Beetlejuice traz que o pós-vida é uma bagunça estranha e horrorizada

Beetlejuice está de volta depois de 36 anos! Em Os Fantasmas Ainda se Divertem, depois de uma tragédia familiar inesperada, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia (Winona Ryder) vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente rebelde, Astrid (Jenna Ortega), descobre a misteriosa maquete da cidade no sótão, e o portal para a vida após a morte é acidentalmente aberto. Com problemas em ambos os reinos, é apenas uma questão de tempo até que alguém diga o nome de Beetlejuice (Michael Keaton) três vezes, e o demônio travesso volte para levar ao mundo seu próprio estilo de caos.

ROTEIRO

Como uma sequência de clássicos, é esperado ao menos que uma história seja diferente, sem manchar a anterior e se tornar um fracasso. Fracasso em roteiro é descartado (ainda bem), mas, podemos dizer que de certa forma foi um pouco reciclado. Com o original dando certo, o roteiro feito por Miles Millar e Alfred Gough buscou usar dos mesmos artifícios e deixando, de certa forma, confortável e não inventivo. Um contraponto autêntico no ponto de vista visual e sonoro – que mesmo com outros cenários e figurinos, ainda sim é interessante -, a produção não consegue inovar o roteiro sem deixar as referências ao original em falas, sequências de ação e musicais, e até resoluções de tramas de lado.

Há muitos subtramas que acabam ficando desconexos e até esquecíveis em alguns momentos. Mesmo após 36 anos, muito se aconteceu e eles poderiam ter facilmente focado mais nos personagens principais, sem acrescentar ao menos três novos personagens – sendo um deles, a vilã, e deixando como subaproveitados. Já que estamos falando em confortabilidade, trabalhassem com o que deu certo, sem perder tempo com outros e não fazendo bem-feito.

Cada geração de personagem feminina tem alguma subtrama com uma consequência: Delia, o trauma de perder o marido ao mesmo tempo que procura inspirações artísticas; Lydia, em ter de lidar com seu programa, a pressão do noivo, o luto do pai, a relação fria com sua filha após o falecimento do ex e a volta do Beetlejuice; Astrid pelo ceticismo, sentindo a ausência do pai e não aceitando a separação de ambos – ocasionada pela mãe, e ainda caindo numa cilada ao se apaixonar (lembrando de filmes adolescentes que acontecem a mesma coisa). Beetlejuice também tem o seu arco: de estar sendo procurado por sua ex-esposa vingativa ao querê-lo para completar o ciclo da vida eterna, com a polícia procurando-a.

São tantos desenrolares acontecendo, que fica uma bagunça confusa apressada, mas que, felizmente em cada trama, tem a atuação bem-feita e um humor exótico pela improvisação de cada ator e atriz nela.

PERSONAGENS

Michael Keaton e Catherine O’Hara mantiveram o tom de cada personagem iniciados em 1988. Michael, trazendo Beetlejuice como Chefe do Centro de Chamadas Pós- Vida, muito mais humorístico, mais debochado, mais sagaz com uma presença mais impactante e de certa forma confortante tanto pela nostalgia revivida quanto por atitudes repudiantes que lidava com as mulheres. Mesmo com seus 72 anos vividos, ele ainda tem o mesmo vigor do original e além, ao interpretar um senhor demônio de 600 anos desencarnado.

Catherine O’Hara por sua vez, traz a extravagante e bem-sucedida artista Delia Deetz, que da mesma forma de Keaton, manteve o tom irônico e menos insensível ao dar a vida a personagem – por conta da sua ótima relação com sua enteada e perdas. Ainda digo mais: senti que aqui, ela teve muito mais presença – concebida pela ausência (ainda bem) de Jeffrey Jones.

Wynona Ryder continua sendo a estranha Lydia, mas com algo diferente: não ser aquela Lydia autêntica que víamos no primeiro filme. Por isso, vemos uma versão estranhamente perturbadora da personagem, trazendo uma inquietude em seus olhares, ou de controle da respiração. Mesmo depois de 36 anos, Wynona continua com seu brilho único ao interpretar a Lydia e nos encantando (de novo) com ela, trazendo um amadurecimento ao enfrentar os seus próprios traumas passados ao mesmo tempo devaneios sobrenaturais.

