CRÍTICA | Shazam: Fúria dos Deuses se sobressaí um pouco diante dos lançamentos, mas cai na mesmisse por ser um filme de super-herói

Com estreia nos cinemas brasileiros, chega nesta quinta-feira (15) Shazam: Fúria dos Deuses, sequência de Shazam! (2019). Com as recentes mudanças na DC (e esperamos que sejam as últimas), esse filme dentre outros – como Aquaman: Reino Perdido, Flash e Besouro Azul – estava incluído na parcela final do DCEU antes desse novo “reinício” do Universo DC (DCU Studios) comandado por James Gunn e Peter Safran. O futuro pode seguir incerto para alguns desses filmes, mas acredito que para Shazam o caminho está claro: ele vai continuar.

Em Shazam: Fúria dos Deuses, agraciado com os poderes dos deuses, Billy Batson (Asher Angel) e seus companheiros ainda estão aprendendo a conciliar a vida adolescente com os alter egos de super-heróis adultos. Quando um trio vingativo de deuses antigos chega à Terra em busca da magia roubada deles há muito tempo, Shazam (Zachary Levi) e seus aliados são lançados em uma batalha por seus superpoderes, suas vidas e o destino do mundo.

Lembrando que o primeiro filme foi apresentado ao público como uma história isolada, concentrada no próprio núcleo (mesmo com referências) e sem precisar saber de milhares de informações ou assistir outros filmes sobre, mas o mais importante era de ser um filme para família, um filme divertido sem pretensões: ser puro entretenimento. A sequência segue o que foi proposto, mas com o roteiro de Henry Gayden e Chris Morgan aprofundando ainda mais a camada do drama e colocando mais comédia. A história fica mais interessante por envolver personagens da mitologia grega que não apareceram nos quadrinhos da DC: as filhas de Atlas: Héspera (Helen Mirren), Kalypso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler).

No primeiro filme, temos uma lição centrada em crianças adotadas também podem ser uma família e terem a chance de serem super-heróis, ou seja, não precisa ser de sangue para você ter uma família. Já o segundo filme lida com duas lições: o de amadurecimento como sair de casa ou ir para faculdade, onde cada um da Shazamfamily tem suas preocupações e seus propósitos – como Mary (Grace Fulton)  que havia completado a maioridade e acabou não fazendo a faculdade para ficar com a família. Eles focaram muito nessas questões com o personagem principal, Billy Batson, pois diante do abandono do pai e da mãe, além de passar por várias famílias que não o “seguraram”, finalmente ele tem uma família que ele se sentiu acolhido e que não quer perdê-la: por isso que quando há algum ato heroico a ser realizado, ou é todo mundo junto ou é ninguém. A segunda lição é que ser super-herói não te faz por conta dos seus poderes, mas pelas suas ações, sua dignidade – uma lição que foi reforçada mais uma vez entre tantos filmes que já abordaram isso. Parafraseando uma fala de Shazam citando o Toretto em Velozes e Furiosos: “É tudo sobre família.”

Mas esse drama familiar não é focado somente em Billy Batson, mas sim nas antagonistas: Filhas de Atlas. Cada uma também enfrenta seus próprios problemas, mas todas têm um fator comum: vingar a morte do pai e aí que vem o problema: cada uma lida com a vingança de uma forma diferente e uma delas foi cegamente afetada, querendo a todo custo que paguem por isso, sem dar ouvidos as irmãs e instalando um caos que toda família enfrenta algum dia.

No primeiro momento, achei a primeira parte achei confusa e acelerada, justamente por conta da introdução das novas personagens em contrapartida com o que a Shazamfamily estava lidando – o que se deve muito pela montagem de cenas. Porém da metade do segundo ato até o final que destrincha o enredo e você acaba entendendo pelo menos uma parte no meio de muita coisa acontecendo. No geral, o roteiro é insuficiente por não trazer uma história além de genérica e cheia de previsibilidades, não dar um desenvolvimento maior para as vilãs e, mesmo com uma profundidade no drama, não conseguirmos criar uma conexão real com os personagens.

O humor também chega a ser um pouco afetado nisso tudo – onde alívio cômico era marca registrada do personagem no DCEU. “Não se levar a sério” teve mais impacto aqui. Há mais comédia, com raras piadas realmente funcionando e outras sem graça (grande parte), mantendo aquele humor imaturo/bobo com algumas tiradas óbvias que servem mais como referência não só dentro do Universo Warner, como Marvel. A família Shazam fez a Pedra da Eternidade como um esconderijo aos moldes da Sala da Justiça Júnior, só que jogos de videogame, televisão, salgadinhos e afins (algo que reflete nos personagens, já que eles não completaram os 18 anos). Achei inclusive legal e menos rebuscado, inclusive com as reuniões que eles têm feito por lá.

Com um budget maior, os efeitos especiais estão à altura entregando um dragão e outros monstros bem-acabados – em específico a cena final. A primeira cena de ação inclusive poderia ser bastante legal por fazer a sacada de usar a música Holding Out for a Hero e ser de salvamento, se não desse uma leve incomodada pela cabeça não ter sido renderizada direito e estar desconexa com o corpo, rs. Em conjunto, temos as cenas de ação, que achei pelo menos melhores e até relembrando algumas lutas que já vimos no antigo DCEU – vai de cada um se é falta de originalidade ou uma “homenagem”.

