CRÍTICA | Thor: Amor e Trovão sendo a tragicomédia romântica rock’n roll da Marvel

Quem diria que o diretor neozelandês Taika Waititi reformulasse um Deus do Trovão durão em outro mais bobo – e bem mais humano. O vingador mais forte recebe seu quarto filme essa semana nos cinemas brasileiros, mas ele não está sozinho.

Além do retorno do rei de Asgard, Valquíria, Korg e Miek, Thor trás sua (nova) equipe atual depois dos eventos de Ultimato, os Guardiões da Galáxia. O que ele não poderia esperar é encontrar com sua ex depois de 8 anos, 7 meses e 6 dias (rs) agora em uma nova… identidade: a de Poderosa Thor.

Vamos a sinopse?

O filme traz Thor (Chris Hemsworth) em uma jornada diferente de tudo que ele já enfrentou: a busca pelo autoconhecimento. Mas sua aposentadoria é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses (Christian Bale), que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda do Rei Valquíria (Tessa Thompson), Korg (Taika Waititi) e da ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman) que, para a surpresa de Thor, inexplicavelmente empunha seu martelo mágico, Mjolnir, sendo a Poderosa Thor. Juntos, eles embarcam em uma angustiante aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança do Carniceiro dos Deuses e detê-lo antes que seja tarde demais.

O que achei sobre

Antes de começar, já deixo como aviso: se você não gostou de Thor: Ragnarok, principalmente do uso de senso de humor exagerado de Taika Waititi, é capaz de você não gostar desse. Um Thor overpower e bobão temos? Temos, mas mais além do que isso, mais humano (coração) do que propriamente sendo um Deus do Trovão (trovão).

Thor: Amor e Trovão é um filme decente feito para o personagem título, com o universo do próprio sendo mostrado e respeitando o arco do mesmo, MESMO com a participação especial dos Guardiões da Galáxia. É uma história que tem um começo, um meio e um fim – além de explicar momentos da história do Deus que não foram feitas até agora.

Falar sobre a linha narrativa do filme é como se você estivesse de frente a uma partitura de solo de guitarra junto com o monitor de frequência cardíaca. Ele é lógico, linear, trágico, romântico, bem-humorado. Você ri, você torce, você se emociona, você mata a saudade, você se surpreende. Esse e o carrossel de emoções que você pode ter ao assistir o filme, mas há momentos que algo se torna inexplicável, exagerado e faltando algo a mais.

O roteiro foi bem escrito e traz uma história bem contida para o filme, sem pontas soltas. Não só teve um roteiro que cumpriu o que tinha que cumprir, mas preencheu algumas questões do arco do personagem que estavam sendo, até então, questionadas.

O filme é uma comédia romântica, mas que dá uma piscada em tragicomédia por conta de questões mais sérias envolvendo amor, perda e dor. Eu poderia até falar que seria o Romeu e Julieta versão Marvel Studios, mas aí eu estaria exagerando demais na comparação com o poeta – ou não, cabe a visão de cada um.

“Amor e Trovão” por mais que estivéssemos pensando no óbvio do que significaria o amor no título, ele surpreende trazendo mais camadas do que é o “Amor e o Trovão”. Não é sobre falar da sua paixão ainda viva pela sua ex-namorada, não. É sobre falar do amor perdido de você mesmo, de encontrar o amor em lugares e pessoas que você jamais imaginaria. É sobre o amor poder te salvar, mesmo o mais durão dos durões. Já viu esse plot em outro filme, certo? A diferença é que aqui ele tem uma lógica para ser utilizada ☹

Algo que achei interessante desse filme é a forma como Taika Waititi e Jennyfer Kaytin contaram a história: ele possui um narrador, como se houvesse uma metalinguagem. Claro que ele não está o tempo inteiro ali, mas é bem condizente ser colocado ali pois ele nos guia do porquê do Thor ser assim ou ser assado. Há três mini-histórias sendo contadas e que se for parar para pensar, é basicamente o começo, meio e fim da história de Thor: Amor e Trovão.

Abordar sobre um assunto sério como o câncer, precisa de certo cuidado, principalmente quando falamos de um filme onde o público-alvo é majoritariamente infanto-juvenil. Você não pode trazer uma pessoa sem cabelos, no hospital, recebendo quimioterapia de uma forma explícita, principalmente quando você está no estágio 4 da doença.

Eles souberam, do jeitinho Marvel Studios, trazer isso visualmente: sem uma Jane Foster careca, com um semblante totalmente exaustivo por várias sessões de quimio e o avanço da doença, trouxeram uma Jane com cabelos, fazendo quimio e com um semblante menos doloroso do que seria a vida real.

