CRÍTICA | Mesmo sem muita novidade, ‘My Policeman’ emociona quem souber assistir com o coração

A previsibilidade sempre foi vista com maus olhos por muitos críticos de cinema, já que a surpresa de algo inesperado é sempre bem-vinda em qualquer produção. Vi muitos desses críticos apontarem isso como um dos defeitos de My Policeman, mas preciso dizer de antemão que discordo. É claro que é muito bom ser surpreendido no cinema, sou uma verdadeira fã de plot twists. Mas em filmes como My Policeman, consigo entender e aceitar de bom grado a previsibilidade. Mais do que isso: gosto do conforto que a previsibilidade me deu.

Dito isso, acredito que vou na contramão da maioria, já que o filme protagonizado por Harry Styles tem arrecadado notas baixas em sites como o Rotten Tomatoes ou IMDB. A história contada no filme, baseada no livro de Bethan Roberts é parecida com muitas coisas que já vimos antes: um romance LGBTQIA+, onde os envolvidos não podem ser o que realmente são por conta da sociedade em que estamos inseridos. E, somado ao contexto histórico do filme que se passa na Londres de 1950, esse tema faz ainda mais sentido, onde fazer parte da comunidade te fazia alguém que precisa ser “consertado” ou “ajudado”. Apesar de não trazer nada absurdamente original, o filme traz o que eu elenquei como a melhor qualidade dele, a sensibilidade. 

A sinopse é bem simples. O romance gira em torno de Tom, Patrick e Marion, três amigos que se conhecem na década de 50 e ficam muito próximos de forma bem rápida. Com o tempo, Tom e Patrick demonstram ter muito mais intimidade do que Marion imaginava. Tudo isso somado ao momento em que o filme decorre, onde a homossexualidade é tratada como um crime passível de prisão, os dois devem esconder seus sentimentos e ter encontros escondidos e relações de fachada. 

Em alguns pontos, tenho que dar o braço a torcer. É verdade que as críticas à atuação de Harry fazem sentido. Esse ano, o cantor tem tentado fazer parte do mundo do cinema. Tudo começou em Dunkirk em 2017, depois Eternos em 2021 e agora dois trabalhos seguidos, Não Se Preocupe, Querida e My Policeman. Aqui, o  personagem Tom possui duas vertentes bem visíveis durante o filme, que são a doçura e delicadeza e, em contraponto, a rispidez e a negação. Com relação aos primeiros pontos, Styles se sai bem com seus olhos sorridentes. Já a segunda camada do personagem, não é bem assim. A profundidade do personagem pedia mais do que as sobrancelhas franzidas. Quando chegamos nessa parte, é melhor contar com Linus Roache, que interpreta Tom com idade mais avançada. 

Mesmo que o filme esteja sendo vendido com a imagem de Harry, muito porque o cantor e ator já conquistou uma fanbase muito fiel, deixo o grande trunfo do filme com relação às atuações para Emma Corrin, a Marion de 1950. A atriz conseguiu passar as emoções de descobrir a situação em que estava inserida de maneira brilhante e emocionante. Além dela, quero destacar David Dawson, que interpreta o jovem Patrick. Ambos demonstraram entender seus personagens com clareza e no caso de David, seu carisma deixa o personagem muito mais interessante do que o roteiro tentou fazê-lo parecer. 

Durante todo o tempo que assisti ao filme, além de me deslumbrar com a fotografia belíssima das praias rochosas de Brighton, senti a angústia dos personagens. Tanto do casal Tom e Patrick quanto do sentimento de solidão de Marion. Nos dias de hoje, a liberdade de ser quem quiser evoluiu, mesmo que ainda tenhamos que vivenciar tantos crimes contra quem não quer nada mais nada menos que demonstrar amor por quem ama, independente de quem for. Mesmo com o sentimento de que as coisas são diferentes agora, não é difícil perceber as semelhanças entre a vivência dos personagens do filme e a que temos hoje e é difícil assistir a algumas cenas do filme sem se emocionar. Fica, inclusive, o aviso que algumas delas podem ser até um gatilho para algumas pessoas.

My Policeman não é revolucionário e tem alguns problemas, mas é um filme sobre o amor. O amor velado, que continua presente e muito vivo, mesmo que não possa ser vivenciado na prática. É sobre como o amor e o anseio por uma vida perfeita nos faz tomar atitudes que não tomaríamos. É sobre entender que amar, também é deixar ir, é ser sincero. Que amor não é sobre as aparências. E que às vezes, pode ser muito tarde para deixar essa chama do amor arder de novo.

Em resumo, posso dizer que gostei de My Policeman. Consegui me identificar com alguns personagens e, na minha experiência, o filme é bastante imersivo e não se torna monótono. O fato do roteiro ir e vir do passado não atrapalha, e cumpre seu papel de contar uma história coesa e emocionante. É o tipo de filme para se assistir muito mais com o coração do que com a cabeça.

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