Agora um ponto que realmente deu uma decaída, foi o desenvolvimento dos personagens. Começando com a Shazamfamily, mesmo com uma profundidade sobre os traumas que Billy Batson teve em sua vida, Asher Angel não teve a oportunidade de demonstrar esse lado e quem mais ficou encarregado foi o Zachary Levi como o super-herói Shazam. Infelizmente, a crítica de atuação que serviu com o The Rock em Adão Negro, serve para ele também: muita caricatura para menos atuação. Apenas nesses momentos de drama do Billy sobre os traumas do abandono e amadurecimento ele se saiu bem, mas ao restante da drama, não. Irônico é que Freddy Freeman, interpretado por Jack Dylan Grazer, tenha sido o ponto forte do filme. Mantendo um pouco do humor (que funciona) do personagem, ele lida com os conflitos entre ele e Billy em razão de querer salvar as pessoas sozinho, sem precisar de toda a sua família para isso. Inclusive Jack parece ter se encaixado no papel de Freddy e ter o carisma do mesmo quando entra em cena, além de entregar nas cenas de drama também sem ter que se esforçar para tal.

Mas Shazamfamily não são apenas em dois, resta ainda os outros quatro: Darla (Faithe Herman/Meagan Good), Pedro (Jovan Armand/D. J. Cotrona), Mary e Eugene (Ian Chen/Ross Butler) tiveram algumas adições em seu desenvolvimento, mas bem, bem superficiais. Darla por exemplo, sabemos que gosta de unicórnios, gatinhos e gosta de um específico chocolate; Pedro vê jogos de beisebol ultimamente para ver os jogadores e é gay – inclusive a forma como foi feita para a revelação foi dentro de uma cena “cômica” e sinceramente, não achei de bom tom -; Mary já tem 18 anos e ainda não foi para a faculdade por conta de ter que ficar com a família – e nada foi feito desde então sobre a vontade da irmã; Eugene é o pior de todos, pois fica subentendido que ele, como super-herói, cuida da sala com diversas portas para dimensões diferentes.

O Mago Shazam, interpretado por Djimon Hounsou, muitas das cenas dividia a tela com Freddy, que juntos faz do público ser conquistado pela simpatia de ambos com maior facilidade – tornando sua cena final querendo mais do próprio Mago.

Já sobre as Filhas de Atlas, as atrizes veteranas Helen Mirren e Lucy Liu, caem sob vilãs sem desenvolvimento – sem termos realmente medo delas, com uma motivação genérica de vingança e cheia de previsibilidades. As atuações infelizmente ficaram um pouco engessadas por conta do roteiro e não vermos o nível alto de atuações que as duas entregam (e sabemos que entregam). Rachel Zegler que interpreta a terceira filha Anthea, não consegue convencer nem um pouco no papel, mesmo que esforçando nas cenas de drama ou pelo menos românticas divididas com Freddy Freeman. A “Fúria dos Deuses” esperava mais, se destacando em apenas uma das filhas – que uau, é a minoria social! Além disso, de existir um arco de redenção e outra que, ao mesmo tempo que não quer magoar as irmãs, quer agir de “forma correta”. Elementos assim que fazem de suas narrativas serem genéricas.

Pelo menos algo de bom das Filhas saiu: a do contexto histórico de mitologia grega. Falando bem resumidamente sobre quem seriam elas na mitologia Grega, as Filhas de Atlas seriam as hésperides, nada mais do que ninfas guardiãs de um jardim: o Jardim de Hésperides. Esse grupo de ninfas eram dividido em dois: o primeiro grupo eram com três deusas que personificam a luz da tarde e ciclo do amanhecer: Egle, Hespera e Erítia e eram filhas de Nix e Érebos. Já o segundo grupo incluía sete delas (Aretusa, Hespéria, Hespéris, Egéria, Clete, Ciparissa e Cinosura) e eram filhas de Atlas com Hespera.

O Jardim de Hésperides era conhecido pelas árvores com maçãs (pomos) de ouro, era povoado de monstros que o protegiam e eram vigiados por um gigantesco dragão, Ládon. A relação entre as Hésperides e o Ládon, inclusive eram muito boas.

Dito isso, as filhas de Atlas do filme basicamente são uma alusão às Hespérides, as ninfas guardiãs do Jardim das Hespérides na mitologia Grega, porém com algumas mudanças em relação aos seus nomes e a seus pais. Eles fizeram uma mistura entre os grupos, mas sem mudar sobre o que seria o Jardim (ou a Semente da Vida), uma parte do objetivo final das Filhas diante da sua vingança.

SPOILER

A adição da Mulher-Maravilha no filme: não espere muito dela, pois há uma pequena participação. Há alguns momentos que ela até poderia ser colocada a mais por conta dela ser responsável de cuidar de museus em seu traje civil, mas foi perdida a oportunidade. Mesmo que a participação dela tenha até sido lógica por ser uma semi-deusa relacionada a mitologia grega, eu achei ser um artifício bem fácil para resolução.

Shazam: Fúria dos Deuses se sobressaí um pouco positivamente diante de vários lançamentos de filmes de super-heróis (levemente fracassados), mas não muito. Os roteiristas pecam em colocar muito elementos e acabam esquecendo da falta de foco, de conexão com os personagens e desenvolvimento dos mesmos e o brilho daquele humor orgânico do primeiro filme tinha. O que muita gente possa ter reclamado do primeiro filme ser muito Sessão da Tarde, possa torcer o nariz e sentir um pouco falta dessa “aura” nesse segundo filme.

Nota: 😠😠😠😠

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