O filme é visualmente muito bonito, uma explosão de cores e posso até estar exagerando, mas é o melhor filme do estúdio nesse quesito visual.

Nem tudo são amores

Com uma boa história e bem escrito, isso não quer dizer que não tenha seus arranhões de guitarra.

Thor: Amor e Trovão tem um problema que a maioria dos filmes da Casa das Ideias tem: erro de continuidade e montagem. Isso muitas vezes é por conta da pós-produção que não foi revisada e aqui temos alguns erros de continuidade, principalmente na introdução desse filme. Falando na introdução e juntando com esse erro de continuidade, temos a parte de montagem, que você até fica questionando em como algumas coisas surgiram do nada.

Na questão da montagem, não é tão surpreendente que a Marvel tenha aquela padrão de cenas possivelmente dramáticas seguidas depois de algum comentário ou alguma cena de comédia. Além de que na primeira parte do filme, ao mesmo tempo que é totalmente um stand-up comedy, a montagem fica um caos, deixando até uma certa confusão de onde você precisa olhar.

Na primeira parte do filme, muita gente pode já pegar uma certa raiva pela dose do humor do diretor. É comédia a cada segundo, algo que não surpreende sendo um filme da Marvel Studios e com a mente de Taika Waititi, mas é exagerada demais chegando a ser muito pastelão. A satirizada também vem nos personagens, que além de Thor, se sobressai com Zeus (Russel Crowe) não só com um sotaque meio italiano (vindo de um Deus – que seria Grego), mas com suas ações, bem caricatas.  Além disso, os arcos emocionais, que deveriam ser 100% dramáticos, não são tão assim, por conta desse fator que eles insistem em colocar todos os filmes. Marvel, achei que você poderia ter aprendido sobre isso, mas pelo jeito, quis deixar o filme pastelão mesmo e deixar de ser levado à sério.

Há personagens que não tem nenhum desenvolvimento e estão estagnadas da mesma forma que os antigos filmes anteriores. Podemos citar a Valquíria por exemplo, que não é retratada como o verdadeiro Rei de Asgard e a gente até se pergunta: ela é mesmo o Rei?

Falando em Asgard, o reino dos Deuses, é um mero Asgardland aqui. Asgard é um lugar perfeito para turistas, com teatro, tour pelos elementos mitológicos, ponto de referência para as fotos, onde os próprios asgardianos se tornam meros funcionários do próprio lar, o que é uma vergonha. É aquilo, “Asgard não é um lugar, é o povo” e realmente se formos seguir a ferro e a fogo, o lugar de Asgard poderia ser nas ruas, com o povo sendo o morador de rua.

O temido CGI que ultimamente está sendo bem comentado sobre as produções do estúdio. É, aqui não foge muito disso também. Na primeira parte do filme, é bem perceptível e chega a ser grotesco, infelizmente. Porém, melhora ao decorrer do filme, o que é ótimo.

Infelizmente algumas trilhas de Michael Giacchino, bem estilo rock’n roll, não se encaixam com algumas cenas e destoam do momento, mas é bem legal em pensar de um filme do Thor ter esse tipo de melodia e não algo mais clássico, com canto lírico. Aqui, a ópera, é de rock.

Personagens

No começo do filme, temos já a introdução de Gorr, o Carniceiro dos Deuses. A origem foi mudada, tanto do gênero de seu filho (que agora é filha), como a aparição dos Deuses que Gorr viu lutando. A motivação de Gorr ao decorrer do filme, também teve uma camada acrescentada inesperada – e é bem, bem legal.

O vilão não é muito diferente do que já vimos do estúdio: ele é bem caricato, tem o seu arco emocional por conta da sua família e toda a questão da adoração dos Deuses, para no final ter seu arco de redenção. Infelizmente ele não é retratado como o Carniceiro dos Deuses, mas um açougueiro. Dentro do parâmetro final do personagem, eles tiraram um elemento que será utilizado futuramente nas produções do estúdio. Foi algo meio sem sentido olhando por fora, mas dentro da história, pode “ser até aceito” diante do que foi apresentado para nós.

A atuação do Bale é convincente e consegue entregar a agonia, dor que o personagem precisava. Zero surpresa, já que quando se trata de personagens vilanescos, parece ser fácil para o ator se sair muito bem.

