CRÍTICA | Até Adão Negro mudar a hierarquia da DC, o castigo do monstro existirá: o roteiro.

Quem espera sempre alcança e The Rock que o diga! Completando 15 anos em novembro depois de muita luta e paciência para sair do papel e ir para as telas do cinemas, finalmente temos The Rock (Dwayne Johnson) vivendo o personagem título no próximo filme de estreia da DC: Adão Negro.

The Rock há de se comemorar pela sua realização pessoal e profissional, mas apenas a dele mesmo já que o filme possui erros e acertos como qualquer outro filme do estúdio. Porém duas coisas são fatos: terá bastante lucro em bilheteria e que The Rock na Warner Bros Discovery é um bem danado para quem é fã da editora. Vamos ao que interessa…

Na antiga Kahndaq, Teth Adam recebeu os incríveis poderes dos deuses, mas depois de usá-los para vingança e se tornar o Adão Negro, ele foi aprisionado. Quase cinco mil anos se passaram, e o Adão Negro passou de homem, a mito, e lenda à um Deus. Agora libertado, sua forma única de justiça, nascida do ódio, é desafiada por heróis modernos que formam a Sociedade da Justiça: Gavião Negro, Senhor Destino, Esmaga-Átomo e Ciclone.

O gênero de super-heróis foi inicialmente criado para serem blockbusters em trazer entretenimento, deixando a história em segundo plano. Claro que há raras exceções, onde a história se sobressai das páginas de quadrinhos e telas de cinema trazendo não só pautas políticas como pautas sociais como representatividade, um exemplo (e sempre vai ser) é Pantera Negra.

Apesar de serem filmes de adaptações de quadrinhos, muitos fãs acabam achando que são feitos para eles, só que na verdade é para o grande público: aqueles que não leiam quadrinhos e que possam ser “instigados e encantados” por aquele universo.

Mas porque estou falando sobre isso? Porque o filme segue o primeiro propósito de filmes de heróis: serem lucrativos e servirem entretenimento, sem que a história tivesse um aprofundamento ou algum cuidado para realizá-la (beirando até erros de continuidade, aparecimento de capas do nada ou momentos desnecessários).

Infelizmente isso The Rock não conseguiu mudar. O roteiro feito pelo trio Adam Sztykiel em parceria com Rory Haines e Sohrab Noshirvani não conseguiu vingar e trouxe uma história rasa que fizesse com que o espectador não tivesse alguma conexão com ela. Há cheio de clichês desde sua história como vingança, restauro da humanidade com um “arco de possível redenção”, além de frases bem conhecidas desse universo de heróis. Infelizmente isso destoa muito o potencial que o filme poderia alcançar, tornando-o previsível em grande parte. Mesmo que tenham feito uma referência a pautas políticas como o intervencionismo entre Estados Unidos e Iraque (um assunto que eles adoram colocar de alguma forma), tivemos plot twists bacanas.

Em grande parte o ritmo da trama não é apressada e flui conforme a história encaminha, porém chegando no terceiro ato, ela dá uma desacelerada e acaba tornando um pouco maçante de ficar querendo saber como vai terminar.

Dentro da trama, temos uma criança chamada Amon (Bodhi Sabongui), filho de Adrianna (Sarah Shahi) que possui bastante presença chegando a ser desnecessário até certo ponto. É clara a intenção do paralelo que eles quiseram dar entre a importância dela na atual cidade fictícia Kandahq e o passado mostrando a origem de Adão Negro, mas não precisava de tanto. Fora que a utlização de Amon me lembrou muito uma reciclagem de Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer) – o melhor amigo de Billy Batson/Shazam (Asher Angel/Zachary Levi) – quando Billy tinha acabado de ganhar seus poderes e tinha Freddy como uma espécie de “mentor”.

Sim o castigo do monstro retornou: a utilização de filtros laranjas quando temos cenários em deserto ou países do Oriente Médio. Eles insistem em continuar usando, algo totalmente desnecessário e desrespeitoso. Uma produção recente, onde diretores e produção eram pessoas egípcias, fotografia e design de produção foram respeitados foi Cavaleiro da Lua (exceto o fator religião). Não há como negar que não houve uma representatividade, inclusive para o próprio The Rock, sobre ser um anti-herói negro ou Gavião Negro, que foi mudada sua etnia e um ator negro interpretasse (pelo menos)

E continuando a falar sobre o Gavião Negro, eu poderia falar que, faltou um pouco mais de originalidade com o personagem, algum elemento que deixasse o Gavião Negro como único além de sua armadura. Porque eu digo isso? Pois quando o personagem aparece como Carter Hall (nome civil), lembrou muito do T’Challa/Pantera Negra (Chadwick <3) não só pela vestimenta, mas até o formato do símbolo do Gavião na poltrona. Isso é ruim? Claro que não – inclusive acho ótimo o estúdio rival perceber o quão foi e é importante Pantera Negra na cultura nerd. O que me incomodou foi dar mais um toque especial no Gavião, algum elemento deixando-o mais único. Foi um pequeno incômodo que tive com a construção do personagem que o figurinista poderia ter resolvido.