Jenna Ortega agrega nas novidades de elenco da produção. Ela dá a vida à Astrid, filha adolescente de Lydia e com uma personalidade mais cética em relação ao sobrenatural, após ter perdido o pai. Infelizmente, o arco da Astrid, cai nos mesmos genéricos de romances e dramas que sempre vemos: falta de uma figura paterna, tendo consequências da relação com o familiar mais próximo (mãe) e procurando um conforto em outra pessoa – que muitas vezes acaba sendo o “par romântico”. Algo que em muitas histórias de adolescentes acontece. E o que a diferencia de tudo isso? A sua atuação, onde cenas dramáticas precisam de atuações dramáticas bem-feitas e assim vai. Não é a toa que é a queridinha de Hollywood nesse gênero de horror/terror.

Monica Belluci, Willem Dafoe e Justin Theroux são as outras novidades do elenco e subaproveitados.

Começando por Monica, na divulgação do filme, traz ela como uma grande vilã para a produção. Em atuação, Monica se esforçou imenso para que a personagem não ficasse esquecida, mas infelizmente, vai ficar. A vilã ficou apenas na divulgação, pois sua personagem vingativa Delores – uma mistura de Noiva Cadáver com Mortícia, tem um passado com Beetlejuice (que até interessante nesse ponto da história), e aparece pouquíssimas vezes ao decorrer da história. Por ser uma “sugadora de alma”, esperava-se um rastro de mortes, mas não houve, não muito.

Willem é outro exemplo. Seu personagem, Wolf Jackson, no primeiro momento é um investigador que cuida da Unidade de Crimes Pós-Vida, mas que na verdade é um ator canastrão. Por ser ator, toda vez que o personagem aparece, traz os elementos de filme de ação que vimos – algo que achei diferente e bem-feito -, mas que também aparece poucas vezes. Tanto Monica quanto Willem super conhecidos por serem grandes atores, mas uma pena que ambas as atuações “não foram sugadas” o suficiente para aproveitarmos o potencial deles.

Justin, outra novidade, mas é algo a se pensar (um pouco) sobre “ser subaproveitado”. Justin, é mais conhecido pela série The Leftovers, onde protagonizou e em outros trabalhos, eram coadjuvantes. Aqui, não fica muito para trás. Ele interpreta Rory, noivo de Lydia e que fica mais do mesmo a sua participação. Apenas no final da trama, há algo a ser tirado, mesmo assim, é pífio sua participação.

DETALHES TÉCNICOS

Especialidades técnicas foram quase unânimes na produção. Revisitar o mundo dos mortos, com aqueles cenários lúdicos, surrealistas ao mesmo tempo, trazendo elementos grotescos como gosmas saindo de personagens, vários Bobs, cabeças decepadas ou cortadas quase ao meio e da volta do stop-motion em cenas inteiras ou em elementos de figurino. Muito se foi prometido ou colocado entusiasmo com a presença do stop-motion, mas infelizmente, tivemos pouco dessa técnica. Esperava mais, muito mais.

Algo que estava esperando também, era da trilha sonora. No primeiro filme, foi Danny Elfman o responsável pela trilha que vagava com o telespectador entre o mundo dos vivos e dos mortos. Seu retorno foi confirmado, agora com uma trilha um pouco menos ritmada pelos instrumentos de sopro como trompas e trompetes (sem suas retiradas) e aderindo um pouco mais em instrumentos de corda, como violino e corais.

Com os novos cenários, nova história, pudemos comprovar que essa morbidez em volta do Burton pode ser colocada desde o escritório criminalístico, centro de chamadas, uma estação de trem, até uma casa empática ou um Centro de Exposições Moderno. Isso graças à composição conjunta da fotografia, efeitos visuais, composição sonora, figurinistas e maquiadores.

CONCLUSÃO

Como disse Tim Burton em entrevista ao Metrópoles, “Expandimos um pouco [o universo], mas não sentimos vontade de crescê-lo excessivamente”, é exatamente o que se pode resumir o filme. Em diferença ao fator conexão nostalgia, já que são 36 anos nessa brincadeira, Beetlejuice traz quase que uma versão idêntica ao original em sua essência, só que bem mais divertida, bagunçada positivamente e negativamente com vários subtramas confusos e sem o aproveitamento de personagens inéditos. É como se, a expansão dita só atrelasse a alguns dos personagens principais, trazendo apenas um pouco de profundidade a mais em alguns deles.

Beetlejuice Beetlejuice mira na tal fórmula Burton, onde visualmente e sonoramente tudo se consagra, porém ainda sem conseguir equilibrar com novas histórias, que neste caso, ficou sob responsabilidade de Miles Millar e Alfred Gough.

Vale ressaltar também, que infelizmente não tivemos atores/atrizes pretos em papeis principais de novo e se tivermos um, foi muito.

Vale a pena assistir, apesar dos pesares.

Notas: 🪲🪲🪲

Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice estreia nesta quinta-feira (5) nos cinemas brasileiros.

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