ao abuso infantil. Ao qual Vivès chegou a afirmar que escreve sobre assuntos que o excitam pessoalmente. Após se inteirar de toda a controvérsia, que pode ser conferida na íntegra neste texto do MdM, é difícil não torcer o nariz, no mínimo, para algumas passagens do início de Polina, mesmo a hq não mostrando nenhum tipo de envolvimento entre professor e aluna.
Controvérsias à parte, durante a leitura da hq é preciso ficar atento a passagem de tempo, uma vez que acompanhamos a personagem até sua vida adulta. A arte bastante simplista pode dificultar alguns saltos temporais menores, mas o texto é eficiente em utilizar a vida acadêmica para isso, apontando anos de estudo e testes finais como referência.
Como um todo, Polina se mostra muito mais sobre evolução, descobrimento e ousadia do que sobre dança ou relacionamentos duvidosos. Balanceando momentos banais do dia a dia com decisões importantes que se tornarão ponto de virada, a hq consegue contar uma boa história de amadurecimento e crescimento. O contraponto final entre a atualização e estagnação chega a ser, de certa forma, bonito e inspirador.
Se a hq tem algo a nos ensinar é que é impossível separar o autor de sua criação. O leitor, com suas vivências e experiências, é parte essencial de qualquer arte, afinal é sua observação que dará valor ou não à obra. Saber das polêmicas de Vivès influencia sim na leitura do material e, neste caso, oferece uma nova camada de interpretação. Se isso é positivo ou negativo, fica para cada um decidir por si. O fato é que é difícil ficar impassível diante de Polina.