A participação dos Guardiões da Galáxia não está muito diferente em desenvolvimento de personagem e contribui para a situação atual que o Thor se encontra: perdido em si. Eles só ocupam a primeira parte da história e mata a saudade de quem ama a equipe galáctica. Peter Quill pelo menos, já encontrou a sua família, mas o Thor…

O Thor possui um desenvolvimento de tudo o que ele passou e chegou até onde chegou: um Deus bobo que está ali para cumprir tabela de Vingador em ajudar as pessoas, mas sem ter o verdadeiro propósito, estar ali ajudando as pessoas e se preocupando com elas – sem ter piadas no meio. Depois das muitas perdas perdidas em sua vida, uma hora a conta chega de não querer mais ser tão responsável assim.

Ao decorrer do filme, já começamos a reconhecer um outro Thor: menos bobo, mas com um certo senso de responsabilidade e amar o que está fazendo. Nós ficamos alinhados com o que ele passou e está passando na sua vida. Muito disso, do coração amolecido (que não é algo negativo), se deve a uma outra pessoa que passou a “fingir” ser ele. Era Jane Foster, só que agora, como a Poderosa Thor. Chris Hermsworth está ótimo e dá para perceber que ele se diverte bastante com esse Deus do Trovão menos classudo.

Confesso que algo que estava me preocupando muito era o arco da Jane. Não só pelo fato de como eles iam trazê-la de volta por esse tanto tempo, mas retratar a situação dela, agora com um câncer agressivo. E agora entendemos o porquê de Natalie Portman voltar.

Grande parte dos arcos emocionais do filme são da Jane Foster. A astrofísica lidando com as sessões de quimio, com o câncer se espalhando pelo corpo e em como lutar até o fim para achar a sua cura. Em contraparte, temos a Jane como Poderosa Thor, lutando contra Monstros das Sombras, querer ajudar de qualquer jeito o outro alguém, em como derrotar o primeiro vilão.

Chega em um momento em que as duas identidades se mesclam e tornando ainda mais emocionante, pela luta interna da Jane e pela luta externa da Poderosa Thor em derrotar Gorr. É corte seco, jogo de câmera, trilha sonora, a fotografia mais densa quando a doença “se manifesta”.

Para quem conhece a história da Poderosa Thor, sabe como isso acaba. A personagem poderia ter mais tempo de tela? Poderia sim, já que ela rouba todas as cenas que está, mas poderia ser pior e ter menos tempo de tela e não trazer um arco bacana para ela.

Além da forma menos agressiva visualmente do câncer, Taika traz vários pingos nos Is sobre a relação de Jane e Thor, do porquê de ser tão importante para ambos.

E é inegável a química que Chris Hermsworth e Natalie Portman tem em tela quando os personagens aparecem, mas uma coisa é certa: os antigos filmes podem não ser muito bons, porém os personagens do universo do Thor são bem queridos no público. Natalie fez uma atuação maravilhosa nessa transição de Jane para Poderosa. É uma diferença gritante comparado aos outros filmes da atriz.

A Valquíria, Rei de Asgard, infelizmente foi prejudicada nesse filme – de certa forma. Ela não é colocada como verdadeiro rei e voce acaba percebendo isso em uma cena específica, quando Thor, ex- Rei de Asgard, tem mais voz ativa que ela. A Valquíria não tem desenvolvimento, ela está estagnada do mesmo modo que foi Thor: Ragnarok.

Algo que é novo e que muita, muita gente vai gostar é a interação com a Poderosa Thor, tornando a segunda melhor interação do filme (a primeira é Thor e Jane). Num mundo ideal, poderíamos ter uma série das duas. Como? não sei. Mas que venderia uns dólare$, venderia. Tessa Thompson como sempre brilhando e muito carismática.

O filme possui participações especiais de antigos e novos personagens futuros (inclusive de um que ninguém mencionou ou teorizou, mas uma semente foi plantada – e foi LINDO).

Conclusão

Contudo, Thor: Amor e Trovão é um filme que entrega diversão com certeza (zero surpresas), cenas boas de ação, uma explosão de muitas cores, mas também equilibra com uma história mais contida e emocional, não só pela Jane Foster, mas também pelo Thor. Tem os seus arranhões que se sobressaem no filme e muitas questões inexplicáveis sobre o que eles podem fazer daqui pra frente.

O Amor e o Trovão podem andar juntos. Mesmo que tenha caminhos tortuosos que você precise passar, você vai vencer de alguma forma, basta não se perder de si mesmo.

Nota ⚡️⚡️⚡️⚡️

(os: tem duas cenas pós-créditos de surpresa e tristeza)

Thor: Amor e Trovão estreia essa quinta-feira (7) nos cinemas brasileiros.

Você também pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *