Há 13 anos atrás, neste dia, Avatar era lançado (coincidência ou não) oficialmente nos cinemas. Avatar: O Caminho da Água é a sequência de James Cameron para o ano de 2022. Durante todos esses 13 anos, muitas coisas mudaram como novas tecnologias em efeitos especiais tanto em filmes de super-heróis, filmes de sci-fi e até no mercado de jogos eletrônicos que fazem com que os efeitos especiais sejam muito mais próximos da realidade.
Falar sobre a franquia de Avatar é um assunto que gera divisões tanto elogios quanto críticas negativas em relação ao uso do 3D por ser algo muito inovador na época e agora presente em muitos filmes de forma desnecessária e também sobre a história ser basicamente uma cópia da animação de Pocahontas da Disney – mesmo estúdio, rs.
Mas se colocar a animação de Pocahontas e Avatar no mesmo patamar, podemos citar sobre duas situações como: colonização e white savior.
Não dá para falar nem que é verdade e nem que é mentira, porque se formos falar sobre a animação de Pocahontas e Avatar terem essa base temática sobre colonização, na verdade é um de vários que James cita, então ele fala sobre colonização, sustentabilidade, família e nesse novo filme tem muito mais temas que ele traz para aprofundamento tanto dos personagens quanto da própria história.
Avatar: O Caminho da Água traz um roteiro com temas já abordados no primeiro filme como a colonização, família e sustentabilidade, porém mais aprofundados, como a questão de invasão das terras dos povos nativos, a obrigação da mudança e adaptação de um novo lugar e interesses políticos nos bens materiais daquele lugar.
A questão de a sustentabilidade também retornar como no primeiro filme, não fala só sobre a questão da terra, desmatamento e de que você tem que se preocupar com o futuro do Planeta, mas também explora mais a fauna, a nossa relação com eles e os oceanos, o que seria eles sem a poluição na água causando a morte de tantos seres não só vindouros dele, mas dos povos que necessitam dele. No primeiro filme, Cameron abordava de maneira implícita esses temas, mas nesse segundo, é bem mais explícito, deixando mais direto para o público entender a mensagem que quer ser passada.
Pandora nada mais é, do que seria o nosso mundo ideal se fosse bem cuidado e protegido, com todos vivendo em pura harmonia sem a ganância do homem a ponto de matar e invadir – que há uma cena bem simples sobre o fato dos animais inicialmente matavam por território e depois entrarem em um consenso para que não houvesse mais matança. É exatamente isso.
Um entre parênteses aqui, é que, inclusive não me surpreenderia James Cameron trazer nos futuros filmes sobre aquecimento global, já partindo desse segundo.
Roteiro
A sequência tem míseros 3h10 de duração, então o roteiro é bem mais aprofundado no quesito história e desenvolvimento de personagens do que o primeiro filme, que olhando por agora, foi raso. Tudo bem que o primeiro filme foi basicamente uma introdução de quem eram os Na’vi, como eles agiam, como era a relação deles com ecossistema de Pandora e a mitologia de Eywa, que age justamente para manter o ecossistema de Pandora em perfeito equilíbrio e que todas as coisas retornam a Eywa após sua morte (Eywa não é um ser humano, é uma entidade representada por uma árvore), então é explicável ser raso.
Muitas coisas então são explicadas. O “pós-vida” de Jake Sully (Sam Worthington) depois que virou um Na’vi, que ele mesmo diz que “Quando você entre Pandora, o medo não é de lutar ou enfrentar os moradores de lá, mas se apaixonar por ela”. Um pouco mais da primeira parte do filme é focado nesse pós-vida dele com seus filhos e esposa Neytiri (Zoe Saldaña), a sua nova rotina, os novos costumes, as questões místicas tratadas também como canções, o entendimento de ser um Na’vi agora e respeitar, cuidar e proteger o próximo, além da fauna e flora de Pandora. Além da nova vida de Jake, também vemos um novo tipo de inimigo chegando para invasão do planeta e com ele rostos conhecidos, como o Coronel Quaritch (Stephen Lang), que agora retorna no corpo de Miles, um Na’vi.
Essa primeira parte pegando um pouco da segunda, é bem apresentada para que possamos ter uma conectividade com o que está sendo apresentado naquele primeiro arco. Deixando já uma introdução bem mais interessante, já que queremos saber como um humano acabou virando o que era pra ser seu “inimigo” do primeiro filme e acabou se deixando levar por se apaixonar por ele. Eu gostei bastante e é entendível ser longo para a introdução e o que vem por aí da nova história.
O grande probleminha do roteiro chega nessa segunda parte do filme. O roteiro dá uma penada por ser alongar demais em arcos muito grandes e desenvolvimentos de certos personagens que poderiam ser resumidos e também deixando de serem clichês. Deixa de ser interessante? Não, mas pecou em enrolar muito sobre específicos assuntos que já havíamos entendido de cara que poderia acontecer – e realmente aconteceu. Algo que tinha um grande potencial e que infelizmente caiu no clichê e no previsível.