O vilão…Bom, não será surpresa se eu disser que ele não está bem desenvolvido, não é? Para quem não sabe, o vilão é o Sabbac (Marwan Kenzari), um cramunhão que recebe seus poderes de diversas entidades demoníacas. É como se ele fosse o Campeão do Inferno, basicamente. Ele tem sua motivação, mas é bem fraca e só sendo colocado na trama como ponte para o desenvolvimento do Adão Negro. Ele compensa – pelo menos – no visual e nos poderes que realmente dão medo e trazendo uma presença bem sombria na história.

Mas Adão Negro nem é de todo mal assim, ele tem seus pontos positivos que também se sobressaem.

Começando pelas cenas de ação, elas são ótimas. Bem coreografadas, bem violentas (para quem gosta, é um prato cheio), tem uso de slow motion – isso de certa forma nem é ruim, entendível para uma adaptação de quadrinhos; cada personagem tem um destaque quando usam os poderes, cenas bem dirigidas pelo diretor Jaume Collet-Serra (temido Jungle Cruise). Tudo isso combinado a trilhas sonoras ótimas com uma logicidade do uso delas nas cenas.

Mesmo que a história em si fosse clichê, eles utilizaram como base os quadrinhos dos Novos 52 para adaptar e mesmo assim, eles fizeram mudanças na origem dos poderes do Adão, sendo aceitas pela história que foi desenvolvida. Inclusive tivemos alguns easter eggs de possíveis eventos futuros sendo jogados escancarados na tela (…rs).

Com o castigo do monstro do filtro amarelado em cenas do deserto, em compensação o filme é visualmente bem bonito, não só na questão dos cenários, dos figurinos, mas do uso dos poderes nas cenas de ação e os efeitos especiais também. Depois de tantos adiamentos, eles conseguiram refinar as cenas de CGI a ficarem bem boas – claro que há exceções, principalmente no ato final, que deixou a desejar muito em uma cena e me fazendo lembrar (infelizmente) da luta do Superman contra o Lobo da Estepe com CGI tosco em Liga da Justiça.

Como temos o Hugh Jackman nascendo para o Wolverine, Ryan Reynolds como Deadpool ou Henry Cavill como Superman, temos Dwayne Johnson (The Rock) nascido para interpretar Adão Negro. Inegável que esse é o papel da carreira dele.

Tivemos a introdução de um “novo” grupo de super-heróis que foi uma base para a criação do que já conhecemos como Liga da Justiça: a Sociedade da Justiça da América. Com o grupo formado por Gavião Negro (Aldis Hodge), Senhor Destino (Pierce Brosnan), Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo), deu um gostinho para querer ver mais da equipe futuramente, com certeza!

Temos um destaque maior para Gavião e Destino, por serem “mais experientes” da equipe, mas sem deixar o brilho dos mais novos Ciclone e Esmaga (inclusive a química de Quintessa e Noah é muito boa!). A apresentação dos personagens eu gostei bastante e é bem entendível não se aprofundarem tanto na história, mostrando o básico de cada um para o público ter o conhecimento dos poderes. Inclusive, a importância deles na história é comentada e não chega a ser dispensável. Pelo roteiro clichê, infelizmente acaba respingando neles pelo pressuposto de que “heróis não matam, mas salvam” de heróis contra vilões. Sobre a atuação de cada um, não há nada a criticar, muito pelo contrário! Foram ótimas e entregaram bastante.

O outro núcleo composto pelos humanos Adrianna, Amon e Karim não funcionam muito, infelizmente. A Adrianna começa bem, mas acaba se tornando desinteressante e acaba terminando no clichê. Karim é um personagem que está ali para alívio cômico e nem isso conseguiu salvar o personagem, deixando-o completamente dispensável. Agora, o que mais pegou foi Amon, que mencionei anteriormente sobre.

Como um todo, depois de 15 anos contratado para interpretar o personagem título, The Rock deu conta do recado. Claro, esperávamos por um filme melhor por ter tido todo esse tempo para o filme sair do papel, mas deu para segurar bem e não ficar entre os piores filmes do estúdio. Ele entrega divertimento, entrega ótimas cenas de ação e de atuação, uma boa apresentação dos personagens, mas peca no roteiro clichê e raso, caindo na mesmice.

Por último e não menos importante: The Rock presidente da Warner Bros Discovery e fez mais por nós do que qualquer outro. Temos uma cena depois dos créditos.

Nota 👊👊👊

Adão Negro chega nesta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros!

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