O interessante nesse arco da segunda parte do filme foi a apresentação do povo do Mar, o clã Metkayina. Tendo como líderes Tonowari (Cliff Curtis) e Ronal (Kate Winslet), a vida é totalmente diferente do que vimos do povo Na’vi, terrestre, lembrando muito as comunidades ribeirinhas daqui do Brasil que grande parte vive no Amazonas – algo que James Cameron já veio ao Brasil, duas vezes, uma em Manaus e outra em São Paulo, revelando que a Amazônia poderia servir de inspiração para um próximo filme. Não duvido ele não ter referenciado mesmo os ribeirinhas, no mínimo. Outra coisa que também percebi é sobre a forma de reinvindicação do clã ao verem um certo tipo de tratamento contra eles: eles mostram a língua. Mas não é somente o “mostrar da língua” que conhecemos, mas sim de forma que grupos polinésios fazem, principalmente quando dançam haka, uma tradicional dança Maori.
O “Caminho da Água” onde o mar não dá seu fim e nem seu começo, ele te dá e te leva, ele fica ao seu redor.- Tsireya
Apresentação do cotidiano dos Metkayinas, a fauna e a flora, superam ainda mais o que vimos do primeiro filme e consegue ser mais emocionante, principalmente, quando é falado sobre os Tulkuns, principalmente em duas cenas da Ronal com um Tulkun: uma sobre vida e outra sobre morte. É bem emocionante. A forma do nado deles sob as águas parecendo enguias, o próprio visual e seus olhos serem maiores e terem um tipo de membrana ocular para regular a entrada da luz na pupila e terem um foco melhor em ambientes de baixa iluminação (mais profundos). Fica ainda mais interessante quando um novo tema por aqui é introduzido: o racismo. É possível falar sobre isso com Avatares? Sim e de uma forma que eu nem tinha pensado: por ser simples e eficaz em falar de mestiços. Racismo e bullying. Temas que não haviam sido introduzidos até então.
Infelizmente o que pecou nessa segunda parte foi realmente na evolução de um personagem e o seu papel durante a nova história do filme, com arcos longos e podendo inclusive, afetando na duração do filme, sendo um pouquinho menos – apesar de eu achar plausível essa duração.
Quando falamos da terceira parte em um filme, ou ele é muito bom ou ele é muito ruim e a responsabilidade fica ainda maior quando tratamos de franquias. Em Avatar: O Caminho da Água, ela não é muita boa ou muito ruim, ela é ótima.
A terceira parte toda não tenho o que reclamar, inclusive há referências que James Cameron obviamente trouxe em relação a um de seus filmes que ele já dirigiu: o então Titanic. Há uma cena totalmente direta ao filme que quebrou recordes em bilheteria, então foi meio que uma homenagem própria do diretor para ele mesmo e também pode ter sido feita aos fãs. Uma coisa bem Rose e Jack (sim). Sem contar com as atrizes que ele trabalhou mais uma vez: Sigourney Weaver e Kate Winslet.
Com um roteiro abordando mais uma vez colonização, política, sustentabilidade, vida e morte com Enywa, a questão de a família ser sempre importante para seus princípios e valores na vida, inclusive sobre proteção de cada um e valorização, o respeito ao próximo de diferentes raças, introdução do racismo e bullying, enfim, temas que não estão nem muito longe do que vivemos atualmente, principalmente durante esses 4 anos de desgoverno no país.
Ah e as cenas de luta são ótimas, muito melhor que o primeiro filme! São bem mais grandiosas e ensaiadas. Nada a reclamar.
Personagens
Gostei bastante do desenvolvimento da maioria dos personagens, sendo da família Sully ou do clã Metkayinas.
Trazer a nova rotina de Jake, em um novo lar e com uma família a ser protegida, trouxe mais camadas ao personagem. A responsabilidade, o seu papel perante aquela família que construiu durante os anos com seus quatro filhos sendo Toruk Makto e também como líder daquele povo e algo que achei uma sacada de ter sido trazida para o personagem: a questão psicológica dele. Por ser um ex-combatente dos fuzileiros navais americanos e ser dispensado depois de uma lesão que o deixou paraplégico, ele ainda havia o estresse pós-traumático sem nem perceber e tornando isso visível ao tratar os filhos homens quando há cenas de luta, os tratando como soldados. Apenas a palavra “senhor” utilizada nas falas, você percebe essa questão.
Pasme: mesmo que Jake Sully era o white savior do primeiro filme, aqui eu senti que Neytiri está de igual pra igual no protagonismo heroico (o que é ótimo). Neytiri inclusive está muito bem desenvolvida – como se já não ficasse melhor. Sendo agora uma mãe guerreira, ela tem uma responsabilidade também maior, cuidar de seus filhos e cuidar do seu povo. Pelo seu lado guerreira, nada mudou. Continua #fodona. Já o seu lado mãe, leva para um lado bem mais emocional e mais empático para o público – mesmo que você ainda não seja uma. Você sente o que ela sente quando algo acontece e torce para que dê tudo certo no final.
A volta do Coronel Quaritch aqui foi algo bem interessante que eu particularmente adorei. Não dá para falar muito sobre ele, mas seu retorno no corpo de um Na’vi chamado Miles já é baita interessante. Ah, e um tema também é explorado em cima dele: a masculinidade tóxica. Enquanto que Jake tem a questão do pós-trauma da guerra e age como um soldado sem ao menos perceber, aqui é o mais bruto: o soldado que pode não ter sentimentos. Mas há que se engane, pois a chegada de um novo personagem quebra isso e infelizmente foi um ponto negativo à trama.
Spider (Jack Champion) é um garoto que nasceu nas dependências dos laboratórios que estavam em Pandora. Ele tem uma amizade com os Na’vi que a gente até lembra um pouco do Jake depois de conhecê-los. Nesse contexto interessante ele não tem essa diferença entre eu sou humano e os povos Na’vi. Mesmo que sejam povos de peles diferentes, povos de costumes diferentes, de religiões e “diferentes visões”, ele mantém um contato, principalmente com Kiri, a filha mais velha da família Sully. No contexto de história, infelizmente ele chega a ter finalidade clichê e previsibilidade por sua inserção no filme – algo que nós já vimos em outros lugares e acaba que a gente fica até com raiva, não só do personagem pela pelos atos e tal, mas porque era algo que tinha potencial e foi totalmente perdido. Pior, infelizmente isso acaba afetando no roteiro e não somente no personagem em si.
Falando em Kiri, ela é uma nova personagem que vai cair no gosto do público, com certeza. A nossa Jean Grey! Brincadeiras à parte, a personagem é interpretada por Sigourney Weaver, que no primeiro filme interpretou a Dra.Grace que acabou morrendo e ficando com Enywa. Ela tem uma importância tremenda ali e com certeza será a próxima protagonista dos futuros filmes, pois ali há muito potencial. Não dá para falar muito sobre, mas ela tem uma relação com a Enywa e ela evolui durante o filme tão organicamente que é maravilhoso.
A adição da Kate Winslet é ótima. Personagem super importante naquele povo do clã Metkayinas e a personagem dela tem um papel muito interessante. Ela tem uma cena muito linda da personagem com o Tulkun. A personagem não aparece tanto, mas quando aparece, é imponente como Neytiri. Ronal se sobressai na voz e não no ato, já Neytiri se sobressai no ato do que na voz, mas claro, não deixando de serem importantes nos dois pontos.
Efeitos Especiais
Não tem como uso do 3D – que é um tema muito polêmico de usar 3d hoje em dia – ele realmente coloca de novo o argumento para baixo, porque quando insere a cenas aquáticas, você vê que o 3D é obrigatoriamente necessário para ser utilizado para você ver como é a vasta a tecnologia que foi feita durante esses anos nessa evolução da tecnologia. As cenas do mar realmente é algo inexplicável.
Mas tem uma tem uma questão de início da invasão do território que chega ser uma coisa meio megalomaníaca, fora de proporção. Não precisava de tanto, sabe?
Trilha Sonora
Uma coisa que eu presto muita atenção em trilha sonora do primeiro filme de Avatar, foi a trilha sonora de James Horner é muito boa.
Nesse segundo filme eu senti falta um pouco da trilha sonora sobressair melhor do que a do primeiro filme. Ela fica em segundo plano dessa vez. A questão de trilha sonora não se sobressaiu tanto quanto o primeiro filme que eu não sei se foi pela imersão do filme que eu tive em relação a ele ou que realmente a trilha não estava bacana. Uma pena.
E falando em trilha sonora não só instrumental, mas a cantada, The Weeknd fez a trilha sonora original e é muito boa! Nothing Is Lost (You Give Me Strenght) é cantada nos créditos.
Conclusão
Eu sou muito fã do do filme Avatar, então não vai ser muito diferente que eu vou falar agora, né? Então assim, Avatar: O Caminho da Água é um dos melhores filmes do ano, só não é o melhor filme do ano porque o desenvolvimento do personagem Spider virou um clichê que acabou respingando na história.
E vale a pena o ingresso se puder ir numa sala 3D vai porque realmente valeu muito a pena. Se você não puder, não tem problema também, por que a história é uma ótima história que só peca nesse quesito desenvolvimento do personagem, mas tirando isso, é uma história ótima história e interessante.
Mal vejo a hora de esperar o terceiro filme! Acredito que já no primeiro filme fala sobre um pouco mais dos Na’vi terrestres, nesse é o povo da água e qual será o próximo povo? O do gelo? Só sei que o último vai ser o povo do Céu, já que James Cameron falou que pretende fechar a franquia com os Na’vi chegando ao Planeta Terra.
Nota:💧💧💧